ARTIGO DE OPINIÃO
Vítor Oliveira
De Guimarães para o País.
Não há memória da incógnita ser, até ao momento, a vencedora das sondagens para umas eleições legislativas. Há resultados diversos e, até ao fim da campanha, outros estudos de opinião diversificados vão igualmente sair ainda.
Em comum, as sondagens têm uma variável que os candidatos têm de se preocupar: os cerca de 20% de eleitores indecisos. Todos os inquéritos demonstram (ainda) essa indefinição. Com uma larga maioria da população habitualmente alheada da dialética política, não há memória dos debates televisivos terem tido tantas audiências como se tem verificado em 2024.
Porque as pessoas querem ser esclarecidas, querem saber o que projetam para o seu futuro. Porque têm ouvido mais ruído truculento do que ideias e propostas. Porque querem votar em consciência. Porque ouve-se na rua que, por ora, ainda não decidiram o sentido de voto.
E, talvez por isso, todos saibamos que hoje à noite se realiza um debate às 20:30 horas, que pode determinar a tendência de voto de muitos cidadãos. Não julgo que seja decisivo, até porque ainda faltam três semanas de campanha, mas acredito que possa contribuir largamente para cimentar uma posição eleitoral de quem ainda espera ser convencido.
Fala-se em voto útil, já se realizaram 27 debates, mas contam-se pelos dedos das mãos aqueles que foram férteis em informação útil para o cidadão-eleitor. O modelo adotado para cada debate tem permitido apenas 30 minutos de discussão e horas infinitas de análise aos debates, num modelo de entretenimento onde os comentadores têm a bondade de explicar aquilo que acabamos de ver e ouvir.
Apesar dos temas terem sido pouco aprofundados, sabemos que os debates são em português! Gostamos de saber o que pensa este ou aquele comentador. Normalíssimo. O que anómalo é assistirmos a análises de alguns deles, em que se limitam a prolongar a argumentação do seu preferido no debate, querendo convencer que foi ele o vencedor.
Muda-se de canal. Ouve-se o contrário do que se dissera ali e completamente oposto do que se defendera numa outra estação. O modelo do “debate-espetáculo” para entreter claques parece ter vindo para ficar… nestas eleições! Não acredito que seja diferente, mais logo, no Capitólio, após os 80 minutos de debate previstos entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro.
Por vezes, a linguagem não verbal e os comportamentos corporais comunicam (muito) mais. Saibamos “ler”, “ouvir” e “ver” na primeira perceção e, sobretudo, ter a nossa capacidade de análise apurada, hoje e no dia 10 de março. Porque não “são todos iguais”. Não são. Há ainda quem esteja em espírito de dever público e com sentido de missão. Podem ser poucos. Mas ainda há.