Trabalhadora diz viver ‘inferno’ após acidente de trabalho na Santa Casa da Misericórdia de Braga

Acusa instituição de “assédio laboral” e “racismo”
Foto: DR

A Santa Casa da Misericórdia de Braga, uma instituição com mais de meio milénio e das mais prestigiadas e abrangentes do país a nível suas valências assistenciais, está a viver momentos conturbados devido a conflitos latentes com uma trabalhadora, nascida em Angola, que se queixou de “racismo” e “assédio laboral”, a par de “ameaças” pelo advogado dos recursos humanos.

O caso está prestes a ser participado ao Ministério Público de Braga, já depois de queixas formais no Tribunal do Trabalho de Braga e na Autoridade das Condições Trabalho, bem como no Conselho de Deontologia da Ordem dos Advogados, porque na base do diferendo está um acidente de trabalho que sofreu na instituição – “o momento a partir do qual passei a ser maltratada”.  

“Na noite de 22 de dezembro de 2024, quando estava a trabalhar no Lar Nevarte Gulbenkian, estava a levar a alimentação para um utente, quando escorreguei e caí, o que me deixou bastante magoada nas pernas e igualmente na coluna vertebral, o que sucedeu na escadaria interior, pois durante a noite estamos proibidos de utilizar qualquer elevador”, explicou.

Diz estar a ser “vítima de racismo, de assédio laboral e de ameaças”, desde esse acidente de trabalho, referindo-se à diretora técnica do Lar Nevarte Gulbenkian, Sónia Basto Palmeira, e ao advogado, Cláudio Ribeiro, que não responderam, até à edição desta reportagem, às questões endereçadas por O MINHO.

Despejo de casa à vista

Mas, entretanto, uma coincidência, ou não, de ter não lhe ter sido renovado automaticamente o seu contrato de arrendamento, cuja proprietária é a mesma da Santa Casa da Misericórdia de Braga, comunicada já quando o companheiro de Odete da Silva tinha um cancro terminal, vindo depois a falecer, agravou mais a situação da trabalhadora, de baixa médica, que tem uma filha.

A simultaneidade de Maria Odete Cristóvão da Silva ser funcionária e arrendatária de um apartamento na zona do Bairro da Misericórdia, em Braga, tem a ver com um acordo verbal que o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Braga, Bernardo Reis, fez consigo, para agilizar a viabilidade da trabalhadora poder trabalhar no período noturno, o que mais ninguém quereria.

Bernardo Reis, provedor da Santa casa da Misericórdia de Braga. Foto: DR

Odete da Silva residia então em Vila Verde, não havendo transportes públicos durante madrugada entre Braga e Vila Verde, o que permitiu, segundo a trabalhadora, “corresponder às necessidades da instituição, ficar sozinha a tomar conta de dezenas de idosos que residem no Lar Nevarte Gulbenkian, até certa altura as coisas correram normalmente, mas depois precipitaram-se”.

Maria Odete Cristóvão da Silva, de 46 anos, tem uma filha de 16 anos, com quem vive desde o falecimento do companheiro, de 42 anos, natural de Vila Verde, na noite de 19 de fevereiro de 2025, no apartamento do Bairro da Misericórdia, em Braga, tendo sido intimada a deixar esta casa até ao próximo dia 30 de junho de 2025, por não renovação do contrato de arrendamento.

“Ao receber uma carta registada e com aviso de receção, assinada pelo punho do senhor provedor, Bernardo José Ferreira Reis, a comunicar que na prática seria despejada, se não entregasse o apartamento livre no final deste mês de junho, fiquei em estado de choque, porque tínhamos, por sugestão do próprio, estar nesta casa, para poder trabalhar à noite”, salientou Odete da Silva.

Foto: DR

E acrescentou: “Quando me queriam dar uma indemnização irrisória, ainda o meu companheiro era vivo, o advogado, senhor doutor Cláudio Ribeiro, que trabalha para a Santa Casa da Misericórdia de Braga, disse-me em tom ameaçador que se eu não assinasse a rescisão por quantia irrisória, teria que deixar o apartamento arrendado”.

Misericórdia de Braga e advogado não comentam

O MINHO contactou, ao longo da semana, todos os responsáveis da Santa Casa da Misericórdia de Braga visados para darem, querendo, a sua versão, mas nenhum respondeu aos sucessivos envios de emails institucionais (nem aos gerais, nem aos diretos) e de emails pessoais, nem respondeu às mensagens para os seus telemóveis, nem nunca atenderam as tentativas de telefonemas.

Também o advogado Cláudio Ribeiro, da MFC Sociedade de Advogados, sediada em Braga, não respondeu aos dois pedidos de esclarecimento, enviados por O MINHO sobre o comportamento que lhe é imputado por Odete da Silva, nem da participação em fase de averiguações e eventualmente disciplinar que o visa agora no Conselho de Deontologia da Ordem dos Advogados.

Bernardo Reis, agraciado, com o arcebispo de Braga, D. José Cordeiro: Foto: DR

Maria Odete Cristóvão da Silva, angolana, funcionária da Santa Casa da Misericórdia de Braga, contactada pelo nosso jornal, acentuou “ter tentado nos últimos tempos, levar tudo já, da melhor maneira possível, para ultrapassar o diferendo na instituição, pois quero continuar a trabalhar para a mesma entidade patronal, onde sempre dei o melhor de mim, como muito bem sabem”.

“Nunca esperei viver esta situação, que é lamentável, porque trabalhei sempre, cumpri ao máximo, tinha uma ideia diferente do senhor provedor, recentemente agraciado pelo Santo Papa Francisco, com uma medalha da Santa Sé, assinando uma carta, que na prática é despejo do apartamento, bem sabendo que eu e a minha filha não tempos para onde ir”, concluiu.

 
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