A Comissão Europeia avisou hoje que um eventual corte do fornecimento de gás pela Rússia à Europa no inverno, com consequente aumento dos preços, poderia “pressionar mais a inflação e asfixiar o crescimento”, admitindo “riscos” económicos.
Nas previsões macroeconómicas de verão, hoje divulgadas, o executivo comunitário avisa que “os riscos para a previsão da atividade económica e da inflação dependem fortemente da evolução da guerra e em particular das suas implicações para o fornecimento de gás à Europa”.
“Os novos aumentos dos preços do gás poderão impulsionar ainda mais a inflação e asfixiar o crescimento” do Produto Interno Bruto (PIB), acrescenta a instituição.
Numa altura em que se assinalam quase cinco meses da invasão russa da Ucrânia e em que os preços batem máximos, especialmente ‘puxados’ pelo setor energético, Bruxelas atualiza então as previsões económicas de verão com um cenário de abrandamento económico e de alta inflação, mas rejeitando recessão.
Salientando que “os riscos permanecem elevados e dependentes da guerra”, a Comissão Europeia admite que uma rutura no fornecimento de gás teria efeitos secundários que poderiam “amplificar as forças inflacionistas e levar a um agravamento mais acentuado das condições financeiras que não só pesaria no crescimento, como também acarretaria riscos acrescidos para a estabilidade financeira”.
Ao mesmo tempo, “as recentes tendências descendentes dos preços do petróleo e de outras matérias-primas poderiam intensificar-se, provocando um declínio da inflação mais rápido do que o atualmente esperado”, lembra.
Além disso, “não se pode excluir a possibilidade de que a pandemia ressurgente na UE traga novas perturbações à economia”, ressalva ainda a instituição, lembrando o elevado número de casos de covid-19 ainda existentes e os receios de novas vagas no outono e inverno.
Ainda assim, a Comissão Europeia adianta que, “graças a um mercado de trabalho forte, o consumo privado poderia revelar-se mais resistente ao aumento dos preços se as famílias utilizassem mais das suas poupanças acumuladas”.
Esta posição é defendida depois de o executivo comunitário ter anunciado um plano de emergência europeu para precaver um eventual corte total de fornecimento de gás russo.
Em meados de maio, a Comissão Europeia alertou para o risco de uma “grave rutura de abastecimento” de gás no próximo inverno na UE, devido aos problemas no fornecimento russo, propondo mais armazenamento e admitindo o recurso ao mecanismo de compras conjuntas.
Ao mesmo tempo, a instituição solicitou aos países da UE que atualizem os seus planos de contingência, peçam aos operadores de transporte que acelerem medidas técnicas para aumentar o fluxo e ainda que realizem acordos de solidariedade, já que só 18 dos 27 países têm infraestruturas para armazenar gás natural.
A guerra na Ucrânia, causada pela invasão russa do país no final de fevereiro passado, agravou a situação de crise energética em que a UE já se encontrava.
As tensões geopolíticas devido à guerra na Ucrânia têm afetado o mercado energético europeu, já que a UE importa 90% do gás que consome, sendo a Rússia responsável por cerca de 45% dessas importações, em níveis variáveis entre os Estados-membros.
Em Portugal, o gás russo representou, em 2021, menos de 10% do total importado.