Os setores da construção e do imobiliário têm sido “dos mais resilientes” durante a pandemia de covid-19 e encaram o futuro com “tranquilidade cautelosa”, afirmaram hoje os dirigentes das associações setoriais.
Falando durante a conferência “Imobiliário, Construção e Obras Públicas” – organizada ‘online’ pelo BPI, JN e TSF no âmbito do ciclo de conferências “Retomar Portugal” – o presidente da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN) e o vice-presidente da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários (APPII) salientaram que estes setores “nunca pararam” desde o início da pandemia e, uma vez que se mantêm os “fundamentais” de base em que assentam, encaram o futuro com uma “tranquilidade cautelosa”.
O presidente da AICCOPN, Manuel Reis Campos, recordou que até ao início da pandemia “o setor atravessava um belíssimo momento, quer em termos do investimento na construção (que tinha crescido 8,9% em 2019), quer em termos do investimento privado e no imobiliário (cujo valor das transações se cifrou no ano passado em 27,2 mil milhões de euros, sendo 5,4 mil milhões de imobiliário de origem externa)”.
“Tudo funcionava bem em termos de turismo e da nossa capacidade de oferta. Com a atratividade que existia e as baixas taxas de juro, tudo levava a uma atração do investimento”, afirmou.
Segundo Reis Campos, “mesmo em termos de obras públicas havia alguma consolidação do investimento por parte do Estado, com mais investimento público em termos de obras promovidas”, pelo que “tudo indicava que o setor não teria nenhum problema no ano 2020”.
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Apesar do impacto negativo da pandemia, o líder da AICCOPN salienta que “a construção foi um dos setores que nunca parou a sua atividade, embora tivesse havido quem o advogasse”, numa “atitude que foi, aliás, genericamente tomada em toda a Europa, onde o setor nunca parou”.
De acordo com Manuel Reis Campos, os números disponíveis até novembro evidenciam que “nas obras públicas houve um aumento das obras promovidas e das obras celebradas e, em termos de investimento na construção (designadamente o número de habitações construídas), há uma diferença de 2,3%”.
“Isto leva a que, quer o Banco de Portugal, quer a Comissão Europeia, entendam que o setor foi um setor resiliente. Esta pandemia não é positiva para ninguém, mas o nosso setor, dentro dessa condicionante, aguentou-se”, disse.
Na mesma linha, o vice-presidente da APPII, Hugo Santos Ferreira, afirmou que o setor do imobiliário “evidenciou esta mesma tendência”, tendo também sido “reconhecido pelo Banco de Portugal como um dos setores mais resilientes nesta pandemia”.
“Desde o fim da última crise financeira que o imobiliário vivia momentos bastante pujantes, representando quase 15% do PIB [Produto Interno Bruto], o que é demonstrativo de que é um setor basilar e um pilar da economia dos tempos modernos”, salientou.
De acordo com Hugo Santos Ferreira, esta “resiliência” do setor tem sido notória “nos próprios preços” do imobiliário que, “pese embora tenham tido algumas flutuações, para cima e para baixo, até porque se vivem tempos de incerteza, se têm mantido globalmente estáveis”.
A prová-lo, diz, está o facto de o Eurostat colocar Portugal, no segundo trimestre de 2020, “na 5.ª posição a nível europeu entre os países com maior crescimento ao nível da evolução dos preços, nomeadamente da habitação”.
Apesar do impacto da pandemia, sobretudo a partir do segundo trimestre de 2020, o dirigente da APPII diz que “do lado do investimento imobiliário se continuou, todos os dias, a receber mandatos de investimento para Portugal”.
“Aliás, o próprio facto de, na primeira vaga da pandemia, Portugal se ter conseguido colocar a nível internacional como um bom aluno contribuiu muitíssimo para continuarmos a colocar o país como um lugar cimeiro e de primeira linha de destino de investimento”, salientou.
Neste contexto, Hugo Santos Ferreira sustenta que “se deve ver o futuro com uma tranquilidade cautelosa”, até porque “a maioria dos fundamentais no mercado – os motivos que levam os investidores a investir em Portugal – estão cá, à exceção do turismo”.
Também participante na conferência, o presidente da comissão diretiva da Estrutura de Gestão do IFRRU 2020 (Instrumento Financeiro Reabilitação e Revitalização Urbanas), Abel Mascarenhas, adiantou que aquele programa conta atualmente com uma execução global de 266 contratos de reabilitação de edifícios, a que corresponde um investimento de 750 milhões de euros.
“Neste ano de 2020 assistimos a alguma quebra, especialmente em março e abril, mas mesmo assim, neste momento, estamos com mais de 70 contratos firmados, com um investimento de 200 milhões de euros, e ainda não acabámos dezembro”, acrescentou.
A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.649.927 mortos resultantes de mais de 74,1 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 5.815 pessoas dos 358.296 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.