O taekwondista Rui Bragança, natural de Guimarães, anunciou hoje o fim da carreira ao fim de 20 anos de competição ao mais alto nível, reservando para os “próximos dias” uma explicação mais detalhada sobre esta decisão.
“Por agora, dizer apenas obrigado a todas as pessoas e instituições que fizeram parte desta linda viagem . Tenho a noção de que sou um sortudo quando olho para estes anos e tenho dificuldade em enumerar todos os amigos que fiz”, escreveu o atleta olímpico nas redes sociais.
Com 32 anos, e natural de Guimarães, onde se iniciou na modalidade aos 13 anos, ao longo da carreira Rui Bragança passou pelo ABC de Braga, Vitória SC e SL Benfica, clube pelo qual assinou depois de conquistar vários títulos, entre os quais campeão da europa (2014 e 2016) e o ouro nos Jogos Europeus de Baku (2015).
Marcou presença em duas edições dos Jogos Olímpicos, conseguindo nono lugar (Rio 2016) e 11.º (Tóquio 2020). Foi o primeiro taekwondista português de sempre a disputar uma partida nesta competição.
Estreou-se na seleção em 2007 com um terceiro lugar no campeonato da Europa em juniores. Depois de iniciar o curso de medicina na Universidade do Minho, em 2009, foi duas vezes campeão europeu universitário (2011 e 2017 – ano em que terminou o curso). Também conquistou a prata por duas vezes nas Universíadas (2015 e 2017). Venceu a prata no campeonato do Mundo em 2011 e chegou a ser o melhor taekwondista do planeta durante o mês de agosto de 2014.
“Saio com um sentimento de dever cumprido e muito satisfeito com os últimos 20 anos”, disse, à Lusa, o desportista.
Esta resolução foi tomada em março, quando na derradeira fase de apuramento para Paris2024 ficou a dois combates do objetivo, contudo só hoje foi confirmada, “pois não desejava que esta decisão resultasse de um sentimento a quente”.
“Foi um ótimo fim. Faltou, se calhar, uma cerejinha em cima para ser em Paris2024. Estive muito bem nos combates que fiz [na Bulgária] e perdi porque ele foi ligeiramente melhor do que eu”, recorda, sobre o embate com o adversário russo Georgi Gurtsiev, que agora compete pela Bielorrússia, momento que antecedeu o confronto que seria decisivo para garantir a ida aos Jogos Olímpicos.
Rui Bragança destaca a “felicidade e satisfação” que viveu na modalidade que lhe deu “muitos amigos ao longo destes anos”, considerando que isso é o melhor de tudo.
“Apesar de ser um desporto individual, isto foi um trabalho de equipa. Alguns dos meus resultados talvez tenham sido um pouco mais elevados. Se não tivesse sido o Pedro Póvoa, em Pequim2008, e a passar todo o seu conhecimento, isto não seria possível. Se não fosse o Zé [Fernandes], o Nuno [Costa], o Júlio [Ferreira] e a Joana [Cunha] comigo em todos os treinos, isto seria impossível. Foi uma época dourada do taekwondo. Se o meu nome apareceu mais algumas vezes foi coincidência, pois o trabalho foi de todos”, elogiou.
Sem planos para se manter na modalidade, assume, ainda assim, que a parte técnica o estimula mais do que a de dirigente, contudo recorda que isso o obrigaria a voltar a ter as rotinas de atleta de alta competição.
“Com a reforma, anseio é passar tempo em casa com o meu filho e a minha namorada”, desabafou.
Com o fim da sua carreira, algo que Júlio Ferreira e Joana Cunha também estão a equacionar, Rui Bragança revela preocupação pelo facto de a “época dourada do taekwondo português estar a desaparecer”.
“Espero que alguém venha de trás… mas não vai ser um caminho fácil. A nova federação, com um ano… vai ser preciso muito trabalho da parte de dirigentes e atletas para voltarmos a ter uma seleção tão forte como outrora”, advertiu.
De entre tantas, entende ser “impossível” selecionar a melhor memória de um percurso de duas décadas, porém não esquece a sua estreia olímpica, no Rio2016.
“Quando a cortina abriu para entrar no pavilhão, foi como um cabo de alta tensão ligado aos pés. Sentir aquela energia a passar no corpo milhares de vezes em segundos. Com a namorada, família e amigos na bancada. Também não me vou esquecer quando fui campeão da Europa e ‘vice’ do Mundo. Muitas coisas incríveis. Felizmente, é muito difícil escolher uma só memória”, congratulou-se.
Finalmente, apesar de não ter conseguido o apuramento para Paris2024, confia que a comitiva lusa vai “desenrascar-se e surpreender, como o tem feito nas alturas mais importantes”.
Agora que o taekwondo lhe vai dar férias, Rui Bragança vai focar-se na medicina, atividade em que “os resultados não são medalha, mas vidas que conseguimos ajudar”
Com Lusa.