OPINIÃO
Rui Manuel Marinho Rodrigues Maia
Licenciado em História, mestre em Património e Turismo Cultural pela Universidade do Minho Investigador em património industrial.
Ao longo da Linha do Minho, desde a cidade do Porto, até ao seu término, em Valença do Minho, encontram-se valiosíssimas Obras de Arte da arquitetura do ferro do século XIX. É o caso da ponte ferroviária que realiza a travessia do rio Coura, em Caminha, ao Km 104, 941. Arraigada num cenário verdadeiramente bucólico e surreal, sustentada por quatro pilares, dois deles pilares-encontro, em alvenaria aparelhada, parece flutuar com toda a sua elegância sobre as águas de um dos mais belos rios de Portugal. A ponte conta com 144 anos de existência, desde a sua inauguração (15.01.1879) até ao presente. Trata-se de uma ponte contínua, composta por três tramos com vãos de 51,250 m – 61,500 m e 51,250 m, perfazendo um total de 164,000 m.
A treliça é de rótula múltipla, havendo, em qualquer plano normal ao eixo da ponte, pelo menos seis interseções com as diagonais de cada viga.
Em 1999 a ponte foi intervencionada com a finalidade de a manter em funções, uma vez que já não respondia aos novos paradigmas de carga e velocidade na Linha do Minho. Após intervenção prévia nos pilares foi montada a estrutura de reforço, sem que, todavia, ambas se tocassem – ficando cada uma a suportar o seu próprio peso – ou seja, a estrutura velha 1100 kg/m e a estrutura nova 1600 kg/m (valores por viga principal). O seu valor histórico e patrimonial levou a que, quer a ponte velha, quer o reforço, fossem pintados em cores contrastantes, para se poderem diferenciar. Porém, se o progresso chegou à Linha do Minho, não podemos dizer o mesmo da vila de Caminha, que mais parece uma terra de ninguém, prolongando no tempo o seu desligamento com a vizinha Galiza – A Guarda – uma vez que a ligação fluvial por ferry está condicionada pelo mau estado da embarcação e pelo assoreamento do rio Minho. A vila, grosso modo, estagnou no tempo, salvo uma ou outra operação de cosmética que, pouco ou nenhum acrescento de monta lhe confere, como a recente inauguração do mercado que, francamente, apesar de obra premente para dinamizar a economia local, não contribui para haver harmonia arquitetónica, sobretudo numa zona tão bela que exige reformas estruturais.
Hoje é assim, porém, tempos houve em que o Porto de Caminha era dinâmico, como no século XV, em que de Caminha partiam navios com destino a Lisboa, carregados de couros, sebo, calçado ou mesmo produtos derivados da criação de gado. Nesse período as transações com o estrangeiro não estavam ligadas aos produtos do mar, mas sim, da terra. Os navios que do porto de Caminha partiam por essa época dirigiam-se sobretudo para Biscaya – Levante – Portos do Norte da Europa – e, mais tarde, o Brasil. O passar dos anos fez abrandar o movimento do Porto de Caminha, uma vez que, paulatinamente, o assoreamento do rio Minho condicionou as embarcações de grande calado. A ponte ferroviária permite uma das poucas ligações à vizinha Galiza, através da Linha do Minho. Todavia, se Caminha teimar em não concretizar mudanças radicais ao nível político, passará a ver os comboios do progresso passarem e, tal como a velha ponte, vai ser necessário mexer nas suas fundações, para acautelar o porvir. Afinal, tudo nos convoca para as lições do passado, para as necessidades do presente e os desafios do futuro – o caminho faz-se de pontes / sinergias.
O Coura serpenteia, entre o verde marginal;
como é belo o nosso Minho, jardim de Portugal.
Na pobreza desse lugar, eterno o meu ficar;
porque riquezas não há mais que cobiçar!