Uma fotografia publicada esta manhã num grupo de Facebook dedicado a Braga levou à acesa discussão sobre se os ciclistas são obrigados a circular nas ciclovias ou podem andar nas estradas rodoviárias adjacentes. Vários dos intervenientes apontam que é normal a circulação de ciclistas nas estradas quando, mesmo ao lado, há uma ciclovia dedicada para o efeito.
Essa situação é vista não só em Braga mas em vários outros locais onde existem infraestruturas para bicicletas, como é o caso da ecovia Famalicão-Póvoa de Varzim, onde é possível ver, quase diariamente, ciclistas a circularem na Estrada Nacional 206, ao invés da pista dedicada às bicicletas e peões.
O MINHO quis saber mais sobre o assunto e questionou Mário Meireles, doutorado pela Escola de Engenharia da Universidade do Minho na área da Mobilidade, vice-presidente da Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta, presidente da Braga Ciclável, investigador e consultor na área da Mobilidade e Urbanismo
O especialista alerta que “é preciso fazer a distinção entre quem usa a bicicleta para lazer, para desporto e como modo de transporte”, porque “quem vai a treinar normalmente foge às ciclovias por diversos motivos”.
Falta de continuidade da rede ciclável
Critica a não existência de uma rede ciclável, quer nas cidades quer no país, o que leva à interrupção abrupta da circulação em ciclovia.
“Quem usa a bicicleta para desporto, normalmente atinge velocidades superiores e as descontinuidades não permitem manter a cadência e o ritmo, aumentando a fadiga e prejudicando o treino. E isto é válido para quem pratica ciclismo amador ou profissional”, sustenta.
Para Mário Meireles, “as nossas ciclovias não estão, ainda, preparadas para receber estes ciclistas. E por isso o código em 2013 passou a tornar a utilização das ciclovias ‘preferencial’, ficando a faltar a atualização do sinal vertical”.
Falta de manutenção das ciclovias
Para além da explicação anterior, Mário Meireles, que é também trabalhador dos Transportes Urbanos de Braga e neste momento desempenha funções autárquicas na Junta de Freguesia de São Victor, salienta que “há também a questão da falta de manutenção das mesmas”.
“Mesmo nessa ciclovia da imagem, que tem meses, se a visitarmos com calma vemos a terra, a areia, as pedrinhas, o lixo acumulado. Isto demonstra que não há uma limpeza regular das ciclovias, tornando a sua utilização até perigosa. É fundamental haver manutenção, limpeza, lavagem continua, para prolongar a vida útil da obra, mas sobretudo para proteger quem utiliza a infraestrutura”, considera.
Ciclovia Famalicão-Póvoa de Varzim é perigosa nas intersecções
No caso concreto da ciclovia Povoa-Famalicao, “há um problema acrescido”, nota Mário Meireles, que é também membro da Ordem dos Engenheiros. “As intersecções com a estrada nacional estão de tal forma mal conseguidas que o risco de sinistro e a gravidade do mesmo são enormes”, disse.
O engenheiro lembra o caso do médico Miguel Peliteiro, “que por pouco não ficou com o braço amputado”, um acidente noticiado em primeira mão por O MINHO em 2020.
Na altura com 24 anos e ainda estudante de medicina, com raízes divididas entre Famalicão e Póvoa de Varzim, Miguel Peliteiro ficou em estado muito grave na sequência de um atropelamento e fuga, quando seguia de bicicleta na ciclovia que liga a cidade minhota à Póvoa de Varzim.
“Há um problema de segurança”, reforça Mário Meireles, “pelo que, quem vai a treinar, prefere usar a nacional para não ter que parar a cada entroncamento – mais uma vez o problema da descontinuidade”.
A terminar, Mário Meireles é contundente: “Posto isto, sim, as pessoas que usam a bicicleta podem usar a estrada e sim, podem andar a par. Há 10 anos que é assim”.