Vinte e três bombeiros voluntários de Viana param em desacordo com direção

São contra a nomeação do novo comandante

Vinte e três dos 80 operacionais que compõem o quadro ativo dos Bombeiros Voluntários de Viana do Castelo suspenderam funções por discordarem do elemento indicado pela direção para o comando da corporação, disse hoje um dos operacionais.

Em declarações à agência Lusa, Paulo Rodrigues explicou que aquele elemento “não é do agrado da maior parte do corpo de bombeiros por não ter o perfil adequado às funções que vai exercer”.

“Há quatro anos que é bombeiro na corporação e, durante este período, pela forma como se relacionou com os seus colegas não revelou ter o perfil adequado às funções que, eventualmente, irá desempenhar”, afirmou.

Contactados pela agência Lusa, o presidente da direção dos Bombeiros Voluntários, David Lourenço e, o comandante operacional distrital (CODIS) de Viana do Castelo, Marco Domingues, garantiram que a ausência daqueles elementos “não teve impacto no socorro prestado à população”.

O pedido de inatividade de funções, pelo período de um ano, foi apresentado pelos 23 operacionais, em dezembro, durante uma assembleia-geral da associação humanitária dos Bombeiros Voluntários.

“Quando o comandante em substituição nos deu conhecimento do nome indicado, gerou-se um mau estar e um sentimento de recusa em ser comandados por um elemento em que não nos reconhecemos”, destacou.

Paulo Rodrigues, que durante uma década desempenhou as funções de segundo-comandante e que, em abril de 2020, assumiu o cargo de comandante interino, condenou a “indiferença que tem vindo a ser demonstrada pela direção” face ao “número elevado de pedidos de inatividade apresentados”.

“Mostra que há um interesse grande em querer nomear aquele elemento, não importando que, de um momento para o outro, o corpo de bombeiros, que já não muito extenso, com 45 operacionais, fique diminuído em 23 operacionais. Estamos a falar de chefes, subchefes e de uma parte substantiva dos bombeiros de primeira que o corpo ativo deixou de ter. Isso é grave”, sublinhou.

Segundo Paulo Rodrigues os 23 elementos “são operacionais experientes, com entre 20 e 35 anos de carreira”, enquanto os 16 elementos “que ficaram em funções são novos e com poucos anos de experiência”.

“A direção, pura e simplesmente não tem ligado a essa situação. Não houve, sequer, abertura por parte da direção em querer falar com os bombeiros, em tentar perceber a razão de não aceitarmos o elemento proposto”, criticou.

Já o presidente da direção, David Lourenço, referiu que a escolha do comandante é um “direito estatutário” que detém, mas que o elemento escolhido “vai ter de seguir um percurso formativo na Escola Nacional de Bombeiros”.

“A competência para desempenhar as funções de comandante será sempre validada pela Escola Nacional de Bombeiros. Não é o presidente, nem os membros da direção que atestam a competência do comandante”, frisou.

Nesse sentido, classificou de “extremista e desnecessária” a posição dos 23 operacionais, por considerar que a nomeação está dependente de validação pela Escola Nacional de Bombeiros.

“Desses 23 elementos também é preciso saber quantos prestavam, efetivamente, serviço de voluntariado”, atirou.

O nome proposto, avançou, foi “escolhido decorridos seis dos 10 meses” que leva de mandato como presidente da direção dos bombeiros e “por não ter havido uma solução melhor”.

“Tenho a perfeita consciência de que a instituição precisa de uma reorganização interna e uma peça essencial é um comandante a tempo inteiro”, destacou.

David Lourenço afirmou ter sido instaurado “um inquérito interno para apurar responsabilidades relativamente acusações muito graves que vieram a público e que põem em causa o bom nome do funcionário, além de exporem na praça pública uma instituição com 140 anos”.

“Mediante as conclusões terei de tomar as diligências adequadas aos factos”, avisou.

O primeiro CODIS de Viana do Castelo, Marco Domingues, disse ter reportado o caso à Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) e estar a acompanhar a situação, atento a todas as preocupações que o comandante em substituição lhe fizer chegar”.

Adiantou que, na segunda-feira, reuniu-se com o comandante em substituição, tendo sido informado “da inexistência de qualquer impacto imediato nas emergências”, após a suspensão de funções dos 23 operacionais.

“Os corpos de bombeiros trabalham em rede e suprimem as necessidades uns dos outros. Por esse facto, o socorro não está em causa. O município de Viana do Castelo, além do corpo de Voluntários, tem uma Companhia de Sapadores Bombeiros, uma Viatura de Emergência Médica (VMER), sediada no hospital de Santa Luzia e tem o parceiro, a Cruz Vermelha, para o socorro pré-hospitalar. É um município com grande capacidade de resposta. Esta crise, como todas as outras, será passageira e terá solução”.

O responsável indicou que o Recenseamento Nacional de Bombeiros Portugueses, refere que o quadro ativo da corporação é composto por 80 elementos”.

Fundados em 1881, os Bombeiros Voluntários de Viana são das mais antigas corporações do país.

 
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