Uma em cada três organizações da cultura perde postos de trabalho em 2020

Covid-19
Uma em cada três organizações da cultura perde postos de trabalho em 2020

Mais de um terço das organizações da cultura (34,6%) perde postos de trabalho este ano, no contexto da paralisação imposta pela pandemia de covid-19, verifica o Observatório de Políticas de Comunicação e Cultura da Universidade do Minho.

A conclusão provém dos resultados hoje divulgados, referentes ao questionário do estudo “Impactos da covid-19 no setor cultural português”, elaborado pelo Observatório de Políticas de Comunicação e Cultura da Universidade do Minho, que, para perto de metade dos profissionais do setor, encontra perdas superiores a 75% das suas receitas.

De acordo com os dados, esta redução deverá situar-se entre 25% e os 75% dos postos de trabalho existentes antes da paralisação e do estado de emergência, em cerca de 34% por cento das organizações.

No que respeita a volume de negócios, este ano, mais de um quarto das organizações (27,3%) estimam uma quebra de 75% nas receitas, enquanto uma em cada cinco (20,9%) admite quebras entre os 50% e os 75%.

Estes números significam que perto de metade das entidades conta com perdas superiores a 50% do volume de vendas, em 2020, enquanto só 19,1% das organizações inquiridas não esperam impactos da covid-19 nas suas receitas.

Os dados recolhidos pelo observatório indicam que 15% dos inquiridos (15,5%) admitiu perdas entre os 25% e os 50% do volume de negócios e 17,5 perdas até 25% do volume de negócios.

Ao nível dos profissionais da cultura, 70,5% registarão perdas superiores a 50% no volume de negócios, em 2020, indicam os dados do estudo, com quase metade (45%) dos profissionais a reconhecer quebras de receita acima dos 75%, enquanto mais de um quarto (25,5%) admitem perdas entre os 50% e os 75%.

Com perdas entre os 25 e os 50% do volume de negócios estão 12,9% dos profissionais, e, inferiores a 25%, apenas e 3,3%.

Apenas 11,8% dos profissionais da cultura admitiram não perder receita, no contexto do combate à covid-19.

Para os autores do estudo, a demonstração da fragilidade do tecido cultural português constitui uma das consequências mais relevantes da crise provocada pela resposta à pandemia, com a maior precariedade e fragilidade social e económica de todo o setor.

Destacam-se, neste caso, os prestadores de serviços a recibos verdes (artistas e técnicos), e algumas estruturas pequenas, assim como “a não sobrevivência de projetos artísticos de grande valor”, pondo em causa a necessária diversidade cultural.

A fragilização ainda mais pronunciada do setor português da cultura, por falta de estruturas de base e de estatutos profissionalizantes, que o sustentem, são outros fatores postos em evidência.

O impacto negativo da covid-19 na cultura traduz-se ainda no desaparecimento de entidades artísticas e na inexistência de trabalho artístico e cultural em todas as áreas, no desemprego provocado pela redução de atividades com público, e no afastamento cada vez maior dos portugueses do tecido cultural, com consequente empobrecimento humano e artístico, a nível social.

A necessidade de reinvenção do tecido cultural, para sobreviver à crise, é outra consequência que a própria crise impõe, segundo o estudo.

Os questionários foram elaborados entre 20 de março e 19 de maio deste ano, tendo sido validados 381 questionários (71,1% a profissionais e 28,9% organizações).

A maior percentagem de inquiridos tem domicílio fiscal na Área Metropolitana de Lisboa e nas regiões Norte e Centro, do país, embora tenham respondido ao questionários profissionais e organizações de todas as regiões de Portugal, incluindo Açores e Madeira.

O projeto é da responsabilidade do investigador Manuel Gama, do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho, e um dos coordenadores do Observatório de Políticas de Comunicação e Cultura.

Fazem ainda parte da equipa o analista de dados e mestre em Sociologia Políticas e Sociais, da Universidade do Minho, Rui Vieira Cruz, o mestre em Sociologia pela Universidade do Minho, e especialista em Desenvolvimento e Políticas Sociais, Daniel Noversa, e Joana Almada, formada em Teatro pela Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa.

 
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