O homem acusado de matar um mecânico numa oficina no concelho de Guimarães, na sequência de uma discussão por causa de uma máquina de diagnóstico de centralina, assumiu hoje querer falar em julgamento.
No arranque do julgamento, que decorre no Tribunal Criminal de Guimarães (Creixomil), o arguido, que está em prisão preventiva, disse ao coletivo de juízes que falará “na próxima sessão”, pois ainda não teve conhecimento do relatório da autópsia, já concluído.
Na tarde de hoje, o dono da oficina onde trabalhava a vítima contou que, na manhã de 07 de novembro de 2023, o arguido e um amigo deste chegaram à oficina de automóvel, tendo a vítima mandado retirar a viatura daquele local, pedido a que o condutor acedeu.
A testemunha, que se encontrava no interior da oficina, referiu que arguido e vítima se afastaram depois do local, não tendo presenciado os factos.
“Entretanto vim à porta da oficina e aparece o Félix [vítima] com a mão na barriga a pedir que o levasse ao hospital porque tinha levado uma facada. Levei-o no meu carro e no caminho para o hospital disse: ‘isto é uma estupidez, tudo por causa de um computador’”, relatou.
O proprietário da oficina referiu ainda ao tribunal que, durante a viagem para o hospital, que demorou cerca de quatro minutos, a vítima lhe revelou que foi esfaqueada pelo arguido.
De seguida foi ouvida a namorada do mecânico, confirmando que arguido e companheiro eram amigos de casa, assumindo “surpresa” pelo sucedido, pois nunca os tinha visto a discutir.
A mulher disse que telefonou ao arguido a questionar sobre o sucedido e que este lhe respondeu que “só se defendeu”.
O tribunal ouviu ainda dois agentes da PSP, um dos quais responsável pelo auto de notícia, que afirmaram ter falado com a vítima quando esta aguardava no hospital por uma intervenção cirúrgica.
Ambos os polícias revelaram que o mecânico lhes contou que o arguido lhe apontou uma arma de fogo, mas como esta “encravou”, ato contínuo, desferiu-lhe uma facada.
Contudo, a parte da alegada existência de uma arma de fogo não consta da acusação do Ministério Público (MP).
A próxima sessão, na qual serão igualmente ouvidos dois inspetores da Polícia Judiciária (PJ), ficou marcada para as 09:30 de 22 de janeiro de 2025.
A acusação do MP, a que a agência Lusa teve acesso, diz que o arguido, de 32 anos, e a vítima “mantinham uma relação de amizade há cerca de três anos”, tendo o primeiro emprestado ao segundo uma máquina de diagnóstico de centralina, cerca de meio ano antes do homicídio
O MP relata que, “após diversas insistências infrutíferas pela devolução da máquina”, o arguido e um amigo combinaram, em 06 de setembro, deslocarem-se no dia seguinte à oficina onde a vítima era empregado, para, “de uma vez por todas, reaver” a máquina.
A acusação diz que o arguido, com o intuito de “recuperar a máquina a todo o custo”, muniu-se de “uma soqueira com lâmina de ponta e mola incorporada e oculta, com características corto-perfurantes”.
Assim, pelas 09:50 de 07 de novembro de 2023, o arguido e o amigo chegaram à oficina onde trabalhava o ofendido, em Azurém, Guimarães, estacionando à entrada da mesma.
A vítima, “desagradada com o bloqueio da entrada, ordenou ao arguido e ao condutor que estacionassem uns metros mais atrás, ao que aqueles acederam”.
Enquanto o amigo permaneceu sentado no lugar do condutor e com a janela aberta, o arguido saiu do veículo e dirigiu-se à vítima, pedindo-lhe a devolução da máquina.
Segundo o MP, “a vítima mandou o arguido sair daquele local ‘senão era pior’, dirigindo-se em passo apressado ao veículo onde se encontrava” o amigo do arguido e, “ali chegado, junto à janela do lado do condutor, por razões não concretamente apuradas, desferiu-lhe uma pancada no sobrolho direito”.
“O arguido abeirou-se da vítima, muniu-se de uma soqueira que trazia oculta no bolso do casaco que envergava e acionou a mola, assim fazendo a lâmina sair, desferiu um golpe”, descreve a acusação.