Montanhista contra miradouro em cascata no Gerês

Rui Barbosa
Foto: Joaquim Gomes / O MINHO

O montanhista Rui Barbosa manifestou-se esta segunda-feira contra o previsto miradouro artificial na cascata do Tahiti, cujas obras estava previsto iniciarem-se na quinta-feira, mas encontram-se ainda num impasse, no Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Rui Barbosa, uma das referências permanentes do Parque Nacional da Peneda-Gerês, declarou a O MINHO: “Afirmava já há uns anos que o nosso Parque Nacional está no cadafalso, dizia eu, então, mas, agora, estica-se a corda cada vez mais”.

Após tomada de posição na sua página de Facebook, Rui Barbosa, montanhista e guia de montanha, que conhece todo o parque nacional, afirmou a O MINHO “estar contra o miradouro, pois não seria essencial para a segurança” dos visitantes da cascata.

Rui Barbosa insurgiu-se contra “um parecer favorável condicionado que ninguém conhece”, acerca da autorização do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), para além da concordância pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA).

O montanhista espera resposta ao pedido que fez recentemente ao Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) acerca do parecer favorável condicionado à obra, que é da responsabilidade integral da Câmara Municipal de Terras de Bouro.

“O miradouro não resolve qualquer problema de segurança e eu gostava de saber o que vai ser feito ou não vai ser feito para evitar os acidentes no leito do rio, que é onde acontecem”, acrescentou Rui Barbosa, que já foi conselheiro do “Gerês Seguro”.

Para o também autor do blog e do livro “Minas dos Carris”, que mora no território geresiano, “não vejo qualquer utilidade em mais um miradouro, até devido ao impacto negativo que teria na paisagem natural” daquela área protegida da Serra do Gerês.

Rui Barbosa considera que “pode trazer-se mais segurança sem a necessidade de criar um novo miradouro em cima da cascata”, salientando que “artificializando a paisagem destruímos o que de mais belo tem a natureza no nosso único parque nacional”.

Segundo Rui Barbosa, “há que respeitar a natureza”, exemplificando que “também gostava de escalar o Cervino, nos Alpes, mas não é possível, não sendo por isso que se devem criar novos acessos para esse mesmo efeito, a natureza é para se respeitar”.

“Em termos de turismo, são tomadas as decisões erradas, todos sabemos disso, mas em vez de se ter a coragem de elaborar um plano a longo prazo, decide-se sempre pôr panos quentes e mezinhas, que nada vão resolver”, ainda segundo Rui Barbosa.

A Cascata de Várzeas situa-se no sítio de Fecha de Barjas, do lugar da Ermida, em Vilar da Veiga, maior freguesia do concelho de Terras de Bouro, sendo conhecida como cascata do Tahiti, desde que ali foi filmado um anúncio publicitário a um shampoo.

Risco de perder estatuto de Parque Nacional

Entretanto, partidos políticos, associações ambientalistas e cidadãos chamam a atenção para o risco das obras no único parque nacional português perder esse estatuto, em função da avaliação periódica da União Internacional da Conservação da Natureza.

O PCP alertou ainda para o perigo das obras, além de descaraterizarem o local, caso se concretizem, no final atraírem ainda mais gente, para aquela zona de “vale encaixado que provoca o efeito chaminé” de efeitos devastadores.

A questão da obra na chamada Cascata do Tahiti veio interromper a paz social que se vivia há muitos anos no Parque Nacional da Peneda-Gerês, levantando partidos políticos e associações ambientalistas outras questões que estavam ainda sem discussão.

O PCP defende o regresso da figura de um diretor, apenas para o único parque nacional português, o que é partilhado por Rui Barbosa, assim como o modelo da cogestão, que colocou os autarcas locais ao lado do próprio ICNF.

Rui Barbosa vai mesmo mais longe, considerando que “o Parque Nacional da Peneda-Gerês deveria ter um diretor que tivesse conhecimento profundo e permanente de tudo o que se passa no nosso único parque nacional, em vez de nomeação política”.

 
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