O comentador político Luís Marques Mendes defende o fim da raspadinha e pede “coragem” para acabar com o jogo que, defende, “não é social, é imoral”. Porém, o ex-líder do PSD, natural de Fafe, acredita que nem o Governo nem a Santa Casa terão a “coragem” para pôr fim a um jogo que considera ser “terrivelmente perverso”.
No seu espaço habitual de comentário no “Jornal da Noite” da SIC, Marques Mendes debruçou-se sobre um estudo que saiu esta semana, promovido pelo Conselho Económico e Social (CES) em parceria com a Universidade do Minho, coordenado por Luís Aguiar-Conraria.
O comentador fafense começou por enumerar os “dados principais” do estudo “para as pessoas perceberem os malefícios terríveis que a raspadinha está a ter do ponto de vista social”.
Segundo o Estudo, há 100 mil pessoas em Portugal viciadas na raspadinha e 30 mil com perturbações psicológicas.
O jogo rende quatro milhões de euros por dia à Santa Casa da Misericórdia e 1.440 milhões por ano.
Mas o dado que Luís Marques Mendes mais salientou foi o de que quem mais joga são “as pessoas com menos rendimentos” (menos de 664 euros por mês). “Ou seja, as pessoas pobres que, perdendo, ficam mais pobres ainda, sobretudo operários”, critica.
Por isso, e embora ressalvando que o estudo diz que “não se deve acabar com a raspadinha mas que [esta] deve ser regulada”, o social-democrata defende mesmo o fim do jogo.
“Em teoria, concordaria com isso, sou sempre a favor da regulação, mas na prática acho que, neste caso, isso não vai resultar e acho que devia haver coragem para acabar com a raspadinha”, defende.
Contudo, acha que “não vai haver” essa coragem “nem da Misericórdia nem do Governo”.
A pessoa é pobre, joga, ainda fica mais pobre
E explica porque não acredita na regulação: “Isto é um vício de tal forma profundo que ninguém vai cumprir as regras e também nunca ninguém as vai fiscalizar, porque em Portugal não se fiscaliza. E porque toda a gente percebe que não se pode ter um polícia à porta de cada estabelecimento onde se vende raspadinhas”.
“Na prática, se queremos acabar com este vício social terrível, é acabar com a raspadinha”, declara.
Marques Mendes justifica a sua posição, argumentado que “o Estado existe é para combater a pobreza, não é para a incentivar”.
“O que está aqui a acontecer é o Estado a incentivar a pobreza. A pessoa é pobre, joga, ainda fica mais pobre. E a Santa Casa está a dar com uma mão e a tirar com a outra. Está a ajudar os desfavorecidos e depois está a tirar dinheiro através da raspadinha aos mais desfavorecidos. Isto não é um jogo social, é imoral”, atira.
Sobre o facto de ser uma receita importante para a Santa Casa, o comentador da SIC refere que “não temos culpa” de a instituição estar “falida”. Acrescenta que a Misericórdia “não pode resolver os seus problemas financeiros através de um jogo que leva as pessoas para a pobreza”.
Marques Mendes assume que acabar com a raspadinha acarreta um “risco” que também é mencionado no estudo, o do jogo clandestino, mas que “do outro lado há uma certeza: a da imoralidade de o Estado e uma entidade pública com a Misericórdia estarem a fomentar ainda mais pobreza”.
“O país antigamente não tinha raspadinha e vivia bem”, conclui.