ARTIGO DE HUGO MIGUEL PEREIRA
Presidente da Comissão Política da JSD de Ponte de Lima
Até à revolução de 1974, o caráter corporativista do Estado Novo não permitia qualquer autonomia no poder local. Os órgãos da administração local não tinham carácter verdadeiramente representativo e os seus titulares não passavam de meros intermediários entre o povo e o Estado central.
Com a revolução o poder local conquista autonomia e o povo vota nos seus representantes, que passam a responder perante quem os elegeu. Dá-se então uma mobilização popular sem precedentes para as juntas de freguesia e câmaras municipais com grandes campanhas e eleições seriamente concorridas. Havia vontade de participar nas decisões que iriam ter repercussão directa na própria comunidade, porque agora não é o interesse geral do Estado central que está em causa, mas sim os interesses específicos das populações nos meios onde se inserem.
Esse fervor do pós-revolução foi morrendo com os anos – por razões tão debatidas e consensuais que me absterei de as enunciar – de tal modo que hoje tudo se circunscreve apenas àqueles que assumem um papel mais activo no seio das estruturas partidárias locais. Foi-se estabelecendo uma “linha de continuidade” nos diferentes panoramas autárquicos que nem mesmo a limitação de mandatos conseguiu atenuar. As redes clientelares que se estabelecem à volta deste poço que só recentemente descobrimos que tem fundo, que é o dinheiro público, entranham-se por toda a comunidade de tal modo que fazer uma inversão, tão saudável para a democracia, em qualquer município requer um conhecimento profundo das relações entre as várias entidades, instituições religiosas, grupos desportivos, associações, empresas, e entre estas e os órgãos do poder autárquico. Formam-se assim sistemas fechados que não têm vontade nem espaço para receber novas pessoas, novas ideias, novas formas de fazer política. Já perdi conta das vezes que ouvi excluir a priori algum putativo candidato apenas em razão da sua idade. É absurdo descartar sistematicamente uma geração que se diz ser a mais qualificada de sempre. Ficamos presos a um passado obsoleto.
A política local precisa de capital humano jovem, qualificado, com vontade de fazer diferente. Deixar o betão e o alcatrão para explorar novas áreas de intervenção na cultura, na economia, no ambiente, na educação. Apenas uma geração que vive o mundo como um todo pode responder eficazmente aos desafios do futuro – pensar globalmente, agir localmente. Se para tal for necessário forçar uma ruptura intergeracional, que assim seja.
Como líder de uma estrutura partidária local penso que os partidos não devem descurar a vertente formativa, pois um bom candidato não é aquele que apenas ganha eleições, mas aquele que tem capacidade para exercer o mandato sem defraudar as expectativas da população. É missão dos partidos fazer com que os seus candidatos saibam lidar com os instrumentos jurídicos e técnicos que serão essenciais na prossecução das suas actividades enquanto autarcas. Estou receptivo a todo o tipo de esclarecimentos e, com os meus companheiros em Ponte de Lima, partilho a vontade de dinamizar um conjunto de iniciativas com jovens independentes já a olhar para as próximas autárquicas em 2017.
Por uma nova geração no poder local iremos renovar o actual panorama político, afastar o establishment onde abunda a incompetência, o anacronismo. Olhar para os bons exemplos que felizmente existem e aprender com eles na esperança de, no futuro, fazer ainda melhor.
Hugo Miguel Pereira, Presidente da Comissão Política da JSD de Ponte de Lima
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