Não têm passado despercebidas. A mais de 30 quilómetros do mar, grandes bandos de gaivotas têm sido avistados nos últimos dias em Braga. A presença já era habitual noutros anos, mas agora parece ser em maior número. O ditado popular “tempestade no mar, gaivotas em terra” tem aqui o seu fundo de razão, mas há outros fatores. É uma “conjugação de fenómenos”, explica a O MINHO a bióloga Joana Soto.
O primeiro fator tem, de facto, que ver com as tempestades marítimas. Há mais uma semana que a costa tem estado com aviso amarelo, emitido pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), devido à agitação marítima.
No entanto, há mais fatores a concorrer para a proliferação destas aves em Braga, em especial no centro da cidade.
“Estamos numa altura em que temos o cruzamento das migrações”, desenvolve a bióloga da associação Amigos da Montanha, sediada em Barcelinhos, no concelho de Barcelos. Ou seja, se a Gaivota-de-patas-amarelas é uma espécie “residente” (a mais comum, está cá o ano todo), já o Guincho e a Gaivota-d’asa-escura são “invernantes” (visitam-nos no inverno).
“O guincho, por exemplo, é uma ave migratória, e é nesta altura, entre janeiro e fevereiro, que podemos ver um maior número de indivíduos”, vinca a responsável pelo projeto BiodiverCidade, iniciado em 2017 pelos Amigos da Montanha.
“Muito alimento disponível”
Estes fatores também estão aliados ao facto de, em Braga, sobretudo no centro, onde há importantes zonas de restauração, as gaivotas encontrarem “muito alimento disponível”. “As gaivotas acabam por ser um bocado oportunistas relativamente a isso”, nota.
Joana Soto salienta, ainda, que “o rio Cávado acaba por ser uma autoestrada” e “diminuir a distância entre o mar e a cidade de Braga”.
“Elas usam o rio Cávado e toda a sua bacia hidrográfica para se deslocarem para o centro de Braga”, acrescenta a bióloga, notando que isso é normal.
“Usam os rios para se deslocarem para zonas onde têm mais alimento e onde não têm tantas tempestades”, aponta, recordando que “estamos há cerca de uma semana em alerta amarelo por causa da agitação marítima, o que acaba por lhes dar pouca margem na zona dos areais”.
Mas ainda há mais fatores que podem contribuir para as gaivotas ‘escolherem’ Braga, como as obras nas margens do rio Cávado em Barcelos.
“Por exemplo, na zona de Barcelinhos, onde costumávamos ter grandes bandos de gaivotas, também acabámos por ter menos [devido às obras], e possivelmente elas irão pelo rio até Braga”, sustenta.
Por fim, outra razão: “O rio galga as margens pela elevada precipitação que temos sofrido nas ultimas semanas”, deixando menos areal disponível para as gaivotas.
Concluindo, a bióloga salienta trata-se de “um conjunto de fatores”, sendo que “todos eles acabam por contribuir para haver esta movimentação das gaivotas para Braga”.
BiodiverCidade
Joana Soto é a bióloga responsável do projeto BiodiverCidade, iniciado em 2017 pelos Amigos da Montanha, associação desportiva e ambiental sediada em Barcelinhos: “O nosso objetivo é trazer a biodiversidade, os animais e as plantas, para a cidade. Não só para mostrar a toda a população como forma de sensibilização e educação ambiental, mas também porque uma cidade com mais biodiversidade vai ser uma cidade mais equilibrada e resiliente às alterações climáticas”.