O combate às alterações climáticas “é uma maratona e não uma corrida”, avisou hoje o antigo presidente dos Estados Unidos Barack Obama, num discurso à margem da 26.ª conferência do clima das Nações Unidas (COP26), em Glasgow.
“Preparem-se para uma maratona, não para uma corrida, porque resolver um problema tão grande, tão complexo e tão importante nunca aconteceu de uma só vez”, disse.
Num discurso de cerca de uma hora, o antigo chefe de Estado (entre 2009 e 2017) disse que a COP26 ouviu “boas e más notícias”, enaltecendo os compromissos feitos, mas reconhecendo que ainda não se está “nem perto” de onde era preciso estar.
“Apesar do progresso que Paris representou, a maioria dos países não conseguiu cumprir os planos de ação que estabeleceram há seis anos. E as consequências de não se mexerem suficientemente rápido estão a tornar-se mais aparentes”, lamentou.
Reconhecendo o desvanecimento da cooperação internacional nos últimos anos, em parte devido ao seu sucessor Donald Trump, que fez os EUA saírem do Acordo de Paris, Obama lamentou a falta de ambição e ausência na COP26 da Rússia e da China.
“Os seus planos nacionais até agora refletem o que parece ser uma perigosa falta de urgência, uma vontade de manter a situação atual por parte desses governos, e isso é uma pena”, estimou.
We’ve done some important work since the Paris Agreement was signed six year ago, but we’re still nowhere near where we need to be on climate. Watch live from #COP26 in Glasgow as I talk about the steps we can take to combat climate change. https://t.co/fpoGbnNehm
— Barack Obama (@BarackObama) November 8, 2021
Pelo contrário, elogiou os jovens por estarem pelos seus esforços para colocarem pressão nos políticos, encorajando-os a a continuar, por exemplo, a tentar influenciar também as empresas e serem mais ecológicas.
Mas, vincou, “não será suficiente simplesmente mobilizar os convertidos” ou forçar os outros a mudar de opinião com manifestações, protestos ou campanhas nas redes sociais.
Para além dos negacionistas, lembrou, existem “trabalhadores e comunidades que ainda dependem do carvão para a eletricidade e empregos”.
“Para construir as coligações de base alargada necessárias para uma ação arrojada, temos que persuadir as pessoas que não concordam connosco ou são indiferentes ao assunto”, explicou, urgindo os jovens a “canalizar” a raiva e frustração e a continuarem mobilizados.
“Fazer com que as pessoas trabalhem juntas a uma escala mundial demora tempo”, admitiu, e “todas as vitórias serão incompletas”.
“Às vezes seremos forçados a contentar-nos com compromissos imperfeitos, porque mesmo que eles não consigam tudo o que queremos, pelo menos eles fazem a causa avançar”, disse.
Decisores políticos e milhares de especialistas e ativistas reúnem-se até sexta-feira na COP26 para atualizar os contributos dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030 e aumentar o financiamento para ajudar países afetados a enfrentar a crise climática.
A COP26 decorre seis anos após o Acordo de Paris, que estabeleceu como meta limitar o aumento da temperatura média global do planeta entre 1,5 e 2 graus celsius acima dos valores da época pré-industrial.
Apesar dos compromissos assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia de covid-19, segundo a ONU, que estima que ao atual ritmo de emissões, as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7 ºC.