A associação que representa os transportadores rodoviários de mercadorias considerou hoje que a descida do Imposto sobre Produtos Petrolíferos (ISP) terá um “impacto muito reduzido” e lembra que as empresas “estão no seu limite”, antevendo insolvências “a breve trecho”.
Em declarações à Lusa, o porta-voz da Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (Antram), André Matias de Almeida, disse que “a descida de um e dois cêntimos no gasóleo e na gasolina é imediatamente consumida pela subida na próxima segunda-feira de cerca de dois cêntimos”.
Na sexta-feira, o Governo anunciou uma descida, a partir de hoje, “de dois cêntimos no ISP da gasolina e um cêntimo no ISP do gasóleo” para responder à escalada dos preços dos combustíveis.
Apesar de elogiar a medida, a Antram entende que o seu impacto “será muito reduzido”.
Para a associação, que representa duas mil empresas, o Governo devia combater o aumento dos preços nos combustíveis “diminuindo a carga fiscal”.
“Mais de 60 cêntimos em impostos em cada um euro de combustível é um exagero”, sentenciou André Matias de Almeida, defendendo que o Governo deveria, não podendo reduzir os impostos, “encontrar um pacote de apoio no Orçamento do Estado que pudesse ajudar a esbater” o efeito da subida dos preços dos combustíveis.
Segundo a Antram, as empresas de transporte rodoviário de mercadorias “estão no seu limite” face aos aumentos nos combustíveis e nos salários dos motoristas.
“Adivinhamos cenários de insolvência a muito breve trecho”, afirmou o porta-voz da associação, assinalando que o custo efetivo do transporte de mercadorias não reflete as subidas nos salários dos motoristas e nos preços dos combustíveis porque “o mercado não o permite”.
“Um transporte de Lisboa para o Porto está a custar em média 250 a 270 euros. Este preço é assim há 10 anos, não foi alterado para cima e na altura nem o preço dos combustíveis era este nem o da folha salarial era sequer parecido”, exemplificou André Matias de Almeida.
A Antram revelou-se “muito expectante e empenhada” numa reunião prevista para breve com o Governo para discutir medidas para o setor, como “um novo tratamento fiscal para as empresas”.
Na quarta-feira, após uma reunião de emergência, a Antram anunciou que pretende “definir as medidas necessárias para responder” ao aumento dos custos com os combustíveis.
Atualmente a viver o período com preços de gasóleo e gasolina mais caros dos últimos três anos, Portugal viu esta semana, pela primeira vez, o custo de venda ao público de um combustível ultrapassar a barreira dos dois euros por litro em alguns postos de abastecimento das áreas de serviço nas autoestradas.
Uma situação que resulta de uma conjugação de fatores, desde restrições por parte dos grandes exportadores de petróleo, à explosão da procura após a contenção durante a pandemia de covid-19 e à pressão sentida em toda a cadeia logística, onde se têm registado subidas de preços não só nos transportes, mas também nas operações portuárias e nos seguros.