Escola de Barcelos proíbe telemóveis: “Ambiente completamente diferente. Os alunos convivem”

Foto: Lusa

A Escola Básica Integrada (EBI) de Fragoso, no concelho de Barcelos, proibiu, este ano letivo, os alunos de utilizaram o telemóvel no recinto escolar. A medida foi aplaudida pelos pais e acatada pelos estudantes, do 1.º ao 9.º ano de escolaridade. Um mês volvido, o diretor, Manuel Amorim, faz um balanço muito positivo: “Sente-se um ambiente completamente diferente. Os alunos convivem”.

A iniciativa de proibir totalmente os telemóveis na EBI de Fragoso surgiu devido à “quantidade de ocorrências que houve durante o ano letivo transato”, como “miúdos que tiravam fotografias nos balneários e publicavam” e “ameaças nas redes sociais”, conta Manuel Amorim a O MINHO, salientando que algumas das situações acabaram mesmo com “queixas no Ministério Público”.

Por isso, a escola decidiu, no início deste ano letivo, “fazer a experiência e ver qual seria a recetividade por parte dos encarregados de educação”.

Da parte dos pais, “a recetividade foi a melhor possível e, do lado dos alunos, até agora não tem havido problema absolutamente nenhum”, garante o diretor da EBI de Fragoso, que incluem os três ciclos do ensino básico, com crianças entre os seis e os 14 anos.

Não há controlo, mas alunos cumprem

Manuel Amorim nota que a vivência no recinto escolar mudou radicalmente, para melhor: “Sente-se um ambiente completamente diferente. Os alunos convivem, estão sentados nas mesas do bufete a conversar, a jogar, a brincar, coisas que não se viam até agora. [Antes] cada um estava no seu telemóvel, a pensar nas suas coisas. Logo no primeiro dia, após a receção, estavam todos sentados nas escadas a conversar uns com os outros, o que não se verificava em anos letivos anteriores”.

E há algum controlo à entrada? “Não fazemos controlo absolutamente nenhum”, apenas “foi pedido aos alunos que não tragam os telemóveis”, responde Manuel Amorim, garantindo que todos têm cumprido a regra.

No entanto, há punições: “Se forem apanhados dentro do recinto escolar com o telemóvel, da primeira vez, vão ficar sem ele e só será entregue aos encarregados de educação; da segunda vez que sejam apanhados, não será mais entregue até ao final do ano letivo”.

Pais aplaudiram de pé

Estes procedimentos foram colocados no regulamento interno e têm sido cumpridos. “Até agora nenhum aluno foi apanhado com o telemóvel”, garante o diretor, acrescentando que a escola até tem “posto música nos intervalos para os miúdos poderem conviver”.

“Está a correr muito bem. Estávamos um bocado apreensivos, mas foi completamente pacífico”, observa Manuel Amorim, salientando a importância de os encarregados de educação terem concordado com a medida.

“No dia da receção com os encarregados de educação, quando anunciámos [a medida], pensávamos que íamos ter bastante reclamação, mas, pelo contrário, toda a gente se pôs a pé a bater palmas. E os alunos aceitaram perfeitamente, mesmo os que eram completamente viciados no telemóvel agora convivem com os colegas, sem problema absolutamente nenhum”, vinca o diretor.

Na sala de aulas, “todos os alunos agora têm computador oferecido pelo Ministério da Educação, pelo que não se justifica a utilização do telemóvel”. E no caso de alguma urgência, os pais podem contactar os filhos através do telefone fixo da escola.

“A única coisa que queremos é que os alunos sejam crianças. Para serem crianças, têm que conviver, têm que brincar e não estarem amarrados um dia inteiro ao telemóvel em todos os intervalos, porque não é assim que vão conviver. Têm que conviver e cada vez conviviam menos”, conclui Manuel Amorim.

Ministro da Educação pediu parecer

Recentemente, o ministro da Educação, João Costa, afirmou ter pedido um parecer ao Conselho das Escolas sobre o uso de telemóveis dentro dos estabelecimentos de ensino por se tratar de um “tema complexo” e para não decidir de “forma intempestiva”.

“Acho que é um tema complexo e porque é complexo nós precisamos do saber de quem sabe, em particular dos professores e das direções [das escolas] que estão no terreno e, por isso, é que pedi este parecer ao Conselho das Escolas para não decidir por achismo ou de alguma forma intempestiva”, afirmou João Costa no VIII Encontro Internacional sobre Inovação Pedagógica SUPERTABI 2023, na Maia, distrito do Porto.

Assumindo não ter uma “posição definida” sobre o assunto, o governante vincou, contudo, não ser “adepto da proibição, mas mais adepto da promoção de hábitos saudáveis”.

João Costa considerou que o telemóvel é também um recurso didático, preocupando-o, no entanto, o aumento de “algumas questões de segurança e de `cyberbullying´”.

“Aquilo que me preocupa, dizendo assim, é quando estou em escolas e vejo às vezes nos intervalos que os alunos não falam uns com os outros, estão todos com os olhos postos no ecrã”, frisou.

E acrescentou: “Preocupam-me algumas questões de segurança e de ‘cyberbullying’ que tem aumentado”.

 
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