Os bastidores, os motores e os fãs da rampa da Falperra

Uma outra visão sobre a mítica ‘rampa’ de Braga

Escuta-se no sopé do Sameiro o estampido mecânico dos motores. Apressados, fãs da modalidade rumam pela berma da estrada, para a icónica prova de Braga, a rampa da Falperra. Condutores profissionais estão alinhados no parque de estacionamento aguardando sinal para acelerar até à meta. O público recolhe-se nas margens da estrada, eufórico com a força dos cavalos que puxam as máquinas conduzidas por desportistas de alta-competição. O risco e a adrenalina escorrem pelo rosto dos fanáticos do automobilismo, durante os segundos tremendos que separam o som da fúria.

Espectadores albergam-se no mato do parque de lazer da rampa da Falperra, enquanto aplaudem, merendam, fumam e até fotografam. Os mais deslumbrados e os menos temerosos crescem para o interior da pista, em manifesto regozijo. Na verdade, os resultados desportivos pouco interessam, porque o primeiro dia da prova da Falperra foi para treinos e o público foca-se em desfrutar o espectáculo.

Foto: Tomás Guerreiro / O MINHO
Foto: Tomás Guerreiro / O MINHO
Foto: Tomás Guerreiro / O MINHO
Foto: Tomás Guerreiro / O MINHO

O francês Geoffrey Schatz foi o piloto com o melhor tempo do dia, na 4ª categoria da prova. Alcançou 3 quilómetros, num 1 minuto e 03.683 segundos. Reto Meisel fez o hattrick de tempos mais rápidos na 3ª categoria da competição, com 1 minuto e 16.075 segundos. Por causa do horário de pôr-do-sol a 2ª categoria de veículos, só irá percorrer as três voltas de treino à pista, na manhã antes da corrida. Na 1ª categoria, o suíço Ronnie Bratschi registou o tempo mais rápido do dia com 1 minuto e 15.977 segundos.

Na véspera dos treinos, O MINHO esteve à conversa com os pais de Ronnie Bratschi, que colocaram em pratos limpos as pretensões do filho para a etapa do campeonato europeu de montanha. “Vencer é o principal objetivo e o Ronnie está totalmente focado”, afirmou Jolanda Bratschi, mãe do piloto Suíço de 28 anos, que há um ano e meio viu o filho retirado do campeonato europeu de montanha, após sofrer um acidente. Este ano, Ronnie está de volta com o seu Mitsubishi Evo 7 RS, de “valor incalculável”.

Foto: Tomás Guerreiro / O MINHO

“O Ronnie já se foi deitar precisa de estar concentrado para o dia de amanhã. Vamos com ele, sempre que podemos acompanhámo-lo para as provas. Se quiser ver o carro dele, está aqui”, acrescenta Jolanda, antes de pousar, com o marido, pai do atleta, para a fotografia.

O rali da falperra não é composto só por pilotos. A chave de ouro para o pódio, além de muito empenho, é uma logística caríssima. Só a comitiva Suíça que integra Ronnie, envolve mais de uma dezena de pessoas, como treinadores, familiares, mecânicos e motoristas, somam-se carros, autocarros e equipamentos.

 

Na plateia, há espaço para famílias, merendas, piqueniques e até descanso, apesar do barulho gritante dos automóveis e do odor a borracha e a combustível. O sossego da natureza, a luz do sol, e a vista aprazível sobre a cidade provoca uma certa acalmia refletida em casais com bebés de colo, que passeiam pela mata enquanto observam a corrida contra o tempo.

Há, também, espaço para diversão, excessos, infantilidades e libertação. Nas bancadas algum álcool e, claro, algumas drogas. Mas nada que comprometa o regular funcionamento da prova, supervisionado por seguranças privados e diversos agentes da PSP.

Foto: Tomás Guerreiro / O MINHO
Foto: Tomás Guerreiro / O MINHO

A falperra é como a febre: aquece e contagia. Propaga-se de mãe para filho, de amigo para amigo. E, nem as muletas, fruto de um acidente de trabalho, impedem Pedro de, com 22 anos, ir ver os carros à meta de partida da competição FIA Hill Climb Masters. Vive em Nogueira, não aprovou a ideia de ser fotografado, mas explicou a O MINHO o seu carinho pela competição.

“Já é tradição vir à rampa, a gente mora aqui à beira”, afirma Pedro ao jornal. “Da primeira vez que ele veio tinha dois anos”, conta Aurora, mãe de Pedro, que acompanha o filho durante a descida da encosta.

“Este ano não comprei bilhete, não posso ir para o monte” acrescenta entristecido e com a mobilidade condicionada, enquanto aponta os desportistas favoritos “Faggioli, Merli e José Correia”.

Jorge Braga e Rui Silva. : Tomás Guerreiro / O MINHO
Foto: Tomás Guerreiro / O MINHO
Foto: Tomás Guerreiro / O MINHO

Rui Silva e Jorge Braga arrastam para a falperra os filhos e os sobrinhos: “Tenho 45 anos e já venho ver a rampa há muitos e muitos anos, comecei com o meu pai, quando tinha o tamanho aqui do meu sobrinho e é um gosto muito grande, para quem gosta de carros e de conduzir, claro”.

O dois amigos acompanhados pela família chegaram às 10 da manhã ao recinto, mas no último dia da competição planeiam madrugar, para poder aproveitar a prova ao máximo. “Já que não é permitido conduzir rápido, ao menos assiste-se. Sempre podemos observar as técnicas que os pilotos usam”, adiantou-se Jorge, em relação ao resto do grupo.

Foto: Tomás Guerreiro / O MINHO
Foto: Tomás Guerreiro / O MINHO
Foto: Tomás Guerreiro / O MINHO
Foto: Tomás Guerreiro / O MINHO
Foto: Tomás Guerreiro / O MINHO
Foto: Tomás Guerreiro / O MINHO

O capitão da equipa Irlandesa, Billy White, deambula pelo terreno dos adeptos, acompanhado por dois mecânicos “viemos para ganhar”. Estão felicíssimos e dizem que o dia de treino lhes correu bem. Competem no nacional Irlandês, e estão inscrito na terceira e quarta categoria da prova. “Amanhã vais ver bandeiras irlandesas, podes escrever” atira a autoconfiança do capitão.

Foto: Tomás Guerreiro / O MINHO

“Não há nada parecido com isto em Irlanda. É uma atmosfera fantástica. Nunca tínhamos visto algo assim, o dia foi apenas de treinos, a qualidade é muito alta e as multidões são preciosas” a concordância, quanto ao lado festivaleiro da rampa da falperra é transversal a todos os que se mobilizam para a competição.

 
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