Estamos todos (ou quase todos) tristes. A ‘raposinha’ de Paredes de Coura que ia jantar ao Freitas Bar nunca mais deu sinais de vida, assumindo-se já o pior em relação à sua existência por entre este mundo.
José Luís Freitas, proprietário do Freitas Bar, em Romarigães, Paredes de Coura, conhecido colaborador de vários órgãos de comunicação locais, como o Notícias de Coura, lembrou hoje nas redes sociais que se cumpre mais ou menos um ano desde que o animal começou a aparecer no bar com ar esfomeado.
O MINHO deu conta, em diversas ocasiões, dos momentos de convívio que “Zé Luís”, como é conhecido, partilhou com a raposa e com os seguidores das suas redes rociais, ao longo de vários meses.
Agora, volvido um ano dos primeiros encontros, falámos com o empresário que, com a devida ressalva da compreensão pela prática, crê que o seu amigo foi atingido pela ação de caçadores, não acalentando qualquer esperança de o voltar a ver.
Mas vamos à ‘estória’ que fica. “Zé Luís” recorda quando o animal se acercou de umas mesas de esplanada, em outubro de 2021, dando ares de quem tinha fome. Foi-lhe colocado um prato com comida que a raposa não negou, e assim nasceu uma amizade que se prolongou durante alguns meses.
“A relação foi algo em crescendo, começou com a estranheza em relação à visita, misturada com um pouco de receio. Afinal de contas, era um animal selvagem”, começa por enunciar “Zé Luís”, em declarações, esta tarde, a O MINHO.
“Depois [a relação] foi crescendo, como bem escreveu Exupéry [autor do livro O Principezinho], e rapidinho foi-me cativando a pontos de já esperar com ansiedade as suas visitas e ficar triste quando ele ia embora”, prosseguiu, com feição misturada de saudade e resignação.
É que no final de outubro de 2021, ao fim de quase 20 dias de visitas constantes, “Zé Luís” ficou a saber que a até então raposa era afinal um raposo. “É um cavalheiro, um raposo cada vez mais confiado, mais sociável e mais brincalhão”, escreveu, na altura, o proprietário do Freitas Bar, através das redes sociais.
E aos sábados, com o espaço repleto para habituais concertos, o ‘raposinho’ regressava a tempo de ser alimentado por curiosos, que até já se deslocavam propositadamente para ver o animal selvagem a interagir com o ser humano e com o meio doméstico.
O raposo gostava mesmo muito de salsichas: “Devora-as”, disse José Luís Freitas. Mas não era “lá grande apreciador de arroz de frango”. E, de vez em quando, lá bebe uma ‘pinguita’ de cerveja, oferecida pelos clientes.
Mas os primeiros meses do ano de 2022 trouxeram outros dissabores que não só a invasão russa e a crise energética e económica. O raposo deixou de visitar o bar. Deixou, também, de ser visto em qualquer parte, ele que até tinha um sinal bem distintivo (falta de uma parte do rabo), que lhe foi proporcionado por laços de caçadores.
“Sabe… Os animais são equilíbrio, são afecto… são dádiva. Aliás, eles dão sempre mais do que aquilo que recebem. Arriscaria mesmo dizer que, nesta questão, o homem será mesmo o pior dos animais”, argumenta, para depois expor aquilo que acha que aconteceu ao raposo.
“Provavelmente terá sido vítima de um desses laços que alguém vai distribuindo por aí e que fazem vítimas ao acaso ou então de algum tiro cego de uma qualquer espingarda caçadeira. Infelizmente é assim a vida (ou a morte) de um animal selvagem e sem dono”, considerou.
“Zé Luís” ressalva, no entanto, e numa reflexão com maior profundidade, entender que “não é agradável a nenhum criador ver as suas aves caçadas por uma qualquer raposa”, afirmando, portanto, que “é difícil esta convivência entre o selvagem e o doméstico”.
Sempre contestada a nível popular, em Portugal é permitida a caça à raposa (Decreto-Lei nº 202/2004), tanto através de batida como com uma matilha de até 50 cães ou à paulada.