Quatro anos depois, Portugal volta a poder caçar 13.200 rolas-bravas

Em agosto, durante uma semana
Foto: DR / Arquivo

Depois de quatro anos de interdição, a caça à rola-comum (Streptopelia turtur), popularmente conhecida como “rola-brava”, será novamente permitida em Portugal ainda em 2025, anunciou o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

A decisão, de 21 de maio, antecipa em um ano a reabertura inicialmente prevista para a época venatória de 2026-2027, segundo estabelecia a Portaria n.º 67/2024.

A moratória, em vigor desde 2021 em vários países da Europa Ocidental – incluindo Portugal, Espanha, França e Itália – foi uma resposta ao declínio acentuado das populações da espécie, estimado em cerca de 80% nas últimas quatro décadas. A suspensão da caça visava travar esse colapso populacional, promovendo a recuperação da ave.

Europa deixa

Segundo o ICNF, a reabertura da atividade cinegética decorre da validação, por parte do Comité de Peritos NADEG da Comissão Europeia, de que Portugal reúne agora as condições necessárias para um regime de caça adaptativa.

A decisão surge na sequência de uma proposta conjunta apresentada a 31 de março pela Confederação Nacional dos Caçadores Portugueses (CNCP), pela Associação Nacional de Proprietários e Produtores de Caça (ANPC) e pela FENCAÇA, em articulação com o ICNF e o Secretário de Estado das Florestas.

Com base nas recomendações dos especialistas europeus e após a autorização concedida a Espanha, França e Itália, a nova Portaria n.º 222-A/2025, publicada a 15 de maio, oficializa a inclusão da rola-brava como espécie cinegética em Portugal para a época 2025-2026.

Apenas uma semana de caça e a 13.200 indivíduos

A caça será permitida apenas nos dias 24 e 31 de agosto, do nascer do sol até às 11 horas da manhã, e limitada a zonas de caça ordenadas que comprovem a adoção de medidas de conservação e monitorização da espécie. A quota nacional fixada é de 13.200 indivíduos – equivalente a 10% da população caçável da espécie na Europa.

O ICNF sublinha que a decisão segue a linha de atuação dos países vizinhos e é sustentada por um modelo de caça adaptativa, permitindo ajustar os níveis de exploração consoante a evolução das populações da rola-brava. A entidade assegura que não está em causa a conservação da espécie e garante que será implementado um rigoroso sistema de controlo de abates e fiscalização da atividade.

ONG’s reclamam

Contudo, a decisão não recolhe consenso entre as organizações não-governamentais de ambiente. A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), em nome da coligação C7, alerta que a reabertura da caça poderá ser prematura. Embora reconheça sinais de recuperação da espécie, a SPEA questiona se Portugal possui, de facto, um sistema robusto e credível de regulação e monitorização da caça à rola-brava. A organização defende que manter a moratória por mais alguns anos traria benefícios tanto para a conservação da espécie como para a estabilidade futura da atividade cinegética, evitando o risco de um novo recuo.

Recorde-se que a rola-brava foi reclassificada como “Quase Ameaçada” no Livro Vermelho das Aves de Portugal Continental em 2022, um agravamento face ao estatuto de “Pouco Preocupante” atribuído em 2005.

 
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