Bloco de Esquerda e Chega envolveram-se, esta terça-feira, numa troca de argumentos, depois de o bloquista Moisés Ferreira ter dito que “não há gente séria” naquela bancada, o que levou o deputado André Ventura a invocar a defesa da honra.
O debate na especialidade do Orçamento do Estado para 2020 prosseguia sobre matérias de saúde, com o deputado único do Chega a acusar o Governo de não ter cumprido a sua promessa de dar médicos de família a todos os portugueses.
“O que falta no PS são socialistas”, acusou Ventura, parafraseando o deputado socialista Porfírio Silva que, antes no debate, já tinha dito mesmo sobre os sociais-democratas no PSD a propósito de matérias da educação.
Se houve resposta imediata das bancadas do PS e até da do Governo, a mais dura chegou por parte do Bloco de Esquerda.
“A política de saúde é uma discussão séria que precisa de gente séria para fazer essa discussão, não encontramos essa gente séria na bancada do Chega”, afirmou o deputado Moisés Ferreira.
O deputado do BE acusou o Chega de, no seu programa eleitoral, dizer que “o Estado não deverá interferir como prestador de bens e serviços no mercado da saúde”.
“Não há gente séria daquele lado nesta discussão, aqui, sim, no BE há quem defenda o Serviço Nacional de Saúde”, uma afirmação que gerou alguns aplausos na bancada do PS, mas também protestos do outro lado do hemiciclo.
André Ventura pediu a defesa da honra para dizer que aceita “ouvir tudo”, mas recusa lições de moral ou de caráter.
“Não lhe admito que coloque que em causa o caráter e honra de quem quer que seja e muito menos a minha, não a si, nem a ninguém dessa bancada”, respondeu.
Na réplica da defesa da honra, Moisés Ferreira reafirmou a crítica – “não há gente séria na bancada do Chega, até prova em contrário é assim” – e até a adaptou à gíria futebolística.
“Numa terminologia que talvez compreenda melhor, no que toca ao SNS, no que toca ao Estado social, o senhor está fora de jogo”, acusou.
O vice-presidente da Assembleia da República que conduzia os trabalhos, José Manuel Pureza, já não deu a palavra a Ventura para uma “tréplica”, mas apenas à líder parlamentar do CDS-PP, Cecília Meireles, que também se sentiu atingida pela intervenção do BE.
“O senhor deputado disse que deste lado do hemiciclo não havia gente séria. Terá as discussões que entender com a bancada do Chega, agora, senhor presidente, há coisas que não são admitidas aqui”, afirmou.
Pureza apelou ao avanço nos trabalhos, dizendo “ser compreensível que os debates estejam acalorados e que haja alguma fadiga”.