Belmiro da Silva Valente (1923-1998): Um ilustre colaborador da JAE – Junta Autónoma de Estradas

Cantoneiro da Póvoa de Lanhoso
Foto: DR

Rui Manuel Marinho Rodrigues Maia

Licenciado em História, mestre em Património e Turismo Cultural pela Universidade do Minho – Investigador em Património Industrial.

A nossa História é repleta de momentos notáveis, de concretizações verdadeiramente louváveis, como a de algumas empresas públicas que tantas saudades deixaram a quem nelas laborou, e outras tantas saudades a quem, hodiernamente, delas se recorda pela falta que fazem. É o caso da JAE – Junta Autónoma de Estradas.

Todavia, importa recordar que as empresas, sejam elas quais forem, se fazem de pessoas e que, em muitos casos, essas pessoas dedicaram as suas vidas a um desígnio tão nobre, como é aquele de servir Portugal. Por essa via, trazemos a lume a história de um ilustre colaborador da JAE, Sr. Belmiro da Silva Valente, nascido sob a aura da I República Portuguesa, em 2 de março de 1923.

Aos 60 anos de idade, Belmiro da Silva Valente, que na época residia no lugar da Rita, pertencente à freguesia de Covelas, concelho de Póvoa de Lanhoso, foram-lhe dirigidas e registadas algumas palavras de regozijo pelas quatro décadas de trabalho que dedicou à JAE, aquando da sua aposentadoria: “A este honrado trabalhador, zeloso servidor do bem público, foram-lhe concedidos dois distintivos e registados na sua caderneta, pelo seu cuidado e eficiente trabalho”.

O insigne Sr. Belmiro da Silva Valente, desempenhava o cargo de Cantoneiro, um trabalho verdadeiramente importante para o país, na medida em que os cantoneiros tinham por missão manter as ruas e estradas asseadas e em boas condições de circulação.

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A JAE é fundada tendo por esteira o Decreto-Lei n.º 13:969, emanado do Ministério do Comércio e Comunicações, de 20 de julho de 1927, cujo preâmbulo refere que é “(…) necessário e urgente dar o maior incremento aos trabalhos de reparação das nossas estradas e construir leitos de rolamento que melhor resistam à circulação automóvel”.

Ora, facilmente se pode depreender que Portugal assistia a um novo paradigma de mobilidade que se estabelecia paulatinamente, sob o qual pendiam enormes transformações e adaptações, urgindo para o efeito criar as devidas condições capazes de dar resposta aos novos ventos liberais e de progresso.

Porém, em 25 de junho de 1999, pouco mais de um ano após a morte do Sr. Belmiro da Silva Valente (14.04.1998), a JAE é extinta pelo Decreto-Lei n.º 237/99, cujo preâmbulo reza o seguinte: “A Junta Autónoma de Estradas é um dos mais antigos organismos públicos, criado para assegurar um serviço público bem definido – planear, construir e administrar a rede nacional de estradas, cuja estrutura importa adaptar às profundas mudanças ocorridas e a ocorrer no sector rodoviário”.

A JAE existiu ao longo de 72 anos, findando-se às portas de um novo milénio. Há quem advogue que na razão da sua extinção estão motivos relacionados com corrupção, como nos dá conta uma notícia do Público, de 1 de julho de 1999: “A gestão da JAE ao longo dos anos, da responsabilidade do PSD e do PS foi caracterizada, como sobejamente se comprovou nos últimos tempos, por graves suspeitas de corrupção, gastos de muitos milhões de contos de obras mal programadas e de adjudicações muitas vezes feitas contra o interesse público”.

Hodiernamente, como todos nós sabemos, é muito fácil perceber o papel sobremaneira importante que a JAE desempenhava em prol da conservação das nossas ruas e estradas, pelo asseio que lhe conhecíamos, em contraste com a total bandalheira que se vai verificando aqui e acolá, em que ervas, lixo e buracos conseguem ser mais permanentes do que qualquer permanente realizada num cabeleireiro Premium.

Em Portugal, para não se fugir à regra, delapida-se tudo que é importante, para dar lugar ao caos e à insatisfação, como é o caso da Saúde, da Educação, etc., tendemos a ser medíocres, porque se a política fosse bem remunerada tinha os melhores, razão pela qual, grosso modo, os melhores estão no sector privado e a corrupção, ou as suspeitas, são um flagelo na administração da coisa pública. Por outro lado, extinguiu-se a profissão de Cantoneiro, todavia, quer PS – PSD, e outros partidos que também auxiliaram no desgoverno de Portugal, querem perpetuar a profissão de Coveiros.

A terminar, deixamos as nossas palavras de apreço para todos aqueles e aquelas que tanto deram ao nosso país, independentemente do regime político em que viveram e trabalharam, porque o que importa são as nossas ações e o que resulta delas. Ao amigo Bruno Valente, neto do ilustre Sr. Belmiro da Silva Valente, agradecemos a partilha desta história de vida que tanto nos orgulha e norteia.

 
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