Um ex-oficial do exército russo, que fugiu para o México alguns meses depois da invasão à Ucrânia, concedeu uma emotiva entrevista à BBC e ao The Guardian. Konstantin Yefremov disse que testemunhou vários casos de brutalidade, tortura e ameaça por parte dos militares, e garantiu mesmo que se arrepende de não ter fugido antes.
Yefremov conta que serviu durante 10 anos e operava na Chechénia, quando afinal foi transferido com a sua unidade para a Crimeia, até então para participar em exercícios militares.
Dias depois ocorreu a invasão, e o ex-oficial acredita que nem mesmo os oficiais seniores sabiam. “Na altura ninguém achava que haveria um conflito”, disse.
Na sequência da invasão, a sua unidade foi transferida para a região ucraniana de Zaporíjia, e foi onde Yefremov começou a ver cenas de torturas. “Eu vi pessoalmente as nossas tropas a torturar soldados ucranianos. Sinto alívio por poder finalmente falar sobre o que vi”, lembra.
Yefremov admite que presenciou os seus superiores torturas três militares ucranianos durante vários dias e noites, e que os comandantes “perderam a cabeça” quando souberam que o militar capturado era um sniper, e ameaçaram violá-lo, gravar tudo e enviar o vídeo para a namorada dele.
O ex-oficial também lembra que viu um oficial russo assassinar um militar ucraniano vendado e a sangue frio. “O coronel apontou uma arma à cabeça do prisioneiro e disse ‘vou contar até três e disparar’. Ele contou e depois disparou”.
Yefremov disse que tentou fugir da Ucrânia quando percebeu que ia mesmo ser enviado para a guerra, e chegou a abandonar a unidade para tentar regressar à Chechénia. Mas ficou no local após as ameaças de prisão por desertar, o que hoje julga como um erro. “Devia ter feito um esforço maior para fugir”.
“Peço perdão a todo o povo ucraniano por ter entrado nas suas casas com uma arma. Devia ter escolhido a prisão em vez de ir para a Ucrânia, mas naquele momento fui um cobarde“.
Em maio, Yefremov conseguiu regressar para a Rússia e ficou marcado como traidor. Depois de meses sem conseguir arranjar trabalho, conseguiu ajuda do Gulagu.net, um grupo de direitos humanos que ajuda soldados a escapar da Rússia. O ex-oficial acabou por seguir para o México.