Jorge Lima e Joaquim Vilas Boas são de Barcelos e viram-se ambos confrontados com uma situação insólita: os seus reboques agrícolas, que nunca saíram das suas zonas de residência, foram multados em França por excesso de velocidade. São casos de matrículas duplicadas. Apesar da evidente impossibilidade, demonstrada nas contestações com fotografias e documentos, as autoridades francesas continuam a exigir o pagamento das multas que já ascendem a centenas de euros, mas os proprietários garantem que não vão pagar por algo de que não têm qualquer culpa.
Jorge Lima, 47 anos, é da freguesia de Adães, onde foi recentemente eleito presidente da Junta. Trabalhador independente na área da construção civil, possui um terreno agrícola no qual trabalha “por gosto” e como “distração”. Por causa desse hobby tem um trator agrícola para o qual comprou um reboque. Que nunca chegou a utilizar. “Comprei-o, coloquei-o aqui para quando precisasse, mas nunca o usei”, conta a O MINHO.
Por isso, foi com enorme “espanto” quando, em junho deste ano, recebe uma carta de França por uma contraordenação cometida no dia 08 daquele mês, por seguir a 69 km/h numa via em que o limite era 50 km/h. “Fiquei abismado”, recorda.
“Um dia há um acidente, matam alguém e eu é que sou condenado”
Entretanto, já contestou a multa com fotografias do atrelado, evidenciando a impossibilidade da ocorrência, mas as autoridades francesas “não aceitaram a contestação em português”, exigindo que seja feita “em inglês, alemão, italiano ou francês”, o que Jorge Lima está agora a fazer.
Entretanto, a multa que começou em 90 euros já vai em 375, mas o presidente da Junta de Adães vai fincar o pé e recusa-se a pagar: “Ficava-me mais barato pagar os 90 euros logo de início e encerrava o assunto, mas não vamos ser parvos, porque um dia qualquer há um acidente, matam alguém com esta matrícula, e eu é que sou condenado sem culpa nenhuma”.
Apesar da convicção de que não vai pagar por algo de que não tem culpa, a inusitada situação não deixa de atormentar Jorge Lima: “Uma pessoa vai para a cama e não dorme, isto mexe com a pessoa, é chato”.
“Estou indignado com esta situação toda”
Joaquim Vilas Boas, de 54 anos, é empresário de floricultura e reside em Mariz, onde tem a sua exploração e de onde jamais o seu reboque agrícola saiu. Em maio deste ano foi confrontado com uma multa por excesso de velocidade em França.
Pediu à justiça francesa as fotografias da viatura multada, mas só as mandaram em final de outubro. “Trata-se de um camião Scania cuja galera tem a matrícula do meu reboque agrícola”, dá conta a O MINHO.
“Eu não tenho nada a ver com o assunto e estou indignado com esta situação toda”, enfatiza, dando conta de que a multa era referente a uma velocidade de 88 km/h numa zona onde só era permitido 80 km/h.
Contestou a multa, explicando que era um reboque agrícola, anexou fotografias e declarações de vizinhos garantindo que o mesmo nunca saiu de Mariz. De nada valeu: “Tudo isso foi ignorado e fui condenado por um tribunal francês a pagar 481 euros. Estou indignado”.
Joaquim Vilas Boas garante que não vai pagar porque não tem “nada a ver com o assunto” e, em nome da razão, vai “até à última circunstância”.
Uma vez que a viatura multada é um camião e a sua é um reboque agrícola, acreditou que seria uma situação “fácil de resolver”. Porém, enganou-se: “Tirou-me algumas noites sem dormir. Quem paga consente e eu não vou pagar. Mas é lamentável andar um camião lá foram em França com a matrícula do meu reboque agrícola, podendo ter acidentes ou matar pessoas, e poder vir a ser eu responsabilizado”.
Sobre a coincidência de esta situação acontecer com dois reboques agrícolas no mesmo concelho, o empresário de floricultura desconfia que poderá tratar-se “de fraude, de ser alguém que anda para aí a copiar matrículas”.