“Cheguei a passar fome”. A história do jogador do Braga eleito o melhor do mundo no futebol de praia

Bê Martins vive “sonho de criança”
Bê Martins. Foto: SC Braga

O internacional português Bê Martins, atleta do SC Braga, considerado recentemente o melhor jogador do mundo de futebol de praia, confessou à Lusa estar a “viver um sonho de criança”, depois de ter passado fome na primeira experiência desportiva na Europa.

“É um sonho de criança. Acredito que é o de todos os desportistas, independentemente da modalidade, mas quando comecei nunca imaginei que pudesse chegar a este nível. Era um sonho que considerava distante, mas que tinha há já muito tempo”, disse o ala, que recebeu o galardão na Gala da Beach Soccer Worldwide, realizada no Dubai, na sexta-feira.

Todavia, a vida de Bernardo Martins, conhecido no mundo do desporto por Bê Martins, nem sempre foi de êxitos, uma vez que, aos 18 anos, teve de lidar com falta de comida quando rumou à Europa em busca do sonho…ainda no futebol.

“Houve um período em que passei muitas dificuldades e em que cheguei a passar fome”, recorda o jogador, em entrevista à agência Lusa, contando que, ainda jovem, foi para Espanha à procura de conseguir singrar no futebol, mas que os primeiros tempos foram muito conturbados.

No Canillas, clube das divisões inferiores do futebol espanhol, o salário fora substituído por carne oferecida pelo treinador da equipa, proprietário de um talho em Madrid, que servia também para pagar o quarto da casa onde Bê Martins, e o irmão (Léo Martins), residiam.

“Foram quatro meses muito difíceis da nossa carreira, até que tivemos a oportunidade de fazer um teste numa equipa de escalões superiores e, aí sim, a nossa vida começou a melhorar e conseguimos trazer a nossa família para ao pé de nós”, relembra.

Todavia, e ainda que não deseje que nenhum desportista passe pela mesma situação, Bê Martins sublinha que essa vivência deixou os irmãos mais preparados para as adversidades.

“Esse momento fez-nos muito mais fortes enquanto pessoas e atletas e hoje vemos que valeu muito a pena porque nos preparou e fortaleceu bastante para os desafios que temos de superar diariamente”, justifica.

Depois de uma fase inicial em que a carreira de desportista chegou a estar em causa, Bê Martins, de 32 anos, iniciou-se na elite do futebol de praia, há uma década, e, desde então, não mais parou de alcançar títulos nas areias, a nível coletivo e individual.

Seja pelo SC Braga, único clube que representou em Portugal, ou pelos brasileiros do Flamengo, do Botafogo, do Fluminense e do Anchieta, pelos italianos do Catania BS e do Napoli BS, pelos turcos do Yesil Ercis Belediye e do Seferihisar Cittaslow, pelos alemães do Real Munster, pelos russos do Lokomotiv Moscovo e, também, pelos chineses do Meizhou Hakka – clubes que o jogador representou na modalidade.

No trajeto até à ribalta há, no entanto, um denominador comum que o ala destaca no momento em que vive o ponto mais alto da carreira na modalidade: o irmão Léo Martins, também ele internacional português e que no ano anterior foi finalista do prémio de melhor jogador do mundo.

“Está entre os melhores jogadores do mundo e este prémio não é só meu, mas também dele, o que para mim é uma alegria enorme”, refere o jogador que alinha pelo SC Braga nas competições portuguesas.

E este prémio é praticamente de ambos: “sentia que tinha de ganhar de ganhar o galardão também por ele [Léo Martins]”.

“Chegámos onde chegámos muito por ajuda um do outro, temos tido a sorte de viver e desfrutar destes momentos juntos”, atirou Bê Martins, rematando: “além de melhores amigos na vida, também o somos dentro de campo e isso é uma das coisas que mais agradeço a Deus na minha vida”.

A “ficha ainda não caiu”

Bê Martins admitiu estar a “viver o ponto mais alto da carreira” depois de ter sido eleito melhor jogador de futebol de praia do mundo na gala da Beach Soccer Worldwide, realizada no Dubai, na sexta-feira.

“A ficha ainda não caiu, está a cair aos poucos, mas, neste momento, estou muito agradecido. Chegar a casa e ver a alegria dos meus familiares mais próximos é uma felicidade tremenda”, atirou o ala, de 32 anos, em entrevista à Lusa, dizendo ser uma “honra suceder aos ídolos da modalidade” [Madjer e Jordan Santos}, no restrito lote de portugueses que arrecadaram o troféu de melhor do mundo.

O antigo capitão da seleção portuguesa Madjer, que recebeu o Prémio Lenda na mesma gala, já alcançou o reconhecimento em 2003, 2005, 2006, 2015 e 2016, enquanto Jordan Santos foi distinguido com o prémio em 2019.

“É uma alegria e um orgulho enorme continuar a levar a bandeira portuguesa ao mais alto nível, assim como eles fizeram, e continuam a fazer”, acrescentou.

Na luta pela distinção de melhor do mundo em 2022, o internacional português superou a concorrência do suíço Noël Ott e do espanhol Chiky Ardil, sublinhando que o prémio “é consequência do trabalho de equipa”.

“Acredito que os títulos individuais são sempre consequência do trabalho de grupo”, asseverou, acrescentando que a distinção lhe traz mais “motivação e força” para “voltar a estar entre os nomeados no próximo ano e, também, nos seguintes”.

Esta época, Bê Martins conquistou as três provas portuguesas [Divisão de Elite, Taça de Portugal e Supertaça] com as cores do Sporting de Braga, sendo também uma das figuras de proa da seleção nacional.

Ainda assim, o ala nota que ficaram a faltar dois troféus para que a época fosse “100% perfeita”: a Euro Winners Cup, que os ‘arsenalistas’ perderam na final diante da Casa do Benfica de Loures, por 3-1, e a Superliga Europeia, competição em que a equipa das ‘quinas’ foi derrotada no duelo decisivo frente à Suíça, por 6-5.

Para o próximo ano, o internacional português em 153 ocasiões projeta uma época “difícil”, mas em que “os objetivos são bem claros” e que são “com toda a certeza, para tentar conquistar”.

Sobre os títulos que lhe faltam na carreira, Bê Martins, nascido no Rio de Janeiro, elenca a Taça Intercontinental e os Jogos Mundiais de Verão, competição em que Portugal se vai estrear no próximo ano.

“Vamos com tudo no próximo ano em busca desses dois títulos que ainda me faltam na carreira”, rematou o futebolista, que, em 2022, somou um total de sete troféus ao serviço dos clubes que representou: além dos bracarenses, Bê Martins defendeu também Catania BS (Itália), Real Munster (Alemanha), Lokomotiv Moscovo (Rússia) e Seferihisar Cittaslow (Turquia).

 
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