Na reunião de Câmara da passada segunda-feira, o vereador social-democrata, Hugo Ribeiro, quis conhecer os números relativos à utilização do quiosque de venda online, lançado, pela Câmara, no início de dezembro. Perante os números apresentados pelo vereador Ricardo Costa, Hugo Ribeiro concluiu tratar-se de “um flop”.
O quiosque eletrónico, batizado “Proximcity”, foi lançado a 04 de dezembro de 2020. Segundo números avançados pelo vereador responsável pelo desenvolvimento económico, Ricardo Costa, já houve 3.072 downloads, 260 encomendas, foram emitidos 2.600 vouchers, dos quais foram descontados 90.
Como medida para estimular o comércio local a Câmara lançou uma campanha que dava vouchers de 15 euros, para serem usados no comércio local, aos primeiros utilizadores que se inscrevessem na aplicação. A medida tinha um teto máximo de 40 mil euros. Os vales emitidos perfazem a quase totalidade do valor estipulado para a campanha, contudo, aqueles que foram descontados não ultrapassam ainda os 1.350 euros.
É com base nestes números que o vereador Hugo Ribeiro afirma que “se isto era uma forma de fazer chegar dinheiro à economia local, falhou completamente e Domingos Bragança deve reconhecê-lo e mudar de rumo”. O vereador social-democrata sugere que Bragança deve mudar de estratégia se pretende realmente apoiar o comércio local.
A ideia de criar um quiosque eletrónico resulta de uma proposta do Gabinete de Crise e da Transição Económica, liderado pelo ex-reitor da Universidade do Minho, António Cunha. No Plano de Ação, elaborado por este Gabinete, podia ler-se que o quiosque eletrónico “visa suster a quebra do volume de negócios provocada pelas restrições à mobilidade das populações, bem como promover a digitalização da oferta sem custos acrescidos”.
Logo no início de abril, a proposta foi apresentada, em reunião de Câmara, pelo presidente da autarquia, Domingos Bragança. Seria, segundo Domingos Bragança afirmou na altura, uma solução para que as “lojas e restauração possam continuar o negócio por internet”. O presidente acrescentou, na mesma reunião: “estamos a fazer um quiosque eletrónico, algo muito profundo, com um custo avultado, para implementar nos próximos dias…”
O quiosque, contudo, levaria ainda oito meses a entrar em funcionamento, a 4 de dezembro. Na verdade, o contrato para aquisição do quiosque só foi celebrado a 30 de julho de 2020, depois de um processo de consulta prévia. “Compreendo que os processo de contratação pública tem os seus procedimentos que levam o tempo necessário, porém, não se pode anunciar como para arrancar dentro de alguns dias, qualquer coisa que só vai ser contratada para ser feita três meses depois”, crítica o vereador social-democrata Hugo Ribeiro.
A aquisição do quiosque viria a ser contratada à Nuno Rocha & César Sousa, Lda, por 44.650,00 euros. Apesar de um dos alvos da medida ser a restauração, desde que foi apresentada, ainda em março de 2020, pelo Gabinete de Crise e da Transição Económica, este primeiro contrato não contemplava o modulo de gestão de serviços de restauração. Este módulo só viria a ser adquirido, por ajuste direto, a 23 de dezembro de 2020, portanto, já depois de o quiosque estar em funcionamento.
O módulo para os serviços de restauração custou mais 15.000 euros, elevando o custo da aplicação para 59.650 euros. Para ter uma ideia real do custo da medida, há que juntar a estes valores, os 14.150,00 euros de um contrato de promoção do quiosque, com a YBN, Lda, no valor de 14.150,00 euros, assinado a 28 de dezembro e os 40 mil euros alocados aos vouchers, que correm o risco de ficar subutilizados. Tudo junto, o valor ronda os 115 mil euros.
Ronda d’O MINHO
Numa ronda pelo comércio, O MINHO verificou que a maior parte dos comerciantes conhece a plataforma, muitos até já estão registados, mas há poucos os casos de lojas a fazer efetivamente negócios através desse meio. Nenhum dos comerciantes tinha ainda descontado um voucher e alguns nem sabiam que a campanha existia.
Um comerciante que não se quis identificar afirma que “promover o comércio online não é ajudar o comércio local. Mandar as pessoas ficarem em casa em vez de virem ao centro da cidade não nos vai ajudar”. Para este comerciante a mudança de hábitos só vai favorecer as grandes companhias e dá o exemplo da Zara que vai sair do centro da cidade, ao mesmo tempo que está a expandir o seu negócio online. “Quando alguém quer comprar uma calças Levis na internet, não vai procurar a minha loja no Proximcity, vai diretamente à loja da Levis”, acrescenta.
Segundo o vereador Ricardo Costa é preciso “dar tempo a que todos aqueles que fizeram o download e que já têm na sua posse o voucher, possam utilizá-los até fevereiro”