Desmantelamento de parque infantil gera indignação em Braga. Câmara alega falta de segurança

Autarca critica “falta de diálogo e democracia musculada”

A Câmara de Braga desmantelou, ontem, um parque infantil na Rua Comunidades Lusíadas, em São Victor, ato que justifica com o facto de não ter condições de segurança para ser frequentado por crianças e no quadro de uma política municipal de “passar a ter menos mas melhores e maiores parques infantis”.

A ação, feita com proteção da Polícia Municipal, motivou já queixas de alguns moradores e do presidente da Junta Ricardo Silva, o qual, na rede social Facebook, acusa o Município de não saber dialogar com os moradores e de “democracia musculada”.

Contactada por O MINHO, a vereadora Olga Pereira disse que o termo do parque foi discutido, em tempo útil, com o presidente da Junta e com um grupo de moradores, neste caso chamados ao seu Gabinete: “Falei com Ricardo Silva que em nada se opôs à medida e ficou de a explicar aos residentes. E, a estes, disse-lhes as razões do termo da estrutura – uma delas o pequeno número de crianças na zona – e sugeri-lhes o arranjo do local, com a colocação, por exemplo, de uma mesa de pingue-pongue, um mini-golfe, ou outro pequeno equipamento”.

Salienta que os residentes – que lhe enviaram uma petição contra a medida – não responderam, pelo que, e como já passaram vários meses, se avançou para a demolição. “Antes de mais, disse-lhes que o espaço não tem condições e que pode haver um acidente, com as consequentes responsabilidades da autarquia. Mas expliquei-lhes, também, que a manutenção dos parques é demasiado onerosa para o Município”, sublinhou.

Demolir 17 parques

A vereadora, que tem o pelouro dos equipamentos municipais, havia já anunciado que viria a reduzir, por haver “excesso”, o número de parques, 257 ao todo, dos quais 17, para já, serão desmantelados. O rácio é de 104 crianças por parque, quando os estudos indicam que a média ideal andará pelas 500, salienta.

A autarca salienta que há parques diminutos e com quase nenhuma estrutura e que, por isso, não são utilizados pela população e sublinha que há zonas com estruturas destas a mais e outras sem nenhuma: “Há, por exemplo, uma união de freguesias com 15 parques e outras freguesias sem nenhum”.

Nove milhões por ano

Acentua que a manutenção dos 257 parques custaria ao Município nove milhões por ano, devido a exigências legais como a da vistoria diária de todos eles. “Esta despesa é incomportável com um orçamento como o nosso”, sublinhou.

A vereadora contraria a ideia – e as críticas surgidas a propósito – de que o desmantelamento de alguns parques prejudica a população. “O que precisamos é de parques requalificados, com qualidade e com segurança para as crianças e não de estruturas sem condições”, disse, garantindo que, no final do processo de diagnóstico, daqui a meio ano, as crianças, e as suas famílias, ficarão melhor servidas em termos de estruturas adequadas aos seus tempos de lazer.

Falta de diálogo, diz a Junta

Num ‘post’ a propósito, o autarca de São Victor diz que “na ausência de saber dialogar com os cidadãos e instigar a uma verdadeira participação nas opções da cidade, a Câmara usou a democracia musculada e enviou uma equipa técnica desmontar um parque infantil, resguardada por agentes da Polícia Municipal”.

“A Câmara Municipal decidiu unilateralmente o desmonte do parque, não quis falar com os moradores no local, para aferir a sensibilidade destes, relegando decisões de terreno para conversas de gabinete”, critica, dizendo que, “após isso, promessas de requalificação do espaço sem tempo definido e sem ter havido qualquer apresentação de propostas para o espaço que fica, a partir de hoje, vazio”.

E, prosseguindo, afirma: “A Câmara não tem um Vereador para vir ao terreno falar com a população, mas tem, pelo menos, cinco agentes da Polícia Municipal que são obrigados a cumprir ordens de manter afastados os cidadãos”.

Diz, ainda, que o Município “foi pela opção mais fácil e desmontou um parque infantil, após décadas a negligenciar a sua manutenção”.

Críticas “demagógicas”, diz vereadora

Na opinião do autarca, eleito como independente, “os Orçamentos Participativos e Capital Europeia da Democracia são entretenimento de quem não tem argumentos para falar com a população…aquela mesma população a quem os políticos andaram a dar beijinhos e a pedir o voto uns meses antes. Não há confiança nesta política, porque os políticos não são de confiança”.

E a concluir: “Amar e Servir Braga é ter a capacidade de dialogar e explicar aos cidadãos as opções da cidade. Nós estamos dispostos a honrar o compromisso de Amar e Servir Braga”.

Sobre as críticas de Ricardo Silva, Olga Pereira diz que “são demagogia”, acusando-o de ter “uma agenda política e pessoal própria”.

 
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