Em contacto permanente com o plantel, Ricardo Soares, treinador do Moreirense FC, pretende que os seus atletas “possam crescer e evoluir em algumas componentes do jogo”. O técnico de 45 anos tem também aproveitado este período para estar com a família e para pôr um dos seus principais hobbies em dia: a leitura. O tempo é de resiliência
O mês de janeiro marcou o regresso de Ricardo Soares à I Liga, depois de uma primeira metade de época ao serviço do SC Covilhã, da LigaPro. Um regresso pela porta do Moreirense FC, numa altura em que todo o Futebol Profissional atravessa um período de interregno, derivado à propagação do COVID-19 à escala mundial.
Momentos que, para o técnico que anteriormente orientou FC Vizela, GD Chaves, CD Aves e A. Académica, nas competições profissionais, exigem “uma grande dose de consciência individual e coletiva”, relembrando a magnitude do trabalho dos profissionais de saúde, que cumprem “o objetivo mais nobre da existência humana: tentar salvar vidas, sem estarem preocupados consigo próprios.”
Como é que o Ricardo Soares olha para o atual panorama nacional, em virtude dos efeitos da covid-19?
Procuro manter-me sempre a par da atualidade, através das notícias que nos chegam de minuto a minuto, até porque estamos perante uma realidade efetivamente preocupante, que exige que todos tenhamos uma grande dose de consciência individual e coletiva.
No fundo, nesta altura, temos de estar resguardados e ser muito resilientes, ficando em casa, para o bem de todos. Isto é aquilo que eu tenho feito, apesar de, como é óbvio, isto não ser fácil para ninguém. No entanto, acho que temos de pensar positivo e perceber que de momento não temos outra alternativa, olhando já para o futuro que será melhor e tudo isto certamente acabará por ser ultrapassado!
E como é que um treinador de futebol adapta aquilo que é o seu trabalho diário, face a uma situação destas?
A vida está constantemente a pôr-nos a prova, pelo que temos de nos saber ajustar e readaptar às circunstâncias que nos são colocadas. Nesse sentido, tenho passado algum do meu tempo a fazer algo de que gosto muito: ler.
Mais do que nunca tenho tido essa possibilidade e, nesse sentido, tem sido um aspeto positivo. Tenho também conseguido estar mais tempo com as minhas filhas, algo que nos últimos anos não tem sido muito fácil, em virtude das exigências da profissão que escolhi. Isso tem sido, sem dúvida alguma, de extrema importância, porque estou a conseguir, neste período, dar-lhes algo que noutras alturas não tive a possibilidade de dar.
Também tenho reservado especial atenção à componente física, pelo que tenho feito bastante exercício para me manter ativo. Aliado a isso, em termos profissionais, o trabalho passa essencialmente por manter ligação aos jogadores.
Procuro estar em contacto permanente, individual e coletivamente, com todo o grupo, sendo que tenho privilegiado o envio de vídeos para alguns jogadores, como forma de sugestão e trocas de ideias, de maneira a que os jogadores possam crescer e evoluir em algumas componentes do jogo.
Como têm os jogadores do Moreirense FC encarado este período?
É certo que esta não é uma situação fácil para eles, nem para qualquer português ou cidadão do mundo. Mas tenho notado, por parte dos meus jogadores, um grande sentido de responsabilidade, uma vez que todos eles têm conseguido perceber que, neste momento, o mais importante de tudo não é a nossa profissão nem a nossa carreira.
E penso que é de extrema importância nós conseguirmos transmitir esses valores a toda a gente, porque são fundamentais para a saúde de todos. E esse é, neste momento, o aspeto que assume maior importância no atual contexto mundial: a saúde.
O Ricardo Soares mencionou anteriormente ter um gosto especial pela leitura. Tem alguma recomendação para esta altura?
Neste momento estou a ler um livro chamado “Resiliência”, e penso que se ajusta claramente ao momento que estamos a viver. Tenho estado a gostar bastante e, pessoalmente, tem-me feito bem, pelo que acredito que também possa ser importante para outras pessoas.
No fundo, dá-nos uma visão de comportamentos empreendidos em períodos de adversidades extremas, em que foi possível, através de muita resiliência, dar grandes respostas e alterar o rumo das coisas. Neste momento, passamos por um período semelhante e a mim, pessoalmente, este livro acabar por elevar a autoestima e dá-me energia para conseguir seguir em frente.
Posto isto tudo, se tivesse de recomendar um livro a alguém neste momento seria este, para que as pessoas pudessem sentir uma força interior maior, de forma a ser mais fácil ultrapassar esta fase.
Que mensagem gostaria de deixar aos portugueses?
Em primeiro lugar gostaria muito, de uma forma bem vincada, agradecer aos profissionais de saúde e a todas as pessoas que estão na linha da frente, que estão a dar, como se diz na gíria, “o peito às balas”, em condições completamente desumanas.
O que é facto é que estão numa causa comum, com o objetivo mais nobre da existência humana: tentar salvar vidas, sem estarem preocupados consigo próprios.
Essa gente merece todo o nosso apoio e aplausos, mas fundamentalmente merecem a nossa gratidão, porque eles têm, sem dúvida alguma, realizado um trabalho extraordinário com condições desumanas, como já mencionei anteriormente. Para eles, o meu muito obrigado por esta forma de estar!
Por fim, acredito que é também necessário apelar às pessoas em geral para que fiquem em casa, porque isto não é uma brincadeira, como já pudemos todos constatar. Todos os dias morrem pessoas e todos os dias há pessoas que não têm possibilidades de se despedirem de pessoas que lhes são tão queridas e tanto lhes deram.
Tudo isto nos faz refletir e relembra-nos que temos uma grande responsabilidade a cumprir: ficar em casa para que isto possa passar de uma vez por todas!
(entrevista a cargo da Liga Portugal)