O deputado António Maló de Abreu justificou hoje a sua saída do PSD e da bancada social-democrata por não se rever na estratégia da direção do partido e “na inação” da liderança da bancada, nomeadamente quanto às comunidades portuguesas.
Numa nota escrita enviada à Lusa, o deputado explicou, com mais detalhe, as razões que o levaram a informar a restante bancada que transmitiu ao secretário-geral que deixará o PSD, após 40 anos como militante, e ao presidente do grupo parlamentar social-democrata que passará à qualidade de não inscrito no que resta da legislatura.
“Fundamentalmente e verdadeiramente importante, não me revejo, de todo, na estratégia e na forma de se organizar o partido e de agir da sua direção. E não me revejo nas suas propostas em áreas sensíveis da governação”, refere o deputado.
“Assim como não me revejo na organização da direção do grupo parlamentar do PSD e na sua inação relativamente, nomeadamente, às comunidades portuguesas – a quem devo justificações, porque por ter sido por elas eleito”, acrescenta.
Maló de Abreu recorda que, em 2022, foi cabeça de lista do PSD pelo círculo eleitoral de Fora da Europa, salientando ter sido o único em que o PSD, “concorrendo sozinho, venceu”.
No entanto, lamenta que “sendo o único deputado do PSD eleito pela diáspora portuguesa” nunca tenha sido convocado para participar em qualquer reunião do Secretariado das Comunidades Portuguesas do partido, apesar de o integrar como deputado do PSD eleito pelos Círculos da Emigração, como determinava um regulamento interno aprovado pela anterior direção liderada por Rui Rio em 2018 (e que integrou como vogal).
“Enquanto deputado, solicitei repetidamente que o grupo parlamentar do PSD tomasse a iniciativa de promover, em plenário, um debate sobre a situação das comunidades portuguesas. Apesar de repetidas concordâncias, tal nunca se verificou, pelo que constato a falta de vontade política de o fazer, revelando assim – e de facto, um profundo alheamento, quando não desprezo, pelo assunto e pelos problemas dos nossos compatriotas da diáspora por parte da Direção do GPPSD. Ou por outro obscuro motivo, talvez pessoal, que desconheço em absoluto”, lamenta.
Na nota, o deputado reitera a mensagem transmitida aos restantes 76 parlamentares do PSD, dando conta da suspensão definitiva da militância, e da comunicação, quer ao líder parlamentar quer ao presidente da Assembleia da República, que passará à condição de deputado não inscrito no que resta da XV legislatura.
“Sei bem que tão drástica decisão pode ser incompreendida ou mal interpretada. Mas é da vida – e é da minha vida, nunca abdicar dos meus valores e princípios. Nem entregar a outros, decisões que só a mim me cabem, por muito fraturantes e dolorosas que sejam”, refere, numa mensagem enviada na véspera do último plenário da XV legislatura, que se prolongará até ao início da nova, após as legislativas de 10 de março.
Na mensagem, o deputado, que exerce funções de presidente da Comissão de Saúde na atual legislatura, diz que esta foi uma decisão pessoal, tomada “sem ouvir quem quer que seja, na solidão interior a que os momentos importantes e as situações de rutura” na vida e percurso pessoal exigem.
Na sequência da demissão do primeiro-ministro a 07 de novembro, o Presidente da República anunciou que iria dissolver o parlamento no próximo dia 15 de janeiro e convocar eleições legislativas antecipadas para 10 de março.
O Conselho Nacional do PSD reúne-se na próxima segunda-feira para aprovar as listas de candidatos a deputados, estando a decorrer esta semana as reuniões entre as estruturas distritais e representantes da direção.