“A tensão sobe, escassos segundos parecem uma eternidade, até que, a uma distancia que nem queria acreditar, começo a ver o dorso a sobressair no mato”. Quem o afirma é Carlos Pontes, fotógrafo e videógrafo de natureza natural de Ponte da Barca e um dos mais bem informados ‘seguidores’ das alcateias de lobo-ibérico do Parque Nacional Peneda-Gerês.
Desta vez, enquanto filmava ‘lutas pelo território’ entre duas raposas, capturou o momento em que um imponente macho de lobo-ibérico se aproximava, ficando a escassos cinco metros de distância da criatura.
O colaborador da National Geographic conta que o lobo estava “super calmo”, mas que acabou por se afastar, muito provavelmente repelido pelo reflexo da lente.
Carlos Pontes, devidamente camuflado tanto a nível visual como olfativo, ia registando as escaramuças entre as pequenas raposas quando, sem que nada o fizesse prever, uma delas deu um “salto com molas de trampolim, andou 10 metros e sentou-se a apreciar”.
“Automaticamente pela reação e expressão da raposa percebi que ia entrar em palco o artista mais esperado”, antecipa Carlos, enquanto esperava, sempre por detrás da lente, “ver o primeiro sinal de pelo”.
O momento provocou subida de tensão no fotógrafo, onde “escassos segundos parecem uma eternidade.
“Até que, a uma distancia que nem queria acreditar, começo a ver o dorso a sobressair no mato. Super calmo a cheirar o chão caminhava lentamente na minha direção”, descreve, reconhecendo a subida da adrenalina.
“No monitor tinha apenas meio lobo no enquadramento, sentia os passos ténues, mais duas passadas e estava literalmente em cima de mim. Sigilosamente, mexendo apenas o mínimo para fazer um seguimento suave do animal e sem outra preocupação que não o foco no momento e na imagem, o lobo entra em zona não foco, ou seja, a menos dos 5 metros de distância mínima de foco que a lente que usava permite”, descreve.
“Neste momento a minha ação para, o lobo para e o tempo também. Segundos eternos, via naquele momento com uma definição incrível o brilho intenso dos olhos de um lobo ibérico em pleno estado selvagem”, recorda.
Afastado pelo reflexo da lente, o lobo acabou por afastar-se, “para uma distancia de foco (risos) para o poder congelar no momento desta fotografia”.
“Um magnífico macho de lobo ibérico que faz parte de uma das sequências de vida selvagem que mais prazer me deu filmar até hoje”, concluiu Carlos Pontes.
Quem é Carlos Pontes?
Um apaixonado pela fotografia de fauna selvagem. Natural de Ponte da Barca, desde criança que tem contacto com o Parque Nacional Peneda-Gerês (PNPG), não só com a área inserida em Ponte da Barca mas também em Arcos de Valdevez e Melgaço, zonas com as quais mais se identifica.
É hoje considerado um autor diferenciador dos animais e paisagens do PNPG. Esteve sempre em contacto com serras e animais, enquanto se formou em design e buscou conhecimentos em biologia. Com grande habilidade técnica no mundo da natureza e fotografia, estuda teoria e prática sobre as áreas e espécies que fotografa.
Venceu alguns prémios em concursos nacionais de fotografia, colaborou com documentários de vida selvagem transmitidos pela televisão portuguesa e colabora em publicações da National Geographic
Mais recentemente, colaborou como câmara no novo projeto “DEHESA – el bosque del lince” do aclamado produtor e realizador de filmes de natureza, Joaquin Gutierrez Acha.
Esta produção, sobre sobre Portugal e Espanha é da autoria de um dos melhores realizadores da Europa onde só entram dois portugueses: Carlos Pontes e João Cosme.
“Conhecer Carlos Pontes é perceber que o seu ADN é marcado pelas serras e os animais, particularmente o lobo-ibérico (canis lupus signatus)”, diz a biografia que o autor partilhou com O MINHO.
Desde os nove anos que vê lobos em estado selvagem, mas desde os vinte anos que começou a mostrar mais interesse. Os lobos são, hoje, a sua “principal fonte de inspiração”.
Através de exposições, Carlos Pontes quer ajudar a valorizar o lobo como “um elemento crucial não só da biodiversidade regional, mas também da identidade cultural e tradição populares”.
“Desmistificar a falsa ideia do lobo mau pode permitir que as entidades governativas da região vejam na sua imagem e no rico património cultural a ele associado no contexto ibérico uma mais valia para o desenvolvimento económico e turístico”, refere o autor.