Voluntárias de Guimarães ajudam a construir casa na Índia

Voluntariado
Foto: DR

Elisabete Santos e Dora Fernandes são amigas desde a infância. São as duas naturais da Bairrada, mas Dora há mais de 30 anos que faz vida em Guimarães, onde constituiu família, trabalha (é terapeuta ocupacional), viu os filhos nasceram e dá azo a uma das suas maiores paixões: fazer voluntariado. Foi esta paixão que voltou a juntar as amigas e com elas mais 13 mulheres que se organizaram para construir uma casa na Índia.

Em Portugal, Dora dedica-se “de alma e coração” à Refood mas a vontade de ir para fora fazer voluntariado nunca a largou. Em 2016, juntamente com Elisabete, foram para o Perú, numa missão de voluntariado tendo “a experiência sido muito boa. Estivemos um mês a trabalhar com crianças e idosos e foi muito gratificante”.

Dois anos depois decidem repetir a experiência mas, desta vez, a escolha recaiu na Índia.

“O local foi quase aleatório porque íamos onde houvesse projectos interessantes, que nos chamassem mais a atenção”. Antes de irem, um amigo indiano, “falou-nos de uma fundação que lá havia, que é a Fundação Vicente Ferrer, de um senhor espanhol, da Catalunha, missionário, que dedicou toda a sua vida a ajudar as famílias, numa zona muito carenciada, em Anantapur”.

Goa

A primeira experiência de Dora e Elisabete foi numa das regiões mais pobres do estado de Goa, onde estiveram cerca de um mês. “Decidimos deixar a última semana para conhecer o trabalho da Fundação, cuja base fica a mais de duas horas de avião do local onde nos encontrávamos”.

Depois de cinco dias no terreno, “ficamos fascinadas com o trabalho da Fundação. É um trabalho meritório, transparente e de uma grandiosidade a que nós não estamos habituados quando se associa o trabalho a uma fundação”.

Foi em Goa que conheceram a jornalista Nalini Sousa, que trabalha muito na área do voluntariado e apoia uma série de orfanatos, um dos quais tiveram oportunidade de visitar.

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“Este ano, como podíamos levar uma mala de 30 quilos, no porão, cada uma de nós levou a mala cheia de material escolar e material de higiene pessoal, num total de 400 quilos”.

Anantapur

A Fundação tem o seu raio de acção espalhado por Anantapur, uma região dominada pelos Dalith, a casta indiana mais baixa, bastante pobre e sem acesso às condições básicas de vida. O primeiro projeto que as duas amigas se envolveram metia bicicletas pelo meio. Organizaram um jantar de angariação de fundos, na região centro, onde conseguiram dinheiro para comprar 20 velocípedes.

A Fundação tem um projeto onde oferecem bicicletas para as crianças irem para a escola.

“É um dos métodos que usam para combater o abandono escolar”. Apesar de o ensino ser obrigatório, muitas crianças não vão à escola e “as bicicletas têm ajudado a que continuem a frequentar a escola”, revela ainda Dora a O MINHO.

Apesar de as castas serem proibidas, nesta região ainda se praticam muito e 90% da população são da casta mais baixa, os Dalith (os intocáveis): “não têm direito a nada, inclusive irem à escola. A Fundação protege e apoio esta casta e um dos métodos é oferecer bicicletas”.

Segunda viagem, 15 pessoas

No regresso, prometeram voltar e levar mais pessoas. “O objectivo inicial era cada uma de nós levar mais uma pessoa mas levamos 13. Resolvemos fazer algo mais arrojado e oferecemos uma casa”.

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As quinze amigas estiveram dez dias, em finais deste ano, a conhecer a Fundação, a região e a realidade indiana.

A Fundação consegue uma parceria com o estado que cede o terreno, oferece os materiais e são os habitantes, com ajuda especializada, que constroem as habitações. A casa tem um custo de 2400 euros e foi esse valor que entregaram: “fizemos um jantar solidário nas Taipas, onde juntamos 150 pessoas que superou as nossas expectativas”.

Casa para um casal com dois filhos

Uma placa identifica a missão vimaranense, “Índia Nova Descoberta”, dando “transparência” ao trabalho que é feito. É uma casa com duas assoalhadas com casa de banho exterior: “eles não estão habituados a usar casa de banho e pedem-na no exterior mas é também uma exigência da fundação por causa da parte da saúde pública, do ambiente e para evitar as violações das mulheres que têm que se afastar das zonas habitacionais para fazer as suas necessidades”.

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A casa construída com os donativos conseguidos pelas 15 mulheres portuguesas ficou para um casal com dois filhos e foi inaugurada juntamente com mais 19 habitações. Anantapur não tem nada para ver. “Tem uma área, graças ao Vicente Ferrer que descobriu água, com plantações mas não tem um hotel sequer”.

A Fundação trabalha exclusivamente para os Dalith, 90% da população, e já tirou 3 milhões de pessoas da pobreza extrema.

“Entre as castas mais baixas, muito deles não são registados, não existem como pessoas, não têm documentos. Os Dalith não têm direito a nada, se eu for de uma casta baixa não posso, sequer, cruzar a sombra de uma casta mais alta porque posso ser morta”.

Registo em nome das mulheres ou deficientes

Para Dora Fernandes o que mais choca a quem visita a Índia “é o desrespeito pelos direitos humanos de mulheres e crianças, sobretudo, daquelas que têm alguma incapacidade”. Todo o trabalho da Fundação tem subjacente esta ideia e por exemplo, “as casas ficam sempre registadas em nome da mulher ou se houver na família uma criança com deficiência, no nome dela: têm um respeito e um trabalho muito grande na defesa dos direitos humanos e só depois é que se preocupam com a erradicação da pobreza”.

A verdade é que todo o trabalho preparatório feito em Portugal foi intenso e Dora não hesita em dizer: “achei que não íamos conseguir e nunca, nos meus mais ínfimos pensamentos, pensei que iríamos reunir tanta gente para ir connosco. Nós sabíamos ao que íamos, naquilo em que estávamos a acreditar mas as outras pessoas não e acreditaram apenas em nós e no nosso entusiasmo”.

Sobre o futuro nada sabe. “Começou de forma inesperada, cresceu de uma forma ainda mais inesperada e eu tenho a firme convicção que não vai parar. Todas vamos continuar mas a Índia vai ficar sempre no nosso coração”.

 
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