Antenor e Maria Odete: História de um amor que dura há mais de 60 anos

Foto: Rui Manuel Fonseca

Conheceram-se na festa do Senhor de Matosinhos e de um amor à primeira vista, nasceu um casamento para a vida. Maria Odete Veludo, com 85 anos, e Antenor de Sousa, com 89, são o casal dado às artes que em Paredes de Coura, todos conhecem por passear de mãos dadas nas ruas da vila quando há sol e de escrever poesia num jornal da terra. Foram notícia há seis anos quando foram residir para o lar da Santa Casa da Misericórdia local, e continuam a dar nas vistas pela diferença.

Ela, que sempre demonstrou talento para o desenho, aprendeu a pintar aos 61 e pinta ainda com o vigor de uma jovem. Recentemente concluiu um lote de mais de 30 quadros para oferecer no final do ano a todas as funcionarias da instituição que a acolhe e ao marido. Ele, um antigo industrial de ourivesaria, que desenhava as próprias peças, é o admirador número um (da arte) da mulher e segue-a escrevendo poemas.

“Encontrei o amor da minha vida e casei. E assim encontrei a minha felicidade. Fui muito amado, mas também muito amei. (…) Até hoje mantenho um orgulho imenso na minha mulher. Tem uma energia imbatível, difícil de acompanhar (…)”, escreveu Antenor, há dias, no jornal Notícias de Coura (NC), que “se associou” à celebração dos 60 anos do matrimónio.

Numa nota de direção, os octogenários são referidos como os “amigos do NC, alvo das maiores distinções pelo seu espírito artístico, revelado na pintura e na poesia, e que estão há muito no coração de todos os naturais de Paredes de Coura”.

A história do casal, transparece do olhar risonho e embevecido com que Antenor observa a mulher, enquanto esta fala sem parar. “Fui ao Senhor de Matosinhos e estava na igreja. Ele andava lá com amigos e quando me viu começou a chegar-se. Perguntou-me onde é que eu morava e eu respondi que era do Bonfim, mas não disse mais nada”, contou Maria Odete, logo interrompida pelo marido.

“Depois disso andei sete meses a correr para o Bonfim. Ia para a junta de freguesia, depois do emprego, para ver se a via. Não sabia nada dela, nem o nome. Um dia vi uma rapariga, que vim depois a saber que era prima dela, e que estava com ela na festa. Foi aí que a descobri”, completou o antigo ourives, comentando que “foram sete meses à espera, mas naquela altura esperava o tempo que fosse preciso”. “Gostei logo muito dela e senti que ela também, porque quando se foi embora olhou para trás e isso deu-me força para ir atrás dela”, continuou.

Namoraram quatro anos com uma “porta fechada à chave e com grades” a separá-los. Ela tinha 21 anos e ele 25.

Só passavam os dedos. Beijávamos os dedos. Para dar o primeiro beijo andamos três anos. Foi uma vez numa casa de fotografias em Espinho, onde ela passava férias com a família. Entramos a correr e demos lá num canto”, recorda Antenor. E Odete, lembra: “Os meus pais eram muito rígidos. Podia chover a cântaros que se ele estivesse lá fora, lá fora continuava”.

O casal conta que “o namoro foi difícil porque ele era pobre”, mas lá acabaram por casar. Tiveram um filho. Viveram toda a vida no Bonfim, terra natal de Maria Odete. Após a reforma do ourives, viajaram “pelo mundo”. E, quando a idade começou a pesar, decidiram ingressar num lar na terra natal de Antenor, que nasceu na freguesia de Moselos, em Paredes de Coura.

 
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