Henrique Pereira, aventureiro de Guimarães que está a dar a volta à Europa a pé, foi alvo de uma tentativa de assalto em território espanhol, mas conseguiu iludir o meliante e prosseguir a caminhada.
Em declarações a O MINHO, Henrique Pereira, de 31 anos, explicou que um homem de nacionalidade leste-europeia o abordou há algumas semanas, quando saía de Badajoz, dizendo-lhe que se tratava de um assalto. Como havia outras pessoas por perto, Henrique decidiu ignorar o mal-intencionado, que acabou por desaparecer. Henrique ainda questionou autoridades locais sobre o homem, responderam-lhe que era já uma figura conhecida ali na cidade por fazer esse tipo de coisas, e que podia seguir viagem à vontade que o meliante não o iria perseguir.
“Foi estranho, mas lá segui viagem. Foi o único susto do género até agora, de resto tem corrido tudo mais ou menos bem”, disse, no sábado, a O MINHO, via telefone.
No coração da Andaluzia
Este fim de semana, Henrique Pereira passou as montanhas da Sierra de Las Nieves, em Málaga, a 1.400 metros de altitude. Deverá chegar àquela cidade da Andaluzia esta segunda-feira.
Pelo caminho, tem recebido comida dos espanhóis, mas estadia nem por isso. Os bombeiros também não o estão a deixar dormir em quartéis, como acontecia em Portugal, pelo que decidiu recorrer ao ‘couchsurfing’, e teve sucesso na cidade de Sevilha, onde aproveitou para comprar um carrinho novo porque o antigo já não dava para o desgaste da viagem.
Henrique já percorreu mais 404 quilómetros desde a fronteira, que soma aos 413 quilómetros percorridos em Portugal.
Volta à Europa a pé
Como O MINHO noticiou, Henrique Pereira, de 31 anos, estava farto de “trabalhar por dois e receber por um” numa lavandaria industrial em Guimarães, de onde é natural, e resolveu despedir-se da empresa para iniciar uma volta à Europa a pé que só deverá ficar concluída daqui a cinco anos.
Apoios financeiros, quase nenhuns, apenas da Junta de Silvares, a sua freguesia, contrastando com a boa vontade das autarquias e dos bombeiros das cidades por onde passa e que por vezes até lhe oferecem dormida, refeição e “um café”. E
Apanhou as tempestades em plena Serra da Estrela
“O inicio foi muito complicado porque fui pelas montanhas a partir de Marco de Canaveses e também apanhei a Serra de Estrela, e logo no segundo dia lá começaram aquelas tempestades com muito vento. Felizmente consegui chegar lá cima ao topo, mas não deu para ficar lá acampado porque ativaram o aviso laranja por causa do vento, e estava mesmo muito mau tempo”, contou.
Essa terá sido, até agora, a etapa mais complicada para Henrique, admitindo, porém, que foi também uma prova de resistência que, de certo modo, fez com que o resto da viagem percorrida até agora fosse “peaners”, como dizia um conhecido antigo treinador. “Depois disso foi maís fácil, parecia sempre a descer e de facto não tive grandes subidas”, considerou. Outra parte complicada foi habituar o corpo a caminhar 20km por dia. “Custou, mas agora é sempre a andar”, brincou.
Nas cidades por onde tem passado, tem sido quase sempre “muito bem recebido”, sobretudo pelas autarquias. No distrito do Porto não houve necessidade de guarida, o tempo não estava mau e deu para dormir em campismo. Mas em Viseu já foi necessário orientar guarida para a noite, e foi a própria Câmara que o ajudou.
“Em Portalegre fui recebido como um rei”
Em Portalegre foi recebido “como um rei”. “Fui muito bem recebido, até me fizeram uma visita guiada pelas instalações da Câmara”, arranjaram-me dormida nos bombeiros “, disse, confidenciando que, noutro local, o funcionário de um posto de combustíveis deixou-o acampar no terreno que pertencia à ‘bomba’, não havendo por isso problemas com as autoridades.
Só em Castelo Branco é que não obteve resposta favorável da autarquia nas três vezes que os contactou. Mas no dia seguinte o adjunto do presidente da Câmara foi ter com Henrique e pediu-lhe desculpas por não terem percebido a iniciativa. “Pagou-me um café (risos)”.
Poucos apoios
A falta de apoios para esta viagem é notória. Henrique juntou um pé de meia que qualquer pessoa com menos de 30 anos e a trabalhar pelo salário mínimo numa fábrica consegue juntar, ou seja, quase nada, e se para já vai colmatando as necessidades, esta viagem terá a duração de 26.000km, e será circular, ou seja, regressa a Guimarães também a pé.
“Tenho um pequeno apoio da minha Junta de Freguesia, cuja bandeira levo por todos os países da Europa, mas não tenho mais nada, a Câmara de Guimarães não me respondeu, a Decathlon a nível europeu ficou de me dar uma resposta depois da loja de Guimarães se oferecer para me patrocinar no equipamento. Mas era só a de Guimarães e isso não me serve para esta viagem, tem de ser a Decathlon a nível europeu”, explicou.
De resto, no início da viagem pediu apoio aos Cafés Delta por estar inteirado da disponibilidade social da empresa, mas também não recebeu resposta, já tendo até passado Campo Maior (dormiu nos bombeiros).
Trocar de tenda
Imprevistos, teve um mais complicado: “Tive de trocar de tenda, a que eu usava era muito pequena o tempo como está, provocava condensação entre o calor de dentro e o frio de fora. Como era muito pequena, para eu me poder ocultar mais facilmente em países mais perigosos, era muito difícil de conseguir dormir. Por isso comprei outra, pesa mais três quilos, mas é muito melhor”.
Entretanto, já em território espanhol, e com ajuda de um amigo que conheceu na viagem, voltou a trocar o carrinho para transportar o material.
Com os salários em Portugal, não dá para viajar
E porque é que Henrique está a retirar quatro a cinco anos da sua vida para andar por todos os países do continente europeu? “Eu não gosto de estar parado no mesmo sítio, gosto de aprender, conhecer cidades e culturas, mas com o salário em Portugal não dá para viajar, já é difícil evitar ir para debaixo da ponte, quanto mais viajar”, explicou.
Como “estava farto de trabalhar por dois e receber por um, quatro meses antes de me despedir decidi ir dar a volta a Europa, que era algo que já estava na minha cabeça, mas o planeamento, aprender a sobreviver neste contexto, sobretudo em relação à vida selvagem, é algo pelo qual me interesso há pelo menos 2 ou 3 anos”, confidenciou.
Mapa pela Europa tem perigos mortais
Henrique tem o mapa delineado, não só para evitar fazer mais quilómetros que os necessários mas também para tentar evitar ficar muito tempo longe da ‘civilização’, evitando dessa forma o risco de não ter acesso a água ou comida durante vários dias.
De Badajoz, onde se encontra, pretende ir até Sevilha, viajem que demorará 10 dias. Depois, vai por Marbella, sempre pela costa europeia, até Itália, passando por França. “Em Itália vou a Turim, Milão e faço um desvio para ir a Roma, porque até é pecado estar em Itália e não ir a Roma (risos)”, disse.
Minas no Kosovo, ursos na Roménia e guerra na Ucrânia
Até aí, a viagem não será complicada. Mas o perigo adensa ao entrar numa das regiões mais conflituosas do atlas – os Balcãs -, onde teme encontrar minas abandonadas na região do Kosovo ou ser devorado por ursos na Roménia. O frio também será uma ameaça. Essa situação – dos ursos e do frio – voltará a repetir quando estiver na Finlândia, depois de passar pela Grécia, Turquia e subir no continente europeu através da Polónia e Bielorússia. “Vou tentar entrar na Ucrânia e ir a Kiev, mas não sei se será possível”.
Também quer ir à Rússia através da Finlândia, mas será outra incógnita que também só conhecerá desfecho “daqui a dois anos, sensivelmente”.
“A Rússia é o único pais que não sei se terei as portas abertas. Demoro mais ou menos dois anos a chegar lá e quero, pelo menos, tentar passar na fronteira de S. Petersburgo, na Finlandia. E também vou à Ucrânia, quero ir a Kiev e a Chernobyl”.
Ainda a desenrascar-se para as próximas semanas por Espanha, onde deverá passar Natal e Passagem de Ano, Henrique espera ter mais pessoas a acompanharem a sua viagem, seja através do Facebook, Youtube, TikTok ou Instagram, e que alguma empresa, autarquia ou entidade ganhe a mesma coragem e apoie o “primeiro português de sempre a atravessar todos os países do continente europeu a pé”.
Ajude o Henrique a chegar ao destino
Se quiser contribuir financeiramente para a viagem de Henrique Pereira, pode fazê-lo através dos seguintes canais:
GoFundMe: https://gofund.me/9cf3a8ae
MBWAY: 91 958 37 68
TB: Henrique Pereira
PT50.0036.0117.99100023136.64