Arqueólogos vão mapear os castros entre Boticas e Montalegre

Património Agrícola Mundial

Arqueólogos vão fazer um levantamento não-invasivo dos castros do Barroso, um projeto que contempla também reconstruções virtuais animadas e quer ajudar a conhecer a história e origens do Património Agrícola Mundial que abrange Boticas e Montalegre.

O arqueólogo João Fonte disse hoje à agência Lusa que os trabalhos no terreno devem arrancar entre finais de abril e início de maio e que o objetivo é fazer um mapeamento dos castros, estimando-se que possam existir entre 50 a 60 naquele território do norte do distrito de Vila Real.

O projeto “Ativar – Comunidades locais e as origens da paisagem agrícola do Barroso” é liderado pela empresa Era Arqueologia, em consórcio com os municípios de Boticas e Montalegre, tem a duração de três anos e conta com financiamento da Fundação La Caixa.

No terreno, o trabalho vai ser feito com recurso a tecnologia Lidar, que faz um varrimento aéreo (através de um sensor colocado numa aeronave) e um mapeamento não invasivo dos sítios (sem recorrer a escavações), removendo virtualmente a vegetação.

Recorrer-se-á também a um georradar que permitirá “ver o que está enterrado”.

Será com base nessa informação que, segundo João Fonte, se irá fazer uma “reconstrução virtual animada” de alguns castros com “pessoas, casas, muralhas, com vida a acontecer”.

Ou seja, realçou, “como é que estes sítios podiam ter sido há mais de 2.000 anos”.

O arqueólogo realçou a importância de envolver no projeto as associações locais, as escolas, bem como a comunidade, nomeadamente os mais velhos que serão convidados a partilhar memórias e histórias passadas de geração em geração sobre estes sítios.

Numa fase posterior, poder-se-á avançar com escavações arqueológicas.

Os investigadores procuram “encontrar as origens do Barroso Património Agrícola Mundial” e, segundo o arqueólogo, “os castros são, efetivamente, o primeiro tipo de assentamento de caráter permanente que ocupam de forma sistemática territórios de montanha e de vale”.

“E não é por acaso que muitos castros ainda coincidem com aldeias tradicionais do Barroso. É muito importante estudar estas origens, com base nos castros, mas depois perceber também que foi aí que começou tudo a mudar quando chegaram os primeiros militares romanos a esta zona”, referiu.

Hoje, João Fonte vai a Vilar de Perdizes, em Montalegre, falar sobre o acampamento militar romano do Alto de Espinho, que foi validado como tal após uma intervenção arqueológica que decorreu em setembro, com o apoio da câmara, junta e a associação local de Defesa do Património.

Este é o segundo acampamento militar romano identificado no concelho, a seguir ao do Alto da Raia, em Tourém.

Em Vilar de Perdizes, o sítio foi inicialmente documentado a partir de tecnologia Lidar.

O investigador referiu que, nestes locais, a materialidade (vestígios de cerâmica ou metais) depois de mais de 2.000 anos “é muito escassa porque são sítios de ocupação temporária”.

Ali foi possível documentar um fosso de tendência em ´V’, escavado na rocha e um talude em terra construído em direção ao interior. 

Do lado interior desse talude foi encontrado um muro de suporte e debaixo do derrube desse muro foi documentada uma pequena estrutura de combustão que permitiu recuperar um carvão cuja datação radiocarbónica revelou ter sido queimado nos finais do século I a.C.

Numa altura em que já começam a estar disponíveis os dados da cobertura Lidar nacional, feita pela Direção-Geral do Território (DGT), João Fonte aproveitou para destacar algumas novidades identificadas no Barroso, como castros inéditos, minas romanas, e falou ainda da via romana XVII, que ligava a atual Braga até Astorga (Espanha), passando por Montalegre.

É também com a ajuda dos dados Lidar que o arqueólogo avançou com uma possível localização de duas ‘mansiones’, espécie de estações de apoio a quem percorria a via, nomeadamente nas zonas de Vila da Ponte (Praesidium) e Gralhas (Caladunum).

Estes sítios, bem como o acampamento do Alto de Espinho, estão próximos do possível traçado da Via XVII e, segundo disse, há “dados objetivos” que “apontam para a origem militar” desta via.

 
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