Abriu esta quinta-feira um novo hipermercado na cidade de Barcelos, pertencente ao grupo espanhol Mercadona, e já recolheu algumas críticas por parte de vendedores da feira semanal, que se mostraram, desde logo, irritados com o dia de abertura ter sido no mesmo dia da feira.
O MINHO falou com alguns feirantes que dividem opiniões em relação ao novo espaço, mas todos concordam que irá tirar clientela ao local de comércio da cidade.
Maria Adelaide Cruz, de Estela, Póvoa de Varzim, vende frutas e legumes, e sente-se bastante afetada com “tantos hipermercados” ao redor do recinto da feira.
“Hoje notou-se muita diferença em relação às outras semanas, não houve tanta afluência e não vendi quase nada”, lamenta.
A vendedora crê que foi uma afronta terem escolhido uma quinta-feira para abrir a nova loja e sente-se prejudicada por isso. “Acho que podiam fechar os supermercados nos dias de feira, mas sei que não é possível”, diz.
Acha, também, um grande contra “abrir tanto supermercado ao redor da feira”. “Estão muito perto, e isso prejudica-nos a nós, vendedores, e aos agricultores, já que só vimos uma vez por semana”.
Isabel Casais, de 31 anos, vende legumes e produtos de hortícola. Diz ter notado diferença ao longo do dia de hoje mas confessa que essa diferença “não é assim tanta”.
“Anda menos gente e vende-se menos, não digo que seja só por causa do hipermercado, porque também é fim do mês e isso contribuiu, mas não tenho dúvidas que algumas pessoas que cá costumam vir foram à nova loja”, afirma.
A vendedora refere que o problema não é este hipermercado em particular, mas sim todos em conjunto. “Toda a minha vida andei por aqui e fui notando uma grande diferença conforme foram abrindo mais hipermercados”, aponta.
Mas Isabel compreende o porquê de muitos consumidores preferirem aqueles espaços comerciais.
“Hipermercados são mais práticos, há estacionamento, não apanham chuva, e não apanham multas como acontece cá”.
Para que as pessoas regressem à feira, Isabel crê que é necessária uma mudança de mentalidade no consumidor. “Muitas pessoas vão lá porque julgam comprar mais barato mas as coisas são muito mais caras nos hipermercados e as pessoas já nem reparam nisso. Eu também compro algumas coisas por lá e vejo algumas promoções mas os outros produtos são mais caros, por vezes até três vezes mais”, salienta.
Maria Costa, vendedora de ração e produtos relacionados com animais, diz não notar grande diferença na afluência de pessoas, mas confessa-se um pouco incomodada porque muitos dos clientes admitiram que, depois de dar uma volta pela feira, iam ao novo espaço comercial.
“Fico um bocado chateada com isso mas a vida é mesmo assim, os hipermercados tiram-nos muito negócio e acho que vai ser cada vez pior”, diz.
“Não sei como se pode resolver, antigamente não havia grandes superfícies e as pessoas vinham muito cá, mas agora isto vai morrendo aos poucos”, admite.
Todavia, Maria percebe o ponto de vista do consumidor, e diz mesmo que a nova loja Mercadona “fez bem em abrir por cá, sobretudo por trazer vantagens ao consumidor”. Mas recorda que “para o comércio local, nem por isso”.
Conceição Rolo, de Belinho, Esposende, diz que é preciso que todos “ganhem a vida” e, ao contrário dos colegas vendedores, não se mostra afetada pela abertura de novo hipermercado.
“Cada um vai vivendo o seu negócio e o dia a dia, porque todos temos de viver, tanto os feirantes como os hipermercados”, vinca. “Quem trabalha de dia também não consegue vir cá comprar, e por isso para essas pessoas é melhor o supermercado”, realça.
“Não podemos ser invejosos”, termina.
Conceição Pena, de Fornelos, Barcelos, vende plantas e hortícolas, por isso admite não sentir tanto a abertura dos hipermercados. “Quem vende fruta sente mais”, adianta, revelando que do seu “lado” tem sido “tudo igual”.
“Há mais gente lá a ver mas depois voltam à feira. Não tenho receio dos hipermercados, o povo escolhe, quer ir à feira vai, se não quer, não vai. É onde for mais barato e onde agradar”, diz.
Pelo recinto da feira de Barcelos, constatou-se que os vendedores de produtos alimentares são os mais afetados com a abertura de novos espaços com grandes superfícies, mas todos concordam que é preciso existir um equilíbrio entre as duas partes, de forma a que o consumidor saia sempre a ganhar.