Serge, a vítima mortal resgatada das águas nesta terça-feira, em Terras de Bouro, e que completaria 52 anos de idade no verão, encontrava-se de férias em Portugal, onde resolveu conhecer a popular ‘cascata do Tahiti’ por ser um apaixonado da montanha.
Acompanhado pela esposa e as duas filhas, ambas adolescentes, Serge, ao início da manhã demandou até à Cascata de Várzeas, nome da popularmente chamada Cascata do Tahiti, em Fecha de Barjas, na Ermida, freguesia de Vilar da Veiga, Terras de Bouro, mas para descer até ao chamado poço do fundo, teve de percorrer, com a esposa e as duas filhas, cerca de dez minutos de um trilho sinuoso e estreito, findo o qual, a partir de um conjunto de penedos, tem de se saltar para atingir aquele enclave do rio Arado.
Segundo testemunhas oculares, ao percorrer um penedo para aceder ao fundo da cascata, desequilibrou-se e caiu ao veio de água que conduz ao designado poço do fundo, onde a força descendente da corrente e o alto caudal o deixaram submerso.



De acordo com os Bombeiros de Terras de Bouro, para que o resgate da vítima ocorresse em condições de segurança para as equipas de mergulho, foi necessário desviar, momentaneamente, o normal curso de água com recurso a várias motobombas portáteis.
“Destacamos a complexidade desta operação devido ao grande caudal que se verificava no curso normal da linha de água”, referiu o comando da corporação.
Por volta das 16:15 desta terça-feira, precisamente cinco horas depois do seu afogamento, os mergulhadores (“homens-rã”) das várias corporações de bombeiros do distrito de Braga envolvidas nas ações de socorro, encontraram-no já debaixo de água.
Até então as informações eram contraditórias, havendo quem aventasse a hipótese de a vítima ainda estar viva, mas à medida que o tempo se ia passando, as esperanças foram-se desvanecendo, tendo sido encontrando o cadáver num redemoinho.



A autópsia a realizar esta quarta-feira, no Gabinete Médico Legal e Forense do Cávado, em Braga, é que revelará qual a causa direta da morte, isto é, se quando ficou submerso na água, pelo afogamento, estaria já morto, ao bater com a cabeça nas rochas.
Ao longo de cinco horas consecutivas mantiveram-se duas equipas do INEM, uma com um médico e um enfermeiro, da Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) e a outra do Centro de Apoio Psicológico e de Intervenção em Crise (CAPIC).
As operações de socorro foram comandadas por Nélson Moisés, adjunto do Comando dos Bombeiros Voluntários de Terras de Bouro, que destacou “a boa articulação entre todas as entidades envolvidas nesta ocorrência, e o empenho e profissionalismo dos operacionais para o sucesso deste resgate aquático”.
A GNR esteve presente desde o início com uma patrulha do Posto Territorial da GNR da Vila do Gerês, que colaborou com o Posto de Busca e Resgate em Montanha no Parque Nacional Peneda-Gerês da Unidade de Emergência de Proteção e Socorro.
Na ocorrência estiveram envolvidos 22 meios e 61 operacionais, dos Bombeiros Voluntários de Terras de Bouro, Bombeiros Voluntários de Amares, Bombeiros Voluntários de Barcelinhos, Bombeiros Voluntários de Barcelos, Bombeiros Voluntários de Braga, Bombeiros Voluntários de Esposende, Bombeiros Voluntários de Fão, Bombeiros Voluntários de Viatodos, Bombeiros Voluntários de Vila Verde, Militares do PTBRM PNPG, Cruz Vermelha delegação de Rio Caldo, equipas da UEPS da GNR, patrulha da GNR do Gerês, UMIPE do INEM, VMER do Hospital de Braga, Coordenadora Municipal de Proteção Civil e serviços municipais.



Moradores pedem mais segurança
Desde o final da manhã um grupo de moradores da localidade de Ermida ajudaram as forças de socorro e segurança, disponibilizando uma escada e pranchas de alumínio, para os socorristas poderem atravessar a Cascata do Tahiti em segurança. Valter Afonso, proprietário do Café Fojo dos Lobos, da vizinha localidade de Fafião, em Cabril, Montalegre, foi ao local da ocorrência, teatro de operações, levar alimentos e bebidas para os operacionais que ali estiveram horas consecutivas.
Paulo Salgado, um desses cidadãos que ativamente se envolveram no socorro, afirmou a O MINHO “serem muito frequentes, nestas cascatas, os acidentes com quedas”, e recordou outras mortes naquela cascata, como a de um casal, após queda no poço do fundo, ou mais acima, na cascata do Arado”.
A última morte tinha sido precisamente na cascata do Arado, onde um bancário algarvio, ao fazer uma selfie, escorregou e caiu para a água, numa altura de cerca de 30 metros, tendo falecido imediatamente à frente do seu filho, tudo isto em poucos segundos.
“As cascatas têm tanto de bonitas, como de perigosas, mas há muitas pessoas que, desconhecendo o perigo, se aventuram, não calculando devidamente todos os riscos e às vezes dão-se as tragédias como esta”, disse Paulo Salgado, apontando para “famílias com as crianças ao colo e chinelos de praia a descerem a penedia escorregadia”.