O Grupo DST, de Braga, começou junto dos seus trabalhadores um curso de Formação Filosófica, lecionado pela Universidade Católica de Braga, anunciou hoje a empresa.
A iniciativa destina-se a 350 quadros superiores do grupo empresarial e terá a duração de dois anos letivos, uma aula por semana, decorrendo a formação através das plataformas digitais.
Em comunicado, a DST refere que a formação, que se estende por um total de 70 horas, contará ainda com sessões extra assinadas por convidados de renome, numa imersão completa pela Biblioteca de Clássicos da Filosofia.
A formação será uma viagem através dos autores e dos filósofos mais representativos da História da Filosofia, uma viagem de Heráclito a Sartre com estações em mais 30 filósofos entre os quais Parménides de Eleia, Platão, Aristótelos, Marco Aurélio, Santo Agostinho, Descartes, Rousseau, Marx, Nietsche e Popper, entre tantos outros.
O repto de formar os trabalhadores do Grupo DST na tradição filosófica foi lançado por José Teixeira, presidente do Conselho de Administração, à Católica, que “através do seu prestigiado corpo docente, abraçou o desafio de exercitar o pensamento filosófico fora da academia”.
“A esperança no projeto é grande, do lado da academia e do lado da empresa. Vão certamente despontar novas alianças, que podem ser sinal de um mundo algo diferente daquele a que estamos habituados”, assinala João Manuel Duque, presidente da Universidade Católica, em Braga, citado em nota de imprensa.
Para o presidente daquela instituição académica, “a filosofia sempre teve uma estreita ligação com a realidade quotidiana, sobretudo quando praticada pelos seus melhores pensadores”, admitindo, porém que “muitas vezes, sucumbiu à tentação do enclausuramento académico. Entretanto, essa mesma filosofia académica entrou em crise num mundo mercantilizado e parece ter arrastado, nessa crise, a crise do pensamento crítico contemporâneo, com consequências nefastas para todas as dimensões da vida, nomeadamente a dimensão política.”
É, por isso, que João Manuel Duque aplaude esta iniciativa de José Teixeira em apostar nesta formação, considerando que “também a dimensão laboral precisa de redescobrir a tradição filosófica, que só poderá ser benéfica no desenvolvimento dos seus quadros e na melhoria das próprias relações laborais”.
Esta ideia de colocar os trabalhadores em contacto com os pensadores maiores de todos os tempos é, no seu entendimento, “uma forma nova de o mundo laboral e empresarial se posicionar – mas também um novo modo de posicionamento do trabalho filosófico”.
A parceria é, de acordo com José Teixeira, “o golpe de asas em termos de qualificação dos nossos recursos humanos”. Para o líder do Grupo DST, “a filosofia é a procura constante em torno do ser, do conhecimento, do saber, da moral, da ética, é um olhar para dentro de nós e uma procura incansável pelas perguntas certas.”
Com este curso em horário laboral e no âmbito da formação obrigatória, “estamos a apostar em qualificar as competências das nossas pessoas, através de uma abordagem que contribua para um melhor entendimento das mudanças e transformações que vivemos no nosso tempo, dotando-os de ferramentas que estimulem a reflexão sobre temas complexos, um aspeto muito valorizado neste mercado cada vez mais competitivo”, adianta.
“Sermos como Símias ao concordar com Sócrates quando este defendia que existem realidades tais como a justiça em si, a bondade em si, a beleza em si, que não podem ser detetadas pelos sentidos, mas apenas através dos esforços do próprio intelecto, é a invisibilidade da realidade que procuraremos com esta formação”.
José Teixeira considera ainda “que esta formação permitirá construir chão para fugirmos da espuma dos dias, da vacuidade, do efémero e da fealdade e porque este é o caminho mais curto para aumentarmos a nossa competitividade”, concluiu.
A relação entre a Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais (FFCS) e o dstgroup é já de longa data e tem levado a bom porto diversas iniciativas, refere nota de imprensa.
Porém, a presente formação adquire um significado muito especial, na medida em que “a própria Faculdade realiza o seu movimento de “saída”, indo ao encontro do mundo empresarial, levando o que de mais importante tem e é: o conhecimento filosófico”, destaca José Manuel Martins Lopes, diretor da FFCS, considerando-a “talvez uma ousadia inédita para a academia e para o mundo empresarial, mas por isso mesmo, plena de potencialidades”.
Segundo o diretor da faculdade, “a Filosofia não tem merecido, por parte das diversas organizações, das empresas e das instituições, o acolhimento que lhe deveria ser dado. Todavia, há quem perceba que, precisamente, a Empresa pode ter mais qualidade no seu ser e fazer, ser mais responsável e contribuir para um mundo mais sustentável e belo, se tiver colaboradores e decisores que treinem a reflexão, o pensamento e a ação de um modo mais sistemático e mais fundamentado, mais crítico, mais exigente”.
A Filosofia é, evidencia, “a disciplina mais bem preparada para esta missão pedagógica. Uma empresa que se deixe impregnar pelo sentido crítico, pelo questionamento, pelas inquietações dos grandes filósofos e que, a partir deles, coloque as questões certas para cada problema, para cada desafio, produzirá, certamente, com outra qualidade e será uma empresa que contribuirá para transformar o nosso planeta num mundo mais humano, mais vivível, mais pacífico, mais feliz e habitável para todos.”
José Manuel Martins Lopes reconhece ainda “a ousadia e o arrojo de José Teixeira em apostar na Filosofia, numa nova maneira de pensar a sua empresa e de a abrir a novos mundos”.