Uma publicação na conta Twitter do jornal americano The New York Times está a revoltar portugueses. O motivo – ingrediente errado num prático típico português.
Na publicação, o prestigiado órgão de comunicação elogia a sopa portuguesa, realçando que as “batatas fervem em caldo de galinha até ficarem tenras”, algo que não podia ser mais errado, como deram conta vários utilizadores nos comentários à notícia.
A imagem é acompanhada de uma hiperligação que reencaminha para um suplemento de culinária daquele jornal, onde se encontra a receita para o Caldo Verde, com os métodos a seguir e os ingredientes a utilizar. E, sim, está lá “caldo de galinha”. E logo seis copos.
Made with basic ingredients, the humble and beloved Portuguese soup is naturally creamy from potatoes that simmer in chicken broth until super tender. https://t.co/cfJW5u5zN0 pic.twitter.com/MPfHuoq510
— The New York Times (@nytimes) February 16, 2023
“Feita com ingredientes básicos, esta humilde sopa é cremosa de forma natural por causa de batatas que fervem em caldo de galinha até ficarem macias”, prossegue o artigo.
E, a completar a lista, avança com mais ingredientes, sugerindo o chouriço espanhol: “Uma linguiça de porco defumada temperada com paprica e alho confere um sabor complexo. O chouriço português totalmente cozido ou a linguiça mais fina são típicos, mas o chouriço espanhol, que pode ser um pouco mais pesado na paprica, também pode ser usado”.
No Twitter, houve quem dissesse que a avô queria bater ao autor do artigo. Outros pedem menos galinha e mais couves. E há quem mande o autor do artigo ir conhecer a “sopa da pedra” ou quem aproveite para fazer publicidade ao seu estabelecimento para que os americanos possam comer um caldo verde mais genuíno.
Em março de 2021, a edição de viagens da cadeia televisiva norte-americana CNN elegeu o Caldo Verde como uma das 20 melhores sopas do mundo, destacando ainda o “vinho verde do Minho” como o acompanhante ideal para o repasto.
Em 2011, a sopa foi considerada uma das “7 Maravilhas da Gastronomia” na categoria “sopas”, após candidatura submetida por seis municípios que constituem o Vale do Minho: Monção, Melgaço, Paredes de Coura, Valença, Cerveira e Caminha.
De origem minhota, mas adotado por todas as regiões, a receita foi escrita em verso, lembra a Câmara de Monção. Escritores e poetas referem-no: Camilo Castelo branco, Eça de Queirós, Júlio Dinis, Ramalho Ortigão. Correia de Oliveira define-o: “Que núpcias de sustento e de sabor”.
Fernando Pessoa também dedicou prosa ao caldo de batata e couve-galega. O poeta Arnaldo Ferreira descreve o caldo verde num poema que Amália cantou e imortalizou, tornando-se no segundo Hino Nacional, “Uma Casa Portuguesa”: “Basta Pouco, Poucochinho p’ra alegrar, uma existência singela…É só Amor, pão e vinho, e um Caldo Verde, verdinho a fumegar na tigela”.
Como ingredientes, tem couve-galega, batata, azeite, alho, cebola, água, chouriço e sal, sendo preparado num tradicional pote de ferro, com a ajuda de uma colher de pau, até estar pronto a servir, nas famosas tigelas de barro portuguesas.