Reina a calma antes da hora de almoço. Dentro de uma hora e meia, mais coisa, menos coisa, a confusão estará instalada, as mesas cheias, os pedidos a chegarem à cozinha em catadupa e os pratos a saírem velozes, quentes e gulosos. Mas, por enquanto, Carla Barroso, uma das três irmãs à frente do Arcoense, em Braga – negócio que começou com o pai, Joaquim Barroso, há 34 anos –, termina os doces com a celeridade do costume, mas sem grandes pressas.
A máquina está bem oleada e a manhã ainda vai a meio.
“Comecei a trabalhar aqui com 15 anos. Eu e as minhas irmãs. A Filipa é cozinheira e a Sónia está na sala com o meu marido. Mais negócio familiar do que este não há”, ri Carla, que apesar de ter estado sempre ligada à pastelaria, também dá uma mãozinha na sala quando é preciso.
Esta, vazia e para já sem clientela (ao almoço chegam a servir cerca de 70 refeições), é possível admirar com outros olhos.
Os nichos no teto e a sua iluminação baixa, a garrafeira bem composta, o sofá semicircular, as toalhas engomadas sobre as mesas e as fotografias de edifícios emblemáticos da cidade nas paredes fazem deste restaurante uma referência para quem quer comida tradicional portuguesa, consistente e bem feita, num espaço bonito.
“Preocupamo-nos muito com a qualidade dos produtos que servimos no nosso restaurante, por isso é que algumas das carnes são produzidas por nós, como o nosso porco bísaro e as nossas galinhas pedrês. Não só para nos destacarmos e sermos diferentes, mas também para termos um maior controlo sobre o que servimos”, explica Carla, acrescentando que os animais vêm de uma quinta que possuem na Póvoa de Lanhoso.
Quanto ao cabrito, muito afamado por estas bandas, é o produtor que o traz da Serra da Estrela.
“O cabrito pingado é um dos nossos pratos mais conhecidos. Assa no forno sobre uma grelha e a gordura cai em cima do arroz”, conta a dona.
A acompanhá-lo, para a mesa vêm ainda batatas assadas com castanhas e um salteado de grelos caseiro.
“Mas temos outros pratos que também saem muito bem, como o nosso pica no chão, disponível todos os dias, a costela mendinha e muitos pratos de peixe”.
Neste campeonato, brilham o arroz de polvo, a cataplana de robalo, os peixes frescos, como o cherne ou o rodovalho, o bacalhau na brasa, demolhado na casa, e o bacalhau à Braga, especialidade da terra.
Todos com clientes fiéis, sendo que muitos deles aparecem por aqui desde a abertura do restaurante, nos finais dos anos 80. Outros, curiosos com a fama do lugar, vêm tirar as teimas e perceber se a comida é tão boa quanto dizem.
Uma refeição no Arcoense ronda uma média de 40€ por pessoa com vinho incluído.
Posto isto, de Tony Carreira ao ex-ministro da Economia Pedro Siza Vieira, de Joana Vasconcelos a Ruben Amorim, de Francis Obikwelu ao actor brasileiro Reynaldo Gianecchini são muitos os famosos que por aqui já passaram.
“É normal que apareçam por aqui. É muito costume alguns empresários de Braga, por exemplo, reservarem mesas no Arcoense quando querem mostrar boa comida tradicional portuguesa que nunca falha”, refere a pasteleira.
“As nossas receitas são de família, passam de geração em geração, porque isto já vem muito de trás, a minha tia era cozinheira e a minha bisavó também”.
A manhã começa a aproximar-se perigosamente do meio-dia. Os doces de Carla estão prontos e começam a encher a vitrina do balcão ao fundo da sala.
Há claudinos, uns folhados com ovos-moles, encharcada de pinhões, aletria de ovos, pudim Abade de Priscos, tarte de laranja com doce de leite, bolo de coco com ovos-moles, pão-de-ló com leite-creme e ovos-moles torrados e bolo de chocolate com suspiros. Cada um mais tentador do que o outro.
Go!
Rua Eng. José Justino de Amorim, 96
4715-023 Braga
Telefone: 253 278 952
Aberto de segunda a sábado das 12:00 às 15:00 e das 19:30 às 22:00. No domingo abre entre as 12:00 e as 15:00.