Braga: Palco do Theatro Circo vai refletir sobre racismo e narrativa do Estado Novo

Na quinta e sexta-feira
Foto: Divulgação

O Theatro Circo, recebe, na quinta e sexta-feira, a aclamada peça “Blackface” de Marco Mendonça e “Cantar de Galo”, peça escrita pelo premiado dramaturgo norte-americano Robert Schenkkan para o diretor artístico da companhia de teatro Mala Voadora Jorge Andrade.

Na quinta-feira, “Blackface”, escrita e encenada por Marco Mendonça, é uma conferência musical multifacetada que surge a partir de uma compilação de experiências autobiográficas, testemunhos e um levantamento de registos do blackface  - prática teatral racista que teve origem nos Estados Unidos da América e se difundiu noutras culturas ocidentais, incluindo Portugal.

“No blackface, atores brancos pintam o rosto de preto para representar pessoas negras de forma exagerada, estereotipada e caricatural”, explica o Theatro Circo, em comunicado enviado às redações.

Ao mesmo tempo que “Blackface” tem como objetivo “normalizar a presença de pessoas negras em espaços culturais” do país e alertar para a “facilidade com que todos podemos cair numa ignorância coletiva”, Marco Mendonça vê também esta peça como “um objeto de entretenimento” antes de ser “um objeto de pedagogia”, utilizando o humor como “ferramenta crítica para desafiar os próprios limites do humor”.

“A peça questiona o que pode ou não ser representado em palco, defendendo que o blackface não é humor e que humor não é racismo, sublinhando que o racismo, longe de ser uma questão do passado, continua a ser uma realidade presente”, lê-se na nota do Theatro Circo.

Marco Mendonça, nasceu em Moçambique no ano de 1995 e vive em Portugal desde 2007. É  ator, dramaturgo e encenador, licenciado em Teatro pela Escola Superior de Teatro e Cinema. Trabalha com a companhia Os Possessos e estagiou no Teatro Nacional D. Maria II, onde trabalhou com João Pedro Vaz, Tiago Rodrigues e Faustin Linyekula. Integra o elenco de “Catarina e a Beleza de Matar Fascistas”, de Tiago Rodrigues, e tem desenvolvido trabalhos na área da escrita e tradução.  

Este é um espetáculo com audiodescrição.

No dia seguinte, sexta-feira, em “Cantar de Galo”, Jorge Andrade dá vida ao Galo de Barcelos, “símbolo da justiça e da proteção dos inocentes”, que, segundo a lenda, salvou da forca um peregrino injustamente acusado de um crime.

Nesta versão, o ‘souvenir’ mais conhecido da cultura popular portuguesa descobre o seu papel na conspiração nacionalista de Portugal, confrontando o ditador António de Oliveira Salazar – que contracena através da manipulação digital da sua imagem (‘deepfake’) – e expondo a história real da propaganda do Estado Novo.

“Cantar de Galo” nasceu a partir do interesse de Robert Schenkkan pela História de Portugal, especialmente pelo período fascista português – altura em que António Ferro, chefe de propaganda e dinamizador da política cultural do Estado Novo, instrumentalizou figuras como o Galo de Barcelos para fortalecer o nacionalismo português e moldar a imagem cultural do país.

“De forma provocadora, esta peça mostra outro lado da História, desconstruindo a narrativa ‘oficial’ e revelando como a cultura popular foi usada como ferramenta de manipulação política e controlo social”, refere a sala de espetáculos.

Robert Schenkkan é um ator e escritor norte-americano, conhecido por obras teatrais como “The Kentucky Cycle” e “All the Way”, que lhe renderam dois prémios Tony e um Pulitzer.

Além dos seus roteiros teatrais, Schenkkan destaca-se também no mundo do cinema, tendo sido nomeado três vezes para os Emmys.

Jorge Andrade fundou a mala voadora com José Capela, com quem partilha a direção artística da companhia. Além de ator, é também encenador, dramaturgo e programador. Coordena a programação da companhia no Porto e no Campo Cultural de Campilhas.

O passe geral está disponível Blackface + Cantar de Galo (20 euros), ou individuais, estando disponíveis no Theatro Circo, locais habituais e ‘online‘.

 
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