A coordenadora do BE, Mariana Mortágua, considerou hoje que o PS “tem que decidir” se está do lado de um governo de direita ou na oposição ao executivo de Luís Montenegro, apontando “sinais divergentes” em vários dirigentes socialistas.
“Relativamente à relação entre o PS e o PSD, isso terá que ser o PS a fazer uma escolha: o PS terá de escolher de que lado está”, defendeu Mariana Mortágua, em declarações aos jornalistas, em Lisboa, à margem de um protesto de trabalhadores da EDP.
A líder do BE foi questionada sobre a reunião já pedida pelos bloquistas ao PS, que ainda não tem data marcada, e sobre a carta enviada pelo secretário-geral socialista ao primeiro-ministro social-democrata, Luís Montenegro, disponibilizando-se para negociar um acordo que, em 60 dias, resolva a situação de certos grupos profissionais da administração pública.
Para Mariana Mortágua, o PS tem que decidir “se está do lado de um governo de direita que escolhe para secretário de Estado do Trabalho [Adriano Rafael Moreira] o responsável pelo rompimento das negociações coletivas por aumentos salariais abaixo do acordo de rendimentos na EDP, ou se está do lado da oposição, da oposição a um governo de direita que não traz mais do que instabilidade, baixos salários, falta de soluções para o país”.
Na opinião da coordenadora bloquista, “tem havido sinais divergentes por parte do PS, sinais divergentes por parte de vários dirigentes do PS” e, por isso, “é importante para o país que o PS decida de que lado é que quer estar”.
Mortágua alertou ainda que a EDP vive uma “crise laboral”, que tem “a marca de uma pessoa”, o novo secretário de Estado do Trabalho do governo social-democrata, Adriano Rafael Moreira.
“O novo secretário de Estado foi a cara que a EDP escolheu para enfrentar estes trabalhadores, para interromper negociações coletivas, para impor aumentos salariais abaixo da inflação. Um governo que enche a boca para falar da necessidade de aumentar salários escolhe para secretário de Estado o responsável por uma crise laboral na EDP e por uma imposição de salários baixos e de condições de trabalho que na verdade não desejamos a ninguém”, criticou.
Mortágua criticou que a administração da EDP tenha “decidido para si aumentos de 15% de salários, distribuir mais de 60% dos lucros e que deixou a estes trabalhadores uma miséria”.
“Não quis negociar com eles, não quis dar-lhes aumentos dignos de salários”, lamentou.
Sobre o Programa do XXIV Governo Constitucional, Mariana Mortágua disse que só esperava “o pior”.
“Na verdade vemos uma direita mais entretida em guerras culturais do que em resolver os problemas das pessoas que são o salário, a casa, os serviços públicos, as creches, tudo o que é preciso para uma vida boa em Portugal”, salientou.
Cerca de meio milhar de trabalhadores da EDP marcharam hoje da Praça do Comércio, em Lisboa, até à sede da empresa, numa manifestação ruidosa pela valorização salarial face aos milhões de lucros da energética.