Silêncio que se vai dançar o fado em Guimarães

“Fado Batido” propõe-se recuperar a forma dançada desta música urbana portuguesa

Depois de ter encantado durante o Festival Dias da Dança do ano passado, “Bate Fado” chega agora ao público de Guimarães. A recuperação da forma dançada do fado, uma criação da dupla Jonas & Lander vai tomar conta do Grande Auditório Francisca Abreu, no Centro Cultural Vila Flor, no sábado, dia 18, às 21:30.

O fado, tal como outras músicas urbanas – samba, flamengo – teve uma forma dançada que se perdeu. “É um mistério a razão que fez com que a dança associada ao fado desaparecesse. Até porque, mesmo hoje, as músicas urbanas têm uma dança própria, o caso do kuduro ou do funk”, afirma Jonas Lopes. Neste espetáculo Jonas é coreografo, bailarino e fadista. “No princípio o fado era referido como uma dança, depois a voz começou a ganhar mais espaço e a dança, não se sabe porquê desapareceu”, acrescenta.

Para fazerem a arqueologia desta dança desaparecida contaram com a ajuda da Teresa Gentil, compositora e investigadora, de Fernando Oliveira, diretor do Teatro Gil Vicente e com o apoio da Casa-Museu Leal da Câmara, do Laboratório de Investigação de Práticas Artísticas da Universidade de Coimbra e do Museu Bordalo Pinheiro. O processo levou os bailarinos aprender flamengo e fandango, complementado com sapateado americano, porque já não há quem se lembre de ver o fado dançado. “Não é possível reproduzir fielmente a dança porque não foi filmada. Há registos de coisas a que se chama fado batido no folclore do Centro e até em Espanha, na região fronteiriça. Há registos escritos e as gravuras do Bordalo Pinheiro e de outros da época, mas não se reproduz uma dança a partir disso”, esclarece Lander Patrick.

“Era uma coisa desorganizada, promíscua que se dançava nos bordéis”

Na impossibilidade de fazer uma cópia fiel, os criadores perseguiram o ambiente do fado dançado nas tabernas. “Era uma coisa desorganizada, promíscua que se dançava nos bordéis. Procuramos esse espírito com a nossa coreografia e penso que conseguimos”, desvenda Lander Patrick. A subversão contamina a performance, com músicos que dançam, bailarinos que tocam guitarra e um bailarino que também canta.

Aquilo que se vai ver no Vila Flor, na noite de sábado é a reconstrução possível do que pode ter sido o fado batido, mas Jonas lembra que aquela que é considerada a canção portuguesa, chegou-nos muito adulterada. “O fado que nós recebemos é muito alterado relativamente às origens. É verdade que sempre teve essa faceta melancólica e de crítica social, porque vinha da franja mais marginal da sociedade, falava de violência, morte, traição, pobreza, mas também tinha um lado festivo muito vincado que se foi perdendo, principalmente, com a ditadura”, aponta. Segundo o coreógrafo, “o regime vestiu os artistas de negro, criou as casas de fado e distribuiu cartazes em que apelava à decência e ao decoro, para domesticar o fado, já que não era possível calá-lo”.

Este “Fado Batido” é tudo menos triste, é uma onda de energia criativa com nove performers – quatro bailarinos, quatro músicos e um bailarino-fadista – que se prolonga por quase duas horas, de tacões a golpear o chão com passos “roubados” ao flamengo ou ao fandango, mas que aqui ganham vida própria.

O preço do bilhete são 10 euros, 7,5 euros para menores de 30 anos, estudantes, reformados e maiores de 65 anos, pessoas com deficiência e acompanhante e 5 euros para portadores do Cartão Quadrilátero. Os bilhetes estão à venda no Centro Cultural Vila Flor, Centro Internacional das Artes José de Guimarães, Casa da Memória, Loja Oficina, nas lojas Fnac, Worten, El Corte Inglés e online em www. bol.pt.

 
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