O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, anunciou hoje que nenhum dos cerca de 30 portugueses no Gabão pediu apoio para deixar o país, na sequência de um golpe militar na quarta-feira.
“Houve muitos contactos com grande parte da comunidade portuguesa, é uma comunidade pequena na ordem das 30 pessoas, a maior parte delas já foi contactada, e até agora não houve manifestações de vontade de sair”, disse João Gomes Cravinho, em declarações à Lusa e RTP no final de uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE), em Toledo (Espanha).
O ministro dos Negócios Estrangeiros português acrescentou que continuarão os contactos com os portugueses no país através da embaixada em São Tomé e Príncipe ou através da embaixada de Espanha no Gabão.
João Gomes Cravinho considerou que, apesar de ser um golpe militar “a situação é muito diferente” daquela que aconteceu no dia 26 de julho no Níger.
No Gabão “houve eleições claramente falsificadas, com resultados que não têm credibilidade, e houve um golpe” na sequência da rejeição dos militares em compactuarem com a apelidada ‘dinastia gabonesa’, uma vez que o Presidente desde 2009, Ali Bongo, sucedeu ao pai, Omar Bongo, que estava no poder desde 1967.
Contudo, Portugal condena “qualquer golpe de Estado, golpe militar”, referiu o ministro com a pasta da diplomacia.
Na quarta-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros referiu que a comunidade portuguesa era composta por cerca de meia centena de pessoas, mas hoje esclareceu que, destas, apenas cerca de 30 estão com a inscriação consular ativa.
No Sahel a situação tem outros contornos, já que o Níger é o terceiro país “sob um regime militar” nos últimos anos, depois do Mali e do Burkina Faso.
João Gomes Cravinho considerou que nesta questão Portugal “é uma voz ouvida”.
“No que toca a África, em particular desta região da África Ocidental e do Sahel, nós temos um diálogo permanente não só com os países de língua portuguesa, como também com outros países da região e isso permite trazer à mesa informações e análises que não estão à disposição da maior parte dos países europeus”, completou.
Portugal, sustentou o ministro, também é visto como “uma voz moderada, mais próxima dos africanos, que não é propriamente amiga de soluções fáceis”.
“A situação é extremamente complexa e devemos estar muito desconfiados em relação a soluções fáceis”, advertiu.
Na quarta-feira, um grupo de militares anunciou ter tomado o poder no Gabão, pouco depois de a comissão eleitoral ter declarado a vitória de Bongo nas eleições presidenciais e legislativas de dia 26, que a oposição considerou fraudulentas.
Os golpistas afirmaram que o escrutínio não foi transparente, credível ou inclusivo e acusaram o Governo gabonês de governar de forma “irresponsável e imprevisível”, prejudicando assim a “coesão social”.
No final do dia de quarta-feira, os líderes do golpe de Estado anunciaram a nomeação do general Brice Oligui Nguema, comandante da Guarda Republicana do país, responsável pela segurança do próprio chefe de Estado, como novo “presidente de transição”.
O golpe de Estado no Gabão – uma das potências petrolíferas da África subsaariana – é o segundo a ocorrer em pouco mais de um mês no continente, depois de o exército ter tomado o poder no Níger, em 26 de julho.
O Gabão junta-se, para já, à lista de países que tiveram golpes de Estado bem-sucedidos nos últimos três anos: Mali (agosto de 2020 e maio de 2021), Guiné-Conacri (setembro de 2021), Sudão (outubro de 2021) e Burkina Faso (janeiro e setembro de 2022).