Funcionário judicial, Paulo Costa tem 55 anos e é, pelo segundo mandato consecutivo, deputado na Assembleia Municipal de Famalicão. É, também, o candidato à Câmara local pelo Bloco de Esquerda (BE), numa candidatura a que apelida de “exercício de cidadania”.
De acordo com a página do Ministério da Administração Interna, desde os 477 votos que o BE obteve no concelho de Famalicão, em 2001, na estreia em autárquicas, houve crescimento até aos 4.500 em 2009, mas depois nunca conseguiu chegar aos 2.000. O que falhou na última década para terem perdido tanto eleitorado e o que estão a fazer para o recuperar?
A pergunta parte de um erro, imputável à página do Ministério da Administração Interna e que nunca foi corrigido (decorrida uma dúzia de anos e deixamos até aqui a ‘cacha’ jornalística), pois nesse ano atribuiu a vitória na eleição a esse órgão autárquico ao BE numa das freguesias do concelho, Calendário, o que (infelizmente) nunca aconteceu. Nesse ano, é verdade que o Bloco teve a melhor votação de sempre na sua candidatura à Câmara Municipal, com 2.188 votos, tendo descido para 1.884 votos em 2017. Já agora, relativamente à Assembleia Municipal, nesse ano de 2001 o BE alcançou 844 votos e veio a crescer até 2017, onde alcançou o número de 2.819 eleitores, aí se tornando a terceira força político-partidária do concelho.
Atendendo a esta prévia clarificação, pensamos que os factores que poderão explicar este pequeno decréscimo de votantes relativamente a este órgão, situar-se-ão fundamentalmente no seguinte, independentemente da sua maior ou menor relevância: as características dos próprios candidatos, a volatilidade do BE a nível nacional e a premissa do voto útil, que não se fará sentir tanto, por exemplo, na eleição para a Assembleia Municipal.
Com o sentimento de que não foi certamente uma década perdida, estamos esperançados num paulatino crescimento do BE, porque este é um movimento que ambiciona um futuro cada vez mais justo e inclusivo para toda/os a/os famalicenses.
É reconhecido que o BE é bastante ativo na luta pelos direitos humanos e das chamadas minorias. O que tem feito a concelhia em Famalicão nessa matéria?
Esse é realmente um dos princípios basilares do BE, uma intransigente defesa dos direitos humanos universalmente consagrados e darei dois breves exemplos de votos apresentados em AM por parte do BE, um no início do mandato que agora termina onde se exortava o executivo camarário a solucionar uma situação de profunda carência habitacional de uma comunidade de etnia cigana a residir no concelho e a outra, já agora em fim de mandato, respeitante à comunidade LGBTI, promovendo este município como espaço de liberdade e repudiando práticas de municípios e governos de alguns países da Europa de Leste.
O que pode o BE trazer de novo às questões ambientais de Famalicão?
De forma telegráfica e socorrendo-me de chavões que nos acompanham nesta campanha eleitoral: uma intransigente defesa dos territórios agrícolas (pugnando por uma agricultura sustentável) e florestais (com a sua valorização e ordenação); salvaguarda e requalificação de toda a rede hídrica do concelho (em necessária articulação com territórios a montante e a jusante); promoção de eficiência energética e progressiva descarbonização dos múltiplos equipamentos municipais e estimulação dessa necessidade junto dos munícipes; mas porque o ambiente é uma questão transversal a todas as atividades humanas, em todas as propostas do BE, desde a saúde, à educação, da habitação à mobilidade, etc, a questão ambiental está presente, qual pano de fundo, como uma das principais prioridades de qualquer governação local.
“Reuniria com todos os funcionários do município motivando-os para a nobre tarefa de servidores da comunidade famalicense”
Como viu a governação PSD/CDS ao longo dos últimos 20 anos no concelho? Diga-nos o que fizeram bem, o que fizeram mal, e o que deixaram por fazer?
Inevitavelmente, para quem está na oposição, vê sempre e na melhor das hipóteses o copo meio vazio, como tal apontaria como ‘pecado capital’ destes 20 anos de governação a falta de transparência, os favorecimentos e as ‘negociatas’ que se fazem à custa do erário público.
Caso seja eleito, qual a primeira medida que irá tomar, e porquê?
Não correndo o risco de não ter discurso preparado, reuniria com todos os funcionários do município motivando-os para a nobre tarefa de servidores da comunidade famalicense.
Sou um orgulhoso famalicense sem filiação partidária nem nenhuma simpatia especial por qualquer partido, mas acho que o meu voto conta. Ou seja, estou aberto a influências quanto ao sentido de voto. Porque é que deveria votar na sua candidatura?
O voto tem essa singela e maravilhosa qualidade de, sendo diferentes, valerem todos o mesmo, pelo que apelaria, desde logo, à participação de todos no ato eleitoral, cientes que, de forma mais ou menos lenta, se poderão ir construindo comunidades mais livres, justas e solidárias.