Banco de Portugal deverá manter prejuízos operacionais por mais 2 anos

Afirmou Mário Centeno na comissão parlamentar de Orçamento e Finanças
Foto: Lusa

O governador do Banco de Portugal disse hoje, no parlamento, que o banco central deverá continuar a ter prejuízos operacionais por mais dois anos e que, para já, a perspetiva é que as provisões serão suficientes para cobrir as perdas.

“Se olharmos para o ciclo da política monetária tal como se coloca hoje – inflação e taxas de juro – podemos antecipar que este ciclo de resultados negativos se vai prolongar por mais dois anos, havendo expectativa de todos os bancos centrais de que em 2026 se retome uma situação mais regular”, disse Mário Centeno na comissão parlamentar de Orçamento e Finanças, onde está a ser ouvido sobre a atividade e as contas do Banco de Portugal (BdP).

Durante os anos em que o BdP tiver resultados operacionais negativos, disse Centeno que continuarão a ser usadas as provisões acumuladas no passado para cobrir esses prejuízos e apresentar um resultado líquido nulo, tendo considerado que há uma “folga bastante significativa”.

Contudo, vincou que o BdP considera que a almofada financeira acumulada será suficiente para cobrir perdas na “perspetiva que temos hoje do ciclo de política monetária”.

No total, para fazer face a potenciais perdas, o Banco de Portugal tem 2.800 milhões de euros em provisões para riscos gerais.

O ex-ministro das Finanças (governo PS liderado por António Costa) disse ainda no parlamento, em Lisboa, que os resultados operacionais negativos não afetam a missão do banco central.

O Banco de Portugal teve um resultado líquido nulo em 2023, após ter usado as provisões para cobrir um prejuízo operacional de 1.054 milhões de euros, segundo o Relatório do Conselho de Administração de 2023, divulgado em maio.

O banco central explicou os resultados pela evolução da política monetária, com impacto na subida do custo de passivo, subida da remuneração do ativo mas que não acompanha custo do passivo e redução do balanço.

Já em maio de 2023, quando divulgou os resultados do Banco de Portugal em 2022 (lucros de 297 milhões de euros, menos 42% do que em 2021), Centeno tinha avisado que o banco central estava a entrar numa fase de resultados negativos devido ao aumento das taxas de juro com impacto nos resultados do banco central.

“Nem foi grande mérito do Banco de Portugal os resultados anteriores terem sido o que foram, nem agora é grande demérito do Banco de Portugal os resultados serem o que são”, afirmou então Centeno, acrescentando que a gestão de risco feita pelo banco central “segue padrões comuns do Eurosistema e que colocam o Banco de Portugal numa posição confortável”.

Em 2023, o Banco Central Europeu (BCE) teve perdas líquidas de 1.266 milhões de euros, face a lucro nulo em 2022, não distribuindo lucros aos bancos centrais pelo segundo ano consecutivo.

Este foi o primeiro prejuízo do BCE desde 2004, quando a valorização do euro face ao dólar levou o organismo a registar um resultado negativo de 1.636 milhões de euros.

O BCE explicou que estes resultados são consequência da subida das taxas de juro para travar a inflação e previu que estas perdas se repitam nos próximos anos, em consonância com os resultados que estão a ser obtidos pelos restantes bancos centrais do mundo, para posteriormente voltar a uma trajetória de crescimento sustentado.

Já em 2022 o banco central da Alemanha (Bundesbank) registou o primeiro prejuízo em quarenta anos mas que cobriu com provisões. Então, a autoridade de auditoria do país alertou que o Bundesbank poderia nos próximos anos vir a precisar de recapitalização para compensar perdas.

Em 2023, o Bundesbank registou lucro nulo depois de ter esgotado as suas provisões e de ter retirado 2.381 milhões de euros de reservas para evitar perdas.

 
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