Rússia acusada de “espantoso cinismo” na ONU por convocar reunião sobre acordos de Minsk

Política
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A Rússia foi hoje acusada de cinismo por várias delegações ocidentais no Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) por convocar uma reunião para discutir “lições aprendidas com os acordos de Minsk” após o conflito russo-ucraniano de 2014.

“O nível de cinismo por trás desta reunião do Conselho é espantoso. As tentativas de distorcer a história não mudam o facto de que a Rússia é responsável pela sua agressão brutal contra a Ucrânia, apesar de treinar e liderar forças no leste ucraniano desde 2014. A Rússia há muito procura disfarçar e negar o seu papel no conflito. Mas agora podemos ver claramente quais eram em 2014 as suas intenções finais”, disse o vice-representante dos Estados Unidos na ONU, Richard Mills.

O Conselho de Segurança reuniu-se hoje, a pedido da Rússia, para assinalar o oitavo aniversário do “Pacote de Medidas para a Implementação dos Acordos de Minsk”, também conhecido como o acordo de Minsk II, adotado em 12 de fevereiro de 2015 entre Rússia e Ucrânia, sob mediação ocidental.

Desde 2019 que a Rússia organiza uma reunião anual por ocasião do aniversário deste acordo. Contudo, a reunião deste ano ocorreu num contexto marcado pela invasão russa da Ucrânia, prestes a completar um ano.

“Dada a frequência com que a Rússia convoca este conselho para regurgitar as suas falsas narrativas sobre o passado, não podemos deixar de questionar se o objetivo da Rússia é persuadir ou distrair… distrair das suas bombas e mísseis que estão a matar civis ucranianos e a dizimar cidades”, acrescentou o diplomata norte-americano.

Mills recordou que a Rússia participou diretamente na negociação dos acordos de Minsk e que assinou os três documentos que constituem os acordos em 2014 e 2015, apesar de “minar de forma consistente e repetida os seus propósitos fundamentais”.

“Nos anos entre a assinatura dos acordos de Minsk e a invasão em grande escala da Rússia no ano passado, a Rússia falhou em implementar um único compromisso que assumiu. A Rússia mina de forma consistente e repetida o propósito fundamental dos acordos de Minsk, que era reintegrar totalmente a área de conflito com o resto da Ucrânia e restaurar a integridade territorial da Ucrânia”, frisou.

Por sua vez, a embaixadora do Reino Unido, Barbara Woodward, acusou o Presidente russo, Vladimir Putin, de “rasgar os Acordos de Minsk” quando assinou um decreto reconhecendo Lugansk e Donetsk como entidades independentes e, posteriormente, lançou a sua invasão da Ucrânia, “espezinhando a Carta da ONU”.

“Se a Rússia está comprometida com os acordos que assinou livremente, porque é que tentou unilateralmente anexar o território ucraniano, violando esses compromissos? Então, vou relatar-vos as lições que aprendemos: A Rússia mentiu. A Rússia planeava a guerra enquanto pedia diplomacia e desescalada, continua a escolher a morte e a destruição enquanto o mundo clama por uma paz justa”, disse Woodward.

Por outro lado, o embaixador da Rússia na ONU, Vasily Nebenzya, atribuiu as falhas nos Acordos de Minsk ao Conselho de Segurança, afirmando estar “profundamente desapontado com a situação”.

“Tornou-se uma clara falha do Conselho de Segurança na área da diplomacia preventiva, que muitos de nós consideramos um dos principais objetivos deste órgão. Minou a autoridade do Conselho de Segurança”, defendeu Nebenzya.

“O Conselho de Segurança falhou no cumprimento da sua função direta, nomeadamente na manutenção da paz e segurança internacionais”, acrescentou o diplomata, acusando ainda os seus “ex-parceiros” ocidentais de criar, através dos acordos de Minsk, “uma cortina de fumo a fim de rearmar o regime de Kiev”.

O representante de Moscovo acusou ainda a Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE)- a maior organização regional de segurança do mundo – de se ter tornado “extremamente politizada e unilateral”.

Nebenzya dirigiu ainda os seus ataques ao secretariado-geral da ONU, liderado por António Guterres, questionando se realmente a Rússia poderia confiar na mediação da organização em relação à guerra na Ucrânia.

Também o representante da Ucrânia junto da ONU, Sergíy Kyslytsya, esteve presente na reunião, onde afirmou que, desde a assinatura dos primeiros documentos do acordo de Minsk em setembro de 2014, Moscovo levou a cabo “uma longa lista de violações e desrespeito desses seus próprios compromissos”.

“A verdade é que Putin provou de uma vez por todas ser impossível negociar com ele. O seu enfraquecimento consistente pela Rússia e a morte final dos acordos de Minsk deixam isso claro”, advogou Kyslytsya.

“Portanto, apelamos às forças saudáveis na Rússia, se houver alguma, para que caiam em si e forcem Putin a implementar as exigências da Assembleia-Geral da ONU para cessar imediatamente o uso da força e retirar as forças militares russas da Ucrânia. O ditador deveria desistir e voltar ao passado”, concluiu o diplomata ucraniano.

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