Sobreviveu à crise, ao Facebook e à Netflix: Azenha Club, há 20 anos a ‘dar tudo’ nas noites de Arcos de Valdevez

Reportagem
Foto: Arquivo

Foi em 1995 que Henrique Lago e José Gonçalves, sócios proprietários de uma cafetaria no centro de Arcos de Valdevez, resolveram iniciar uma nova aventura no mundo da restauração, tomando conta do seu primeiro espaço noturno: o Bar do Rio, um dos mais antigos (ou até o mais antigo) daquele concelho.

Situado na recôndita freguesia de Aboim das Choças, acabou por não resistir ao tempo, mas foi o test drive ideal para que a mesma sociedade fundasse, em janeiro de 2001, uma casa que prevalece até aos dias de hoje, juntando frequentadores vindos desde Valença até Ponte de Lima.

Dois anos como bar e 18 como discoteca, é esta a identidade do Azenha Club, situado a poucos metros da Praia da Valeta, nas margens de um dos rios mais puros de Portugal: o rio Vez.

Henrique Lago Pontes, ou “só Lago”, de 46 anos, conforme se identificou a O MINHO, sempre teve o bichinho destes espaços de diversão, com música, ambiente de boa disposição, dança e, claro, algumas bebidas para animar a noite.

Henrique Lago de visita à estátua de Freedy Mercury. Foto: Facebook de Lago Pontes

Depois de ter estado na organização do Festival dos Arcos, em 2000 [considerado naquele ano o melhor festival de verão do país], decidiu organizar-se com o sócio e fundar, no arranque de 2001, um espaço “de todos e para todos”.

Momentos altos, viu muitos, mas está convicto que “o maior de todos” será este sábado, quando o espaço celebra o vigésimo aniversário. “Correu sempre tudo muito bem ao longo dos anos, com muito público nacional e com os nossos amigos emigrantes”, conta.

Com casa aberta de forma ininterrupta, durante o verão, abre “todos os dias” à noite, para aproveitar o bom tempo, o fresco do rio e, claro, a vinda de quem encontrou uma vida melhor noutro país que não Portugal.

Azenha Club no verão. Foto: Luís Gonçalves

 

Azenha Club no inverno. Foto: Carlos Barbosa

Num distrito assolado pelo envelhecimento demográfico, onde os jovens, típico público-alvo deste tipo de casas, são em menor número, Lago desvenda a O MINHO o principal segredo para que o negócio apresente lucro todos os anos.

“Publicidade! Promovemos a casa todos os dias, mesmo quando não estamos abertos, e quando estamos, ficámos junto dos clientes de forma a garantir que estão a passar um bom bocado”, refere.

Mas Henrique Lago e José Gonçalves não se ficaram pela publicidade básica. De há 13 anos para cá, durante o mês de julho, é feita uma tour por várias associações e clubes portugueses em Paris, Bordéus e Lausana, onde existe uma forte implementação da comunidade portuguesa.

Azenha Club alvo de homenagem numa associação portuguesa em França. Foto: Facebook de Lago Pontes

“Fazemos lá festas com o nosso staff e apresentamos o cartaz para o mês de agosto para que fiquem a conhecer os eventos que temos agendados”, explica.

Fruto dessa visita, que garante não só o retorno financeiro em agosto mas também uma “enorme felicidade” ao serem recebidos “lá fora”, agosto é mês de casa cheia na Azenha.

Netflix matou as sextas-feiras

Antes de existirem “tantas fábricas” em Arcos de Valdevez, a discoteca abria “sextas e sábados” à noite, conta Lago. “Agora não abrimos à sexta porque muitos estão em turnos e não podem vir”, acrescenta. “Há dois anos que deixámos de abrir à sexta-feira”.

Nuno Araújo concorda, mas só em parte. O atual gerente, que começou, precisamente há 13 anos, como apanha-copos, hoje, aos 31 anos, é o homem de confiança da administração e tem outra justificação para a fraca afluência de sexta à noite.

“São as redes sociais e o streaming… Mataram a sexta-feira… Antigamente era diferente, as pessoas reuniam-se para conversar, mas agora conversam pelas redes sociais, já nem precisam de estar juntas”, diz, apontando ainda o dedo à “Netflix“.

Nuno Araújo no 19.º aniversário do Azenha Club. Foto: Facebook de Nuno Araújo

“Outros preferem passar o serão em casa a ver uma série, tranquilos, e isso antigamente não era tanto assim”, acrescenta.

Nuno destaca ainda outra mudança, a de gerações: “Estas novas gerações já nasceram com as redes sociais, mas também são mais civilizados. Antigamente havia mais gente mas também mais confusão”, recorda.

Vodka e Whisky sempre no topo. Gin passou a ser a terceira bebida

Ainda sobre as diferenças ao longo das duas últimas décadas, Nuno Araújo confidencia que, atualmente, o Gin é das bebidas mais requisitadas, mas nem sempre foi assim. “Antigamente, uma garrafa de Gin durava quase um ano (risos), mas agora é moda”.

Vodka e Whisky, no entanto, foram sempre as duas bebidas mais consumidas no espaço, tanto em 2001 como em 2021, com o Gin a superar os conhaques como terceira “bebida de serviço”.

O que esperar do aniversário

Os primeiros 200 clientes a entrarem no Azenha Club, no próximo sábado, recebem um cocktail gratuito. Para além disso, poderão observar uma “decoração especial”, para além de terem um barman de serviço (vindo de Ponte de Lima) para fazer todo o tipo de cocktails.

Para dar música, dois dj’s que “muito dizem” a gerações mais antigas da música eletrónica. Miguel Rendeiro é repetente. Esteve no primeiro aniversário do espaço e agora regressa para soprar as vinte velas.  Outro dos dj’s convidados é uma estreia: XL Garcia, “velha guarda”, como apelida Nuno.

Ainda aguentam a pedalada

Henrique Lago, de Aboim das Choças, não está farto da vida da noite. “Ainda aguento bem a pedalada”, confidencia. Já Nuno, da freguesia de Oliveira, não só afirma aguentar como quer estar “pelo menos mais vinte anos” a gerir o espaço noturno mais emblemático de Arcos de Valdevez e arredores.

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