O conselheiro nacional Paulo Cunha, o ex-candidato à liderança Miguel Pinto Luz ou os antigos deputados Miguel Morgado e José Eduardo Martins criticaram hoje o apelo do presidente do PSD para que se suspenda o calendário interno no partido.
Na quarta-feira à noite, Rui Rio apelou ao Conselho Nacional, que se reúne hoje a partir das 21:00 em Lisboa, que não marque já as diretas e o Congresso – como estava previsto e com uma proposta de calendário enviado horas antes pela própria direção – e só o faça depois de se esclarecer se o próximo Orçamento do Estado é ou não aprovado.
Em declarações à Agência Lusa, Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara de Famalicão, que encabeçou a segunda lista mais votada ao Conselho Nacional no último Congresso e lidera a distrital de Braga, salientou que, do ponto de vista formal, a Comissão Política Nacional tem o poder de retirar da ordem de trabalhos os pontos relativos ao calendário eleitoral, uma vez que foi este órgão o autor da proposta, limitando-se a manter o da análise da situação política.
Sobre a substância da matéria, Paulo Cunha, que estará na reunião de hoje à noite, pede a Rui Rio que esclareça o que mudou “em algumas horas” para fazer este apelo, depois de a própria direção ter proposto um calendário eleitoral que passava por diretas em 04 de dezembro e Congresso entre 14 e 16 e janeiro.
“Na minha opinião não faz sentido [suspender o processo]. Em relação a orçamentos anteriores, não vejo aqui nenhuma ‘nuance’ em relação ao passado, nem da parte do PCP nem do PS. A não ser que o presidente do PSD tenha informação que eu não tenho e é preciso que a explique ao partido”, referiu.
Paulo Cunha recordou que a marcação de eleições cabe ao Presidente da República, considerando que “obviamente não será indiferente” ao facto de o PSD poder estar em disputa interna ao escolher a data.
“Acresce que as eleições diretas no PSD são um momento de galvanização e mobilização no PSD, não vejo que o PSD saia prejudicado com isso, caso existissem legislativas”, defendeu.
Numa nota enviada à Lusa, o ex-candidato à liderança do PSD Miguel Pinto Luz foi mais crítico.
“Não posso crer que o PSD condicione a sua agenda e vida democrática pelos amuos negociais da geringonça. Amuos a que o país já assiste há seis anos. Em vez de esperar pelos números políticos gastos do Dr. Costa, o PSD precisa de imprimir atividade, de liderar”, afirmou, defendendo que “este é o tempo de clarificação e confronto democrático do PSD”.
Também o antigo deputado do PSD Miguel Morgado considerou “absurdo” suspender as eleições internas no partido devido a uma crise política “que não existe” e, questionado se poderia apoiar uma candidatura (ainda não anunciada) do eurodeputado Paulo Rangel, respondeu afirmativamente.
“Vamos esperar que os candidatos se apresentem. O que posso dizer é que apoio uma candidatura que seja claramente oposta à estratégia de Rui Rio que foi seguida, acho que o Paulo Rangel nunca seguiria a mesma estratégia”, disse à Lusa o antigo assessor político de Pedro Passos Coelho.
Morgado considerou que “não faz qualquer sentido” o PSD alterar o seu calendário eleitoral interno quando “não há crise política nenhuma e, na eventualidade de haver, a responsabilidade recairia toda sobre António Costa”.
“A vida interna do PSD segue os trâmites de qualquer partido, não há crise política nenhuma, mesmo que houvesse isso não comprometeria em nada a capacidade do PSD de disputar eleições num calendário que o Presidente da República escolheria”, disse, recordando que há outros partidos com processos eleitorais em breve.
O antigo deputado, que sempre foi muito crítico da direção de Rui Rio e ponderou uma candidatura em 2018, considerou que o presidente “não sai bem” com esta proposta.
“Não há nenhum drama, não vale a pena inventar problemas onde não existem. Vamos discutir o que interessa, marcar eleições como estava previsto e apresentarem-se todos os candidatos, fazer um debate democrático. Isso é o que interessa ao PSD”, apontou.
Numa publicação na rede social Facebook, o antigo deputado e secretário de Estado social-democrata José Eduardo Martins acusou o presidente do PSD de “falta de coragem”.
“Que penosa esta falta de coragem. Confesso que ainda me surpreende a maneira como se tenta agrafar à cadeira… É mesmo a possibilidade de uma crise política que obriga o PSD à clareza desde há muito. O que deve acontecer é exatamente o contrário, as eleições internas devem acontecer na primeira oportunidade para que o PSD possa mesmo vir discutir o rumo do país”, defendeu.
À Lusa o deputado e ex-líder da JSD Pedro Rodrigues já tinha acusado hoje de manhã o presidente do PSD de querer “suspender a democracia interna” no partido e de funcionar como “muleta do PS”, ajudando a “dramatizar uma crise política artificial”.