O presidente da Câmara de Viana do Castelo disse hoje ter sido completamente “colhido de surpresa” pelo anúncio de que a piroga encontrada há 39 anos no rio Lima vai integrar o espólio do museu de Caminha.
“Fui colhido de surpresa, completamente. Não fomos [Câmara de Viana do Castelo] consultados. Vou questionar o diretor nacional [Património Cultural IP]”, afirmou Luís Nobre.
O autarca socialista, que respondia a uma interpelação do vereador do PSD, Paulo Vale, adiantou que vai estabelecer “contactos, de forma urbana e cordial”, para perceber se a cedência é “irreversível”.
Em comunicado, aquela autarquia revelou que a minuta do contrato a estabelecer com o Património Cultural IP foi aprovada em reunião camarária.
O acordo prevê a cedência da piroga, embarcação construída a partir de um único tronco de árvore, classificada como tesouro nacional, por um período de cinco anos, prazo que pode vir a ser renovável.
Designada Lima 1, a piroga remonta ao período entre a segunda metade do século X e a primeira metade do século XI.
A Câmara de Caminha adiantou que a “piroga foi retirada do leito do rio Lima, em Viana do Castelo, no dia 02 de março de 1985, e transportada para um armazém pertencente à capitania local, onde passou despercebida”.
Viria a ser comprada por Raúl de Sousa, à época funcionário da Câmara de Caminha e pertencente ao grupo organizador do Museu Municipal de Caminha (MMC).
“Quero perceber se é normal vender-se património deste interesse”, afirmou hoje Luís Nobre ao executivo municipal, lembrando que, em 2020, o município manifestou às entidades competentes “a vontade e o interesse” em ter aquele património e de criar condições para ficar exposto na capital do Alto Minho.
No final da sessão, questionado pelos jornalistas, Luís Nobre disse tratar-se de “património de Viana do Castelo, que faz todo o sentido ficar no concelho”.
“Hoje fala-se muito de devolver património que trouxemos das ex-colónias. As pirogas foram encontradas em Viana do Castelo, é património de Viana do Castelo”, sublinhou.
O autarca socialista disse não ter sido informado pelo seu colega de Caminha do contrato que quer estabelecer que o Património Cultural IP, mas adiantou que irá dialogar com o município vizinho.
Ao todo, foram encontradas sete pirogas no rio Lima, classificadas como Conjunto de Interesse Nacional (CIN), tendo-lhes sido atribuída a designação de “tesouro nacional”, segundo decreto publicado em Diário da República, em junho de 2021.
Do conjunto, a descoberta da primeira piroga remonta a 1985 e a última a 2023.
As peças encontram-se no Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática (CNANS), em Lisboa.