Centenas de pessoas juntaram-se hoje na Praça do Município, em Braga, recriando o comício “libertador” que há 50 anos ali se realizou, marcado por muitos vivas à democracia e pelas canções mais emblemáticas da revolução dos cravos.
Da varanda dos Paços do Concelho, foram reproduzidos os discursos ali proferidos no dia 26 de abril de 1974 por alguns dos Democratas do Distrito de Braga, entre eles José Manuel Mendes, o atual presidente da Associação Portuguesa de Escritores.
“Alguns de nós já sabíamos que a revolução estava para acontecer, apenas não sabíamos a data certa”, contou José Mendes à Lusa.
A 25 de abril, o “dia D” da revolução, alguns daqueles democratas percorreram as ruas de Braga de megafone em punho, anunciando a “boa nova” e convocando a população para o comício do dia seguinte, sempre com a “Grândola, Vila Morena” como tema de suporte.
“No dia 26, tínhamos aqui um mar de gente. Lembro-me que subi à varanda cheio de alegria, porque a democracia tinha vencido, e defendi abertamente a independência das nossas colónias”, referiu.
À varanda, e em representação de todas as mulheres, subiu também Luísa Caeiro, na altura uma jovem professora de 30 anos que soltou um grito de emancipação feminina.
“Fui chamar as mulheres para se juntarem à luta, dizer-lhes que a sua liberdade não se devia ao direito voto ou a ter um emprego, mas que devia significar a possibilidade de poderem definir o seu destino”, contou Luísa Caeiro, à Lusa.
No dia 25, Luísa ainda tinha uma “visão muito reduzida” do que estava a acontecer, pois as primeiras informações eram “muito contraditórias”, mas, entretanto, as horas passaram e a informação, mesmo que a conta-gotas, foi chegando, pelo que foi já sem medos que no dia seguinte subiu à varanda dos Paços do Concelho de Braga.
Foi com a emoção estampada no rosto que José Manuel Mendes, Luísa Caeiro e várias outras pessoas que estiveram no comício de 26 de abril de 1974 hoje assistiram à recriação do evento.
“Abril valeu a pena, em absoluto”, atirou José Manuel Mendes, deixando, no entanto, um alerta para as ameaças que vão pairando sobre a democracia e um apelo para a necessidade de as combater.
A recriação do comício foi promovida pelo grupo de teatro Malad’Arte, em parceria com o município de Braga, com a Comissão de Homenagem aos Democratas de Braga e com a Rede de Escolas no âmbito do Plano Nacional das Artes.
Dezenas de alunos empunhavam cartazes com frases como “Viva as Forças Armadas”, “É urgente um mundo com liberdade” e “O povo quer, o homem luta, a democracia nasce”.
A banda de serviço tocou “Acordai”, “E depois do adeus” e, a fechar, o inevitável “Grândola, Vila Morena”.
A chuva, que caiu com alguma intensidade, obrigou a abreviar o espetáculo que estava programado.
No entanto, e como lembrava alguém que estava a assistir, “cerimónia molhada, cerimónia abençoada”.
“Se esta for a garantia de ‘25 de abril, sempre’, pois bendita chuva”, atirou.